Bumba-meu-boi paulistano
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 18 de janeiro de 2000
Ranulfo Pedreiro
De Londrina
Um dos reisados mais populares do Nordeste, o bumba-meu-boi viajou com os imigrantes e agora é tradição também em São Paulo. Festejo popular rico em melodias e danças dramáticas, o bumba-meu-boi é considerado 100% brasileiro, embora alguns pesquisadores enxerguem ancestrais ibéricos. Em São Paulo, a Festa do Boi é realizada há dez anos no bairro do Morro do Querosene, encabeçado pelo grupo Cupuaçu.
A tradição incipiente já ganhou composições próprias, reunidas em Toadas de Bumba-meu-boi, interpretado pelo Cupuaçu e lançado pelo Núcleo Contemporâneo, de São Paulo. Além de inéditas, o grupo traz também toadas nordestinas.
Montado em 1986 pelo maranhense Tião Carvalho para pesquisa de danças folclóricas, o Cupuaçu apresenta no CD muita semelhança com os grupos de bumba-meu-boi de São Luís do Maranhão. A formação traz instrumentos típicos como os pandeiros afinados em fogueiras para esticar a pele de cabra , zabumbas, maracás e matracas. O disco traz participações especiais do pianista Benjamin Taubkin, do flautista Toninho Carrasqueira e de Mané Silveira no sax.
O CD contorna um problema recorrente em gravações de festejos populares, que é reproduzir no estúdio a descontração da festa na rua. O Cupuaçu não só obteve um bom resultado como ainda aceitou a participação do piano, instrumento incomum nas toadas de bumba-meu-boi.
Nas mãos de Benjamin Taubkin, o piano constrói um clima quase erudito para contornar de melodias o fraseado de Dona tá Reclamando (Domingos/Minguinho). Entre os destaques está ainda Até a Lua, bela composição de Ana Maria Carvalho.
O bumba-meu-boi, que aparece como referência de compositores como Zeca Baleiro, ainda é quase desconhecido nas regiões Sudeste e Sul. A produção dentro do gênero, principalmente no Maranhão, cidade que mantém vários grupos como o Boi de Fita, Boi de Corda e Boi de Palha , é grande porém regional. A distribuição raramente sai do Nordeste. Por isso o lançamento do Cupuaçu retrata e dá fôlego a um estilo que apesar da importância não encontra ecos por aqui. Os contatos com o Núcleo Contemporâneo podem ser feitos pelo site www.nucleo.art.br ou pelo telefone (11) 3873-1386.