A passagem do lendário guitarrista Eddie Van Halen por este mundo durou 65 anos e chegou ao fim na tarde da última terça-feira (6), em razão de um câncer na garganta. Com a notícia de sua morte, divulgada nas redes sociais de seu filho Wolfgang, seu nome voltou a ser comparado com o de Jimi Hendrix no posto de maior guitarrista de todos os tempos, assim como foram apontadas suas inúmeras contribuições ao instrumento. "De 1978 para cá todo o guitarrista de rock´n roll tem influência direta ou indireta, fim de papo", definiu o guitarrista, professor e devoto do músico, o londrinense Renan Lourenço, 29.

Enquanto Hendrix já havia desconcertado o mundo inteiro com sua genialidade e gerado até sons que emulam os das bombas de Napalm em protesto contra a guerra do Vietnã em sua monumental execução de "Star Spangled Banner", no encerramento do festival de Woodstock, Van Halen abusou ainda mais do recurso criado por Léo Fender em 1954 junto com a Stratocaster, empunhada por Hendrix e tantos outros: o tremolo. Anos mais tarde, a possibilidade de alterar as notas a partir da manipulação de uma alavanca ligada à ponte da guitarra ganharia ainda mais protagonismo com uso dos harmônicos naturais e artificiais ao lado de outras técnicas difundidas nas interpretações de Van Halen com sua "Frankenstrat" vermelha. A guitarra, construída com partes da vários instrumentos e que levava uma pintura exclusiva para a época, com listras brancas, se tornaria parte do corpo de Van Halen, ganhando outra versão fabricada por Wayne Charvel, como a "Bumblebee" na cor amarela ao longo das gravações de Van Halen II.

Eddie Van Halen: pesquisa e genialidade na "redescoberta" do potencial da guitarra
Eddie Van Halen: pesquisa e genialidade na "redescoberta" do potencial da guitarra | Foto: Kevin Winter/ Getty Images/ AFP

Com o lançamento de "Eruption", um hino presente no disco de estreia da banda, Eddie Van Halen deixaria os fãs de queixo caído com algumas frases características. Estas só eram possíveis graças ao tapping, uma técnica trazida com uso da mão "rítmica" atuando sobre a escala, o que deve ter confundido a mente de milhares de pessoas à época, brincou o fã londrinense. "Infelizmente eu não vivi essa época, em 1978 eu nem sonhava em nascer, mas fico tentando imaginar quem escutou 'Eruption', o coração deve ter parado. Porque estamos falando de uma época sem internet, com conhecimento de difícil acesso, para música então. O cara deve ter ouvido em pensado 'não dá para fazer isso palhetando, só com ligados, tocando 'normal', você teria que ir ao show para ver", alegrou-se.

Eddie Van Halen também deixa lições que vão além das capacidades físicas do instrumento. Sua busca por um som único percorreu a parte elétrica da guitarra, com o uso dos captadores DiMarzio, passaram pelo sistema de processamento de efeitos, com pelo menos quatro modelos de pedais feitos sob sua encomenda pela lendária marca MXR, e chegam aos amplificadores Peavey. Esta sua grande parceira e patrocinadora, e que em 1989 fabricou o modelo 5150, uma opção mais moderna de amplificador de guitarra com melhor controle da saturação das válvulas e que atendia aos interesses do guitarrista.

Nos idos de 1992 foi a vez de encontrar um novo modelo de guitarras para turnês e discos de inéditas. Foi em parceria com a Ernie Ball Music Man que Eddie traria ao mundo a Axis, um conceito que seria seguido mais tarde pela Peavey com o modelo que leva o nome de seu filho, Wolfgang.

No mundo da música, não são raros os casos em que gênios se tornam ainda mais aclamados depois de suas mortes. Questionado se a gigantesca comoção que sua partida gerou nas redes sociais poderá ter um lado positivo ao conectá-lo às novas gerações, Lourenço avaliou que sim, porém sem deixar de lamentar um aspecto superficial em que arte ainda é tratada em plena era da informação. "Acho que tem o lado bom e o ruim. O bom é que muita gente vai passar a curtir a obra desse gênio e o ruim é que isso denota uma sociedade superficial e preguiçosa, sendo que vivemos na era do fácil acesso. Dou aulas e vejo a preguiça de uma molecada em pesquisar", lamentou.