Antônio Mariano Júnior
De Londrina
Tá! Tudo bem, é um disco que aglutina uma interessante diversidade sonora. Pode-se constatar nos arranjos – recheadinhos de programações eletrônicas, guitarronas, teclados, percussão acústica e até cordas – que todos os participantes tentaram fazer bonito. Ou melhor, tentaram dar um tratamento digamos mais hã... cult a alguns dos mais conhecidos hits do cancioneiro – brega, muito brega mesmo – de Reginaldo Rossi. Claro, no frigir dos ovos há um forte cheiro de oportunismo já que o dito cujo está de volta às paradonas de sucesso de todo o Brasil. É preciso aproveitar, pois!!
E assim, Lenine, Otto, Zé Ramalho, Mundo Livre S.A. e um punhadinho de bandas e cantores emergentes e cheios de banca resolveram topar a árdua tarefa de ornamentar um pavão implume. E o resultado pode ser conferido em ‘‘REIginaldo Rossi – Um Tributo’’. Sim, o disco – lançado pelo selo Mangroove com distribuição pela Abril Music – quer fazer lembrar o resto do Brasil que no norte-nordeste Reginaldo Rossi é rei. Do brega, mas um rei.
‘‘REIginaldo Rossi – um tributo’’ é algo semelhante ao equivocado ‘‘Rei’’, de 94, em que os principais representantes da tchurminha pop nacional – entre eles Tony Platão, Chico Science, Paulo Miklos e Skank – prestaram suas homenagem a músicas de Roberto e Erasmo Carlos.
Então tá!! O disco levou quase dois anos para ser produzido. Para chamar a atenção dos que torcem – e com razão até – o nariz para a breguice do cantor pernambucano, os produtores convocaram um time de ‘‘muderninhos’’ de plantão. Todos nordestinos. A maioria pernambucanos. ‘‘REIginaldo Rossi...’ é ancorado em artistas que já fizeram o Sul maravilha. A eles designaram a ingrata função de dar sopro de vida a velhos sucessos.
Lenine abre o disco com ‘‘A Raposa e as Uvas’’ mantendo o estofão brega amparado na guitarra de Robertinho do Recife. Zé Ramalho ataca de ‘‘Era Domingo’’. Milagre mesmo fez Geraldo Azevedo ao converter em delicadeza a outrora cafona ‘‘As Quatro Estações’’. Impossível não ouvir uma vez só.
Os dois principais sucessos de Reginaldo – ‘‘Mon Amour, Meu Bem, Ma Famme’’ e ‘‘Garçom’’ (argh!!) – foram deixadas no escaninho de, respectivamente, Mundo Livre S.A e Otto. Os primeiros atacam de mangue-intimista. O outro apoia-se nas bases eletrônicas com direito a barulhos de sirene e frases imbecis tiradas do nada. A pergunta: quem paga mais mico? O páreo é duro!!
‘‘REIginaldo...’ até convence pela sonoridade. Mas a coisa toda encrespa mesmo nas letras e melodias por mais que tenham sido elas paridas sob as vibrações da jovem guarda e/ou na época em que Reginaldo encrustou o rock na caatinga – isso lá por 65 através de sua banda Silver Jets (ó o nome!!). Agora, nem todos os participantes conseguem imprimir originalidade às coisas de Reginaldo Rossi.
Há, por exemplo, quem pretensiosamente tenta ganhar o ouvinte através da retórica tecnológica. É o caso de Stela Campos e Loop B (‘‘Tão Sofrido’’ ) mais Eddie e o DJ Dolores (‘‘Cuca Fresca’’). A melhor faixa – há, por incrível que pareça há – fica por conta da batucada deliciosa da banda Cascabulho em ‘‘Deixa de Banca’’. Dica: para melhor ir se acostumando ao que vem pela frente, pode-se começar a ouvir o disco por essa faixa. É que no todo, ‘‘REIginaldo Rossi – Um Tributo’’ não passa de um produto perecível e com prazo de validade por vencer logo, logo.

ReproduçãoBeto BarbosaA lambada era uma mistura de músicas afro-caribenhas com influências nordestinas, principalmente de Salvador. Beto Barbosa foi um dos maiores expoentes do gênero, e agora um dos primeiros a incentivar uma onda revival. ‘‘Ao Vivo – Dance e Balance’’, novo CD do cantor, acentua os ritmos caribenhos com arranjos de sopros, mas também abre espaço para o forró – gênero que passou rapidamente pelas lentes da indústria fonográfica. Se o instrumental segura o suingue, as composições não mantêm o pique. Ou seja, continuam grudando no ouvido com letras insossas. O repertório traz os hits ‘‘Beijinho na Boca’’ e ‘‘Adocica’’, ambas de Beto Barbosa. Há também uma versão da surrada ‘‘Gostava Tanto de Voc꒒ (Edson Trindade) misturando forró com samba-funk. Beto Barbosa recuperou, no disco, um recurso em voga nos anos 70: a vibração do público ganha ou perde volume em momentos estratégicos. O CD foi gravado em maio e saiu pela Atração Fonográfica.

ReproduçãoBeto BertoliniBeto Bertolini é considerado um ‘‘ecologista acústico’’, ou seja, um sujeito preocupado com a preservação de sonoridades de ambientes naturais, como matas, rios e florestas. ‘‘Paisagens Sonoras do Planeta – Paranᒒ é um álbum que reproduz, em 63 minutos, sons que vão desde cascatas a bater de asas, incluindo cantos de mariquitas, pula-pulas, pica-paus, trovoadas e até gafanhotos. As gravações foram feitas em locais tão diversos quanto a Ilha do Mel, Foz do Iguaçu e Serra da Graciosa. Não se trata de um disco do tipo ‘‘Sons para Relaxar’’, mas de um trabalho sério de documentação e pesquisa que procura destacar e registrar a sonoridade natural do estado. O CD é o terceiro volume de uma série que inclui a Floresta Atlântica e Costa Rica. O disco pode ser encomendado pelo telefone (41) 362-4803, ou pelo site www.cdnature.com.

ReproduçãoClaudinho & BuchechaSurgidos na zona norte carioca, Claudinho & Buchecha amaciaram o pancadão – a batida eletrônica – dos bailes funk e incorporaram elementos do pop da zona sul, criando uma fórmula que ganhou as paradas. Em ‘‘Claudinho e Buchecha’’, gravado ao vivo no Canecão, o que aparece é um pop de fácil digestão, passível de esquecimento. O disco saiu pela Universal, que convocou a participação de Jaques Morelenbaum em ‘‘Lindo Balão Azul’’ (Guilherme Arantes), e o sax de Milton Guedes em ‘‘Coisa de Cinema’’ (Cacá Moraes/Abdullah/Buchecha) e ‘‘Carro Velho’’ (Ivete Sangalo/Ninha). Entre os sucessos da dupla estão ‘‘Conquista’’, ‘‘Quero te Encontrar’’ e ‘‘Só Love’’, todas assinadas por Buchecha. A carreira de Claudinho & Buchecha ainda é curta para uma coletânea ao vivo, e o CD consolida a transição concretizada com ‘‘Só Love’’: a substituição dos samplers por uma banda, com maior acento soul. Os tempos do pancadão só reaparecem com ‘‘Rap do Salgueiro’’, primeiro sucesso da dupla.

ReproduçãoLarissa MendesDepois de uma carreira recheada de comerciais e de ganhar um disco de ouro com a versão da trilha sonora de ‘‘Cavaleiros do Zodíaco’’, em dupla com o garoto William, Larissa Mendes parte para carreira solo com apenas 15 anos em ‘‘Tudo Vai Mudar’’, produção independente da Mil Artes. Apesar da empostação correta, Larissa Mendes ainda é uma intérprete pouco amadurecida, e o repertório – calcado na axé music – não colabora, firmando-se em notas médias, evitando oscilações maiores entre graves e agudos. A produção esbarra em diversos clichês e coloca a cantora – ainda em início de carreira – apenas como uma voz a mais na axé music, gênero que satura o mercado com excesso de representantes. O CD traz duas regravações do Exaltasamba: ‘‘Oposto do meu Ser’’ e ‘‘Um Beijo Seu’’, além de ‘‘Perdida de Amor’’ (Sullivan e Dudu Falcão).

ReproduçãoWaldir SilvaA Movie Play está lançando ‘‘Tangos e Boleros com Waldir Silva’’, CD instrumental que mescla de Cartola a Julio Iglesias. Comandado pelo cavaquinho de Waldir Silva, o repertório privilegia músicas desgastadas pelo excesso de execução, como ‘‘Índia’’ (Flores/Guerrero), ‘‘A Volta do Boêmio’’ (Adelino Moreira), ‘‘As Rosas Não Falam’’ (Cartola) e ‘‘Ronda’’ (Paulo Vanzolini). Os arranjos realçam o clima de saudosismo em temas como ‘‘Hey’’ (Balducci/Arcusa/Belfiori/Iglesias), sucesso de Julio Iglesias, ou ‘‘Caminito’’ (Filiberto/Peñaloza). Também não falta ‘‘Estoy Ennamorado’’ (Estéfano/Donato). A única novidade é ‘‘Minha Rainha’’, de Rita Ribeiro. Os arranjos e solos são tão previsíveis quanto o repertório. Ao contrário do que diz o texto de divulgação, Waldir Silva não é o melhor solista de cavaquinho do Brasil.

ReproduçãoO TerçoO Terço é um grupo veterano formado por Sérgio Hinds em 1969 e que, durante os anos 70, abrigou Vinicius Cantuária e Flávio Venturini. Com influência do rock rural e progressivo, a banda reaparece liderada por Sérgio Hinds – após a gravação, em 1997, de ‘‘Spyrowords’’ – em uma homenagem a Raul Seixas. O problema é que ‘‘Tributo a Raul Seixas’’ traz o repertório mais previsível do compositor baiano, incluindo ‘‘Maluco Beleza’’ e ‘‘Rock das Aranhas’’. Mesmo reestruturando os arranjos, imprimindo uma pegada mais pesada e reconstruindo alguns hits, Hinds e companhia procuram se desvencilhar da interpretação de Raul Seixas, que de tão característica tornou-se um estigma. O grupo tenta mas não consegue fazer uma leitura original da obra. Ainda não foi desta vez que O Terço suplantou discos como ‘‘A Casa Encantada’’ e ‘‘Criaturas da Noite’’. O CD saiu pela Movie Play.