Ele é um bruxo, um exorcista, um sujeito misterioso que parece carregar tragédias no bolso de seu sobretudo marrom. O nome dele é John, John Constantine, Hellblazer para os que preferirem.
Foi criado pelo roteirista de quadrinhos Alan Moore para a revista ‘‘Monstro do Pântano’’ para ser apenas um coadjuvante. Depois ganhou título próprio tornando-se o gibi de maior regularidade e longevidade da Vertigo, o cultuado selo da editora DC Comics.
Agora Constantine ameaça saltar do papel para as telas. A Warner comprou os direitos de filmagem do personagem e começa a rodar o longa em agosto com direção de Tarsen Singh, o mesmo de ‘‘A Cela’’ e de vários videoclipes, entre eles ‘‘Loosing my Religion’’, do R.E.M, vencedor de um Video Music Awards da MTV.
Para o papel principal, cogitam-se os nomes de Nicolas Cage e do cantor pop Sting, principal inspirador de Moore para compor o visual do atormentado anti-herói. As histórias de Constantine são repletas de violência, encontros sobrenaturais, bruxaria, sexo e perversões. Sua primeira aparição em ‘‘Monstro do Pântano’’ aconteceu numa edição de 1985, desenhado por Rick Veitch para a série Gótico Americano.
Entre os roteiristas que assinaram suas histórias figuram Garth Ennis e Jamie Delano. No Brasil, Constantine/Hellblazer teve uma carreira errática nas bancas, vítima das mais variadas fuleiragens editoriais incluindo descontinuidade de títulos, sequência inconstante e uma longa estadia no limbo.
A trajetória foi tão conturbada que até hoje seus leitores vasculham sebos atrás de títulos lançados aleatoriamente pelas editoras Abril, Metal Pesado, Tudo em Quadrinhos e Fractal/Atitude. Atualmente, Hellblazer é publicado pela editora Brainstore, comandada pelo londrinense Eloyr Doin Pacheco. Ao longo dos anos, o título também sofreu com a censura, tanto no Brasil como nos Estados Unidos.
Foi o que ocorreu em 1985, quando o carisma de Constantine puxava as vendas do almanaque Vertigo, da editora Abril. Outras personagens alternariam sua publicação, mas ele estaria presente todos os meses. Na sexta edição, todavia, a cúpula da editora decidiu na última hora retirar suas histórias (já traduzidas) substituindo-as pela saga ‘‘Os Livros de Magia’’. Motivo alegado: excessiva violência das narrativas.
Recentemente, no final de 2000, a censura voltou a perseguir o personagem. Desta vez foi a diretoria da poderosa DC Comics que impediu a publicação da história ‘‘Shoot’’, roteirizada por Warren Ellis e desenhada por Phil Jimenez. A trama, que sairia no número 141 de Hellblazer, tratava em tom de denúncia do problema das armas de fogo nas escolas norte-americanas.
Os chefões da DC, contudo, optaram pela tesoura cedendo às pressões que todas as grandes empresas de entretenimento passaram a sofrer nos Estados Unidos após o massacre da Escola de Columbine, em Littleton, Colorado, quando dois garotos entraram metralhando seus colegas. Depois da tragédia, vários setores da sociedade começaram a discutir as eventuais ‘‘más influências’’ da TV, cinema, games, música e quadrinhos na formação dos adolescentes.
Mas apesar do corte, milhares de fãs de John Constantine puderam ver as 22 páginas mutiladas acessando a Internet. São eles que agora aguardam uma versão convincente do personagem para o cinema.