Breve perfil do autor
ReproduçãoSándor Márai considerava o isolamento uma questão de honraSándor Márai nasceu em 1900 na atual cidade de Kosice, Eslováquia, na época sob o domínio do império austro-húngaro. Com dezenove anos de idade mudou-se para a Alemanha para terminar seus estudos. Em 1923, com o casamento, transferiu-se para a Paris, onde trabalhou como jornalista e tradutor (traduziu, por exemplo, para o húngaro a obra de Franz Kafka). Sete anos depois decidiu voltar à terra natal fixando-se em Budapeste. A partir daí começou a se dedicar à literatura, escrevendo sempre em húngaro, publicando mais de trinta romances de grande popularidade, todos carregados de elementos autobiográficos.
Com a invasão nazista da Segunda Guerra Mundial, realizou caminho inverso de outros intelectuais: não abandonou a Hungria. Viveu recluso em sua residência dedicado aos seus escritos. Quando, depois dos alemães, os russos ocuparam o país, também recusou-se ao exílio. Suas palavras exemplificam tal posição: ‘‘Não tenho poder nem armas para contrapor à nossa época e ao mundo senão as da escritura. Cortam-se os países em pedaços para depois os costurarem de outra forma, violam-se os acordos, reduzem-se à escravidão gerações inteiras para se edificarem as pirâmides das novas quimeras, vão para os ares as pontes que uniam os espíritos... Por que resisto apesar de tudo? O que me infunde coragem, em que confio? A única coisa que me dá força é a fé na existência invulnerável e eterna de um Espírito frio, límpido, autêntico, inflexível, que não pode ser negado impunemente, não se deixa falsificar, e sobreviverá demonstrando ser mais forte que todo o resto.’’
Em 1948, quando a política húngara aboliu a democracia, Sándor Márai foi obrigado a deixar o país e seus livros foram todos proibidos. Mesmo sendo cultuado por leitores de toda a Europa, radicalizou seu isolamento mudando-se para uma pequena cidade da Itália. Em 1979 transferiu-se para os Estados Unidos. Em 1989, meses antes da queda do Muro de Berlim, cometeu suicídio com um tiro de pistola na cabeça. Seus livros permaneceram proibidos na Hungria durante 40 anos.
Sua conduta estava baseada numa ética particular, que incluía o isolamento como uma condição de honra. Palavras suas: ‘‘É possível que a solidão destrua o homem, assim como fez com Pascal, Holderlin e Nietzsche. Mas o fracasso, essa fratura, são contudo mais dignos de um homem de pensamento do que a sua conivência com um mundo que primeiro o contagia com suas doces e perversas seduções, e depois o atira na vala. Você se joga mais baixo ainda, no abismo da solidão. Morrerá da mesma maneira, mas com sua queda terá confirmado o destino que governa seu espírito e sua obra. Fica só e se recorda. Fica só e observa. Fica só e responde. Não se iluda: não há outras soluções. Ficar só, mesmo à custa da vida.’’