Sem nenhum "preste atenção" que o alertasse, Cartola viu os sonhos triturados pelo moinho em que o mundo se transformou a partir da juventude. A mãe se foi e a noite chegou trazendo todos os anjos e os demônios que brincariam de gangorra até o fim de sua vida, em 30 de novembro de 1980, aos 72 anos de idade, consumido por um câncer. Apenas seis anos antes, já sendo Cartola, ele havia lançado seu primeiro disco - a grande redenção da história ao homem que submergiu por anos a sensibilidade minada nas veias para viver como porteiro, contínuo, pedreiro, lavador de carros, vigia de edifício e pintor de paredes.
O samba, percebe-se agora, foi pouco. E com todo o respeito à entidade centenária que tirou Cartola das ruas por mais de uma vez, chamar seu Angenor de Oliveira de sambista soa reducionismo. "Não dá mais para ler Cartola restringindo sua obra ao samba e ele, ao título de sambista. Muito além disso, Cartola era um poeta", diz a cantora Fabiana Cozza, uma das curadoras de um projeto do Itaú Cultural que pode trazer uma dimensão mais justa, guardada pelo tempo.
A Ocupação Cartola, a 31ª de uma série iniciada em 2009, vem sendo preparada há seis meses. Os pesquisadores foram às ruas, entrevistaram personagens importantes, caminharam pelo universo do compositor. A curadoria compartilhada, que tem Fabiana como convidada, envolve os Núcleos do Itaú Cultural de Música e de Enciclopédia e conta com a consultoria de Nilcemar Nogueira, neta e estudiosa de Cartola. "Esse projeto surge em um momento muito oportuno, em que estamos percebendo a importância da dignidade e da fidelidade às crenças", diz Nilcemar.

Nos dois primeiros discos de sua carreira, de 1974 e 1976, foram lançados graças à chancela da Discos Marcus Pereira (que agora pertence ao acervo da gravadora Universal).

Recém-lançada, a caixa "Cartola - Todo Tempo Que Eu Viver" agrupa, em três discos, a obra que o compositor produziu entre 1967 e 1976.

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