A tradição das marchinhas e o clima de brincadeira prometem dar o tom do Carnaval de rua em Londrina. Popular, democrática, acessível e plural, a festividade pede passagem para contagiar os foliões londrinenses que já se programam para o plantão deste sábado (27) nos ensaios da escola de samba, que dão início à festa que se encerra na Quarta-Feira de Cinzas (14) do próximo mês.

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Em Londrina, a programação oficial conta com as atividades em cinco dias seguidos. Os ensaios da escola de samba Explode Coração já estão fervendo na Vila Ideal. Já as apresentações infantis e para adultos serão no Centro Social Urbano, na Vila Portuguesa. Neste local, moradores do entorno e vizinhos solidários ainda se mobilizam para barrar o evento, temendo a proporção que pode ter.

A menos de 15 dias do calendário oficial, um abaixo-assinado circula no bairro como uma contestação para que o evento seja em outro local. Uma semana após a confirmação CSU, em 12 de janeiro, o vereador Ailton Nantes (PP) formalizou um pedido ao prefeito Marcelo Belinatti (PP) para comprovar a viabilidade do espaço. Ainda não houve resposta.

A comerciante e moradora do local, Zelaide Oliveira, 65 anos, solidarizou-se com suas vizinhas que não querem o Carnaval. "Briga, confusão e sujeira. Eu até vendo mercadorias, mas não compensa porque é muita bagunça", argumenta.

O vendedor Jonas Santos, 41 anos, relata que entre 80 e 90% da população impactada é contrária à realização da festa no local popularmente conhecido por "Buracão", principalmente pelos excessos cometidos pela maioria dos frequentadores dos mais recentes eventos. "É muita falta de respeito. Não dá para acreditar que será organizado. Aliás, olha o matagal que está por tudo. Mas só vão limpar mais perto do evento, se acontecer aqui", aponta.

Autônomo, Matheus Ceribelli, 25 anos, recorda que a limpeza dos eventos recentes deixou a desejar. "Até os alunos da Guarda Mirim ajudaram na limpeza e Prefeitura só veio depois de muita reclamação".

Morador das antigas do bairro, Vanderson Rodrigues, 54 anos pensa que será cansativo para eles que ali residem. "Aqui é um lugar de lazer, mas não para uma festa dessa proporção. O bang-bang vai ser de três dias e vamos ficar sem opção. Sem contar que acabam com o gramado, pois estacionam também os carros e são indisciplinados", diz.

Para o motorista Vinícius Souza, 34 anos, parte da reclamação é fruto de preconceito e insatisfação. "Não concordam com o uso da verba pública usada para esse fim. Mas tem que ter Carnaval. Eu sinceramente não consigo ouvir de onde moro, a umas três quadras daqui, quem é do entorno é que reclama e sofre", afirma.

TAMBORINS AQUECIDOS

A agenda do Carnaval de Londrina é formada pelos projetos aprovados e patrocinados pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC), por meio de recursos do edital nº 006/2023 do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic). O valor investido para o ano de 2024 é de R$ 192.950,00.

São novidades desta edição: a volta das escolas de samba, a atração infantil com apresentação da Banda Cia CLAC de Palhaços e o uso do Centro Social Urbano, local escolhido para o Bloco Bafo Quente, reconhecido por alegrar o londrinense nesse período.

Entre prós e contras, dá para perceber uma parte da população estimulada para o Carnaval, enquanto outra reclama. Parece que Londrina, nos últimos anos, ficou mais ranzinza do que nas décadas em que a folia tomava conta das ruas e avenidas, o que ocorre é que o Carnaval cresceu.

FOLIÕES QUEREM BOTAR O BLOCO NA RUA

O coordenador do Bloco Bafo Quente, Guilherme Rossini, considera a novidade do espaço uma experiência que deve ser vivenciada. Focado na alegria para o público, explica que o grupo está motivado. "O bloco trabalha inicialmente a música brasileira fazendo um resgate de sambas, marchinhas e também de músicas contemporâneas para contemplar o público de todas as idades"

Desde 2006 em atividade e presente no carnaval a partir do ano de 2010, o BBQ, como também é reconhecido, nesta edição também terá a apresentações preparadas especialmente para o público infantil por meio das apresentações da Cia CLAC de Palhaços . "Sim, uma vez que existe um público em formação e nossa festa é familiar, com foco na manifestação cultural, tem que haver a folia destinada às crianças", ratifica.

O produtor destaca que a cada ano a energia do público surpreende, bem como a crescente adesão. "A cada ano mais pessoas querem acompanhar o bloco e todo esse prestígio está em nosso planejamento porque requer parceria com os órgãos de fiscalização para que a festa seja do início ao fim só de alegrias.

Rossini comenta que é de interesse dos organizadores minimizar os impactos e eventuais transtornos à vizinhança. "O lixo, por exemplo, sempre contratamos uma empresa e ela precisa de tempo hábil para fazer o recolhimento. A população, por sua vez, precisa reconhecer que é preciso o mínimo de tempo para fazer a limpeza corretamente".

A explicação faz sentido quando se sabe que, no ano passado, moradores foram fotografar o lixo da festa carnavalesca no Jardim Botânico antes do horário previsto para a limpeza pública.

Para o grupo que já teve como cenário e montou a sua estrutura em locais como o Zerão e a Praça Nishinomiya, o ponto escolhido para a temporada de 2024, o Centro Social Urbano, localizado na Vila Portuguesa, será uma nova experiência. "A Paixão de Cristo e a Parada LGBT têm sido lá. Assim como algumas pessoas reclamam dos investimentos no Natal, há quem reclame do Carnaval porque não gosta - e tem o seu direito de não participar", pensa.

Por outro lado, ele destaca a relevância de outros eventos. "A exemplo da Exposição Agropecuária, que é um evento importante no calendário da cidade e tem reflexos positivos em hotéis, restaurantes e todo o turismo de Londrina, o Carnaval também traz renda. E com incentivo e profissionais da área, pode crescer cada vez mais e tornar-se também uma referência cultural", reflete.

O Coordenador de Produção do projeto, Bruno Gehring também considera que pelo porte da cidade, o ideal seria haver mais apoio à manifestação cultural. "Se olharmos para outras cidades de mesmo porte, vemos que Londrina tem boa aceitação de público, mas o investimento é muito inferior".

E acrescenta: "A cidade deveria ter mais eventos como esse, Em Maringá, a prefeitura realiza durante todo o ano grandes eventos abertos para a comunidade, só ano passado lembro de ter visto Elba Ramalho, Paralamas do Sucesso e Sepultura".

O Carnaval de Londrina cresceu em relação às últimas décadas, hoje, cerca de 30 mil foliões se reúnem para brincar nos espaços públicos
O Carnaval de Londrina cresceu em relação às últimas décadas, hoje, cerca de 30 mil foliões se reúnem para brincar nos espaços públicos | Foto: Gustavo Carneiro/ Arquivo Folha

O CARNAVAL DOS CARNAVAIS

O Secretário de Cultura Bernardo Pellegrini faz uma verdadeira reverência ao Carnaval, dada sua relevância histórica e cultural, destacando tratar-se de uma celebração da história do nosso povo. "É essa celebração que se repete a cada ano, por todos os cantos do Brasil, em cada um deles com suas características - frevo do Pernambuco, afoxé na Bahia, escolas no Rio de Janeiro, o jongo em Minas Gerais", cita.

Em relação à tradição da cidade, recorda: "Londrina produz carnaval desde os antológicos bailes do Clube Quadrado, que reunia numa sede própria na Vila Nova, a expressão da cultura negra e nos anos 70 surgiu a primeira escola de samba, a Bafo de Jibóia". Ele cita também as transformações do Carnaval até os dias atuais - assim como suas riquezas e dificuldades.

"Chegamos a ter 12 escolas de samba, dois grupos que desfilavam no Autódromo Internacional Ayrton Senna. Era a alegria na pista, com transmissão pela TV e o desfile das campeãs. Esse modelo sofreu desgastes, entramos numa entressafra com carnavais com marchinhas na praça e finalmente o carnaval dos blocos, tendência que ganhou nova potência nestes tempos de revalorização das diversidades", esmiúça.

"Uma festa do povo." É assim o cantor, compositor e mestre em música Paulo Vitor Poloni entende o Carnaval, evento reconhecido internacionalmente pela grandiosidade que representa.

"É muito importante que seja uma festa democrática, gratuita, inclusiva e que as pessoas se sintam convidadas a participar e que não façam distinção de classe social. Daí, o valor de ser realizado na rua", reflete. Poloni reconhece que o incentivo da Prefeitura e as iniciativas dos produtores valorizam a manifestação cultural e permitem que mais pessoas participem da festividade.

Hoje, o Carnaval reúne em Londrina cerca de 30 mil foliões, isso significa que a cidade também cresceu e as festas públicas, como em qualquer local, não devem ser vistas apenas como problemas.

SERVIÇO:

Programação Carnaval 2024

Ensaio aberto da Escola Explode Coração

Quando: sábado, 27

Onde: Grêmio dos Operários - Rua Tremembés, 952, Jardim Ideal

Horário: a partir das 14 horas

Entrada Gratuita

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1º Desfile da Escola de Samba Explode Coração

Quando: sexta, 9

Onde: Rua Flor de Abril, 139 - Ao lado da quadra esportiva- Vila Ricardo

Horário: das 17 às 21 horas

Entrada Gratuita

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2º Desfile da Escola de Samba Explode Coração

Quando: sábado,10

Onde: Praça do Conjunto Cafezal - entre a Avenida Abraham Lincoln e a Rua Mauro Bergonse, perto da UBS

Horário: das 17 às 21 horas

Entrada Gratuita

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3º Desfile da Escola de Samba Explode Coração

Quando: segunda, 12

Onde: Avenida Saul Elkind, 790 - em frente ao Centro Cultural.

Horário: das 17 às 21 horas

Entrada Gratuita

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4º Desfile da Escola de Samba Explode Coração

Quando: terça, 13

Onde: Rua Ângelo Gaiotto, s/n - em frente à praça do CEU.

Horário: das 17 às 21 horas

Entrada: Gratuita

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Carnaval Infantil Banda Cia CLAC de Palhaço

Domingo, 11

Onde: Centro Social Urbano - Rua Atílio Scudeler

Horário: a partir das 11 horas

Entrada: gratuita

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Bloco Bafo Quente

Domingo, 11

Onde: Centro Social Urbano - Rua Atílio Scudeler

Horário: das 16 às 20 horas

Entrada: gratuita