Trazer para a sala de aula o contexto histórico e cultural da data em si e do acontecimento é a proposta dos professores da rede municipal de ensino no que diz respeito a datas comemorativas. Ficam de fora a religiosidade, a parcialidade, bem como o apelo comercial. É o que esclarece a responsável pelo Apoio Pedagógico de História e Ensino Religioso da Secretaria Municipal de Educação, Eliane Aparecida Candoti. "A orientação dada aos professores é por uma postura imparcial e sem provocar proselitismo e sem se render aos apelos das propagandas", explica.

Assim, na escola, o Carnaval, a Páscoa, o Dia do Índio, Descobrimento do Brasil, Tiradentes, Dia das Mães, Folclore, Dia da Árvore, da Família, a Proclamação da República, Hino, Consciência Negra, entre outras, não são apenas datas fixas no calendário cronológico. Candoti exemplifica: "Na Páscoa, temos o contexto que já começa na cultura judaica e que fala de um momento de passagem de uma história de libertação de um determinado grupo". E faz pensar: "Qual a origem dos ovos? Por que ovos: Por que coelho? De onde vem a história e a cultura de envolver esses elementos nesse período? E responde: "Precisamos compreender o contexto histórico e cultural dessas comemorações", ratifica.

A professora também lembra datas importantes em que as comunidades se reuniam para celebrar a colheita próspera. "Assim como comemorações para trazer ânimo pelo enfrentamento a momentos de superação da escuridão e do frio de invernos rigorosos", detalha. "No Natal, temos uma família em processo de migração e que celebra um nascimento, trata-se de uma data simbólica e não apenas uma visão cristã do fato", pontua.

O QUE? QUEM? QUANDO? ONDE?

Em 19 de abril é lembrado o Dia do Índio. Para tratar da questão indígena, a proposta na Escola Municipal Professor Leônidas Sobrinho Porto, no Jardim Leonor, região oeste, foi simular uma escavação para mostrar que os primeiros povos brasileiros foram os povos indígenas. Assim, a professora e arqueóloga Leilane Patrícia de Lima levou artefatos, objetos, projetou slides e fez uma conversa sobre o trabalho que eles já vinham realizando.

Já na Escola Municipal Nara Manella, o resultado de pesquisas e estudos em torno do tema foi uma produção dos alunos de 4° ano, após exploração de conteúdo, sobre os povos indígenas no Brasil. A técnica utilizada foi a pintura e com material reciclável reproduziram os "vasos" que fazem parte ainda hoje das artes indígenas. A atividade teve como objetivo valorizar a cultura indígena e o trabalho foi desenvolvido pela professora regente 2, Gisele da Fonseca Ribeiro Bezerra.

De acordo com a coordenadora pedagógica da unidade, Michelle Ramos Bernardi, todos os trabalhos são contextualizados e enaltecidos com um olhar na História, as manifestações culturais e sociais por detrás da data. "Dentro de uma proposta de contextualização, os professores do Ensino Fundamental promovem pesquisas e trabalhos", explica.

A unidade fica localizada na região norte de Londrina e atende 562 alunos. "Na Educação Infantil não é uma obrigatoriedade, mas os professores podem incluir as datas na sequência didática e trabalhar o assunto por meio da contação de histórias. Um exemplo foi o Dia Nacional do Livro Infantil, em que fizemos a exploração do tema de forma a incentivar a leitura", informa a Bernardi.

No jardim Sabará, região oeste de Londrina, as datas comemorativas também possuem espaço nas salas de aula. É o caso da Escola Cecília Hermínia Oliveira Gonçalves, onde as 21 turmas divididas em dois turnos são orientadas sobre o que aconteceu, com quem, quando e onde uma data é tema de estudos.

A coordenadora pedagógica da unidade, Simoni Bolotaro recebe alunos dos jardins Columbia, Sabará , Sabará 3, Jardim Delta e até da vizinha Cambé. Ela explica que os professores de História e Geografia ficam encarregados da abordagem. "Na Páscoa, por exemplo, apresentamos as diferentes comemorações em torno da data, o seu surgimento e respeitamos as diferentes religiões, assim como transmitimos o conhecimento sobre as tradições e símbolos presentes na história. Neste ano, alunos do 3º e 4º estão produzindo um livrinho sobre os símbolos da `Páscoa", comenta Bolotaro.

Alunos durante oficina de Arqueologia: entender para respeitar  a história indígena no País
Alunos durante oficina de Arqueologia: entender para respeitar a história indígena no País | Foto: Divulgação

DATAS CONTEXTUALIZADAS COM A REALIDADE SOCIAL

Na mais antiga escola urbana de Londrina, a Escola Municipal Santos Dumont, os 170 alunos aprendem o significado das datas comemorativas. A coordenadora pedagógica da unidade, Patrícia Molina Gama, reconhece a importância do viés pedagógico e assim as celebrações são tratadas. "No caso da Páscoa, aprendem que a data não se resume a coelho e chocolates. Aprendem o significado, a origem, como se deu o surgimento e como é nos dias atuais em diferentes partes". diz Gama.

Escola Santos Dumont celebra datas e reconhece os fatos históricos e sociais
Escola Santos Dumont celebra datas e reconhece os fatos históricos e sociais | Foto: Divulgacao

Fundada em 1945, a Escola Santos Dumont, assim como as demais da rede municipal, segue alinhada com as orientações da Secretaria Municipal. "O Carnaval tem toda uma relevância cultural e após tomarem os conhecimentos, os alunos fazem pesquisas, trabalhos e nossa festa de cabelos coloridos é só a culminância de um estudo". Gama expõe que na Páscoa, as crianças recebem lembrancinhas, entendem o sentido existente na data e seu significado, bem como sobre o senso de solidariedade. "Temos que considerar todas as realidades", expõe a coordenadora.

O Dia Mundial da Água, o Dia Internacional da Mulher também são temas de estudo e aprendizagem na Escola Municipal Santos Dumont. "Fazemos o melhor aproveitamento do estudo e também são levados em consideração questões como a escassez hídrica, assim como a violência contra a mulher, presente no cotidiano mundial", cita. "Somos uma escola pequena e nossa comunidade é bastante presente. Realizamos um trabalho conjunto com as famílias com uma boa convivência e por uma consciência de paz social", destaca Gama.

A HISTÓRIA SEMPRE ESTÁ PRESENTE NA EDUCAÇÃO

O professor de História Carlos Augusto Portello dá aulas nos Colégios Marista, Universitário e Colégio Integrado Sônia Marcondes, em Ibiporã. Portello considera que as datas possam ser temas de estudos de diversas maneiras. "Com a reformulação que estamos passando pela Educação, nos anos finais e nos anos iniciais, a BNCC( Base Nacional Curricular Comum), uma das suas recomendações é reconhecer o significado das comemorações e festas escolares, diferenciando-as das festivas, comemoradas no âmbito familiar e da comunidade", destaca. "Então, quando analisamos essa determinação, verificamos como a história está presente dentro da educação e, dessa forma, a importância de trabalharmos historicamente o Dia do Índio, por exemplo, remete a uma necessidade cultural da lembrança dos habitantes que aqui existiam", expõe.

Portello observa ainda que as novas releituras estão trazendo o olhar para e do indígena como fundamental. "Hoje temos universidades para os indígenas, vestibulares diferenciados para os indígenas e eles são peças fundamentais para a construção de nossa identidade", afirma. "Podemos ainda lembrar que o Dia da Consciência Negra resulta de uma grande luta. Por mais de 300 anos, os afrodescendentes passaram por um processo de serem considerados inferiores. Porém, estão sendo reconhecidos como devem ser. Ou seja, seres humanos dotados de total capacidade, assim como qualquer outro", pensa.

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