BIBLIOTECA QUER ADOTAR POLÍTICA DE ACERVO
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quarta-feira, 29 de agosto de 2001
Francelino França<BR>De Londrina
Às vésperas de completar 50 anos, a Biblioteca Pública Municipal de Londrina Pedro Viriato Parigot de Souza recebe uma média diária de 1857 usuários. Funcionando principalmente como biblioteca escolar, de janeiro a julho deste ano 88 mil pessoas consultaram e pesquisaram o acervo, composto por 64.282 volumes. Mas os números superlativos do acervo, que compõe a espinha dorsal da Biblioteca Pública, não retratam a realidade do órgão.
Efetivamente, a última compra de livros aconteceu em 1998, quando foram adquiridos uma Enciclopédia Barsa, mais 90 volumes de obras variadas. Essa aquisição aconteceu num vácuo de anos sem compra de um único livro. A dotação orçamentária da Biblioteca Pública de Londrina consegue apenas cobrir os salários dos funcionários e material de consumo. ''Não existe uma política de acervo para a Biblioteca'', constata o Secretário da Cultura, Bernardo Pellegrini.
Para atacar esse mal crônico, a diretoria da entidade e a Secretaria de Cultura pretendem ativar o projeto ''Cheque-doação'', em pareceria com empresas da cidade para que se possa revitalizar o precário acervo. A proposta deve angariar R$ 30 mil em livros adquiridos diretamente das editoras. Cada volume receberá um selo de apoio cultural da empresa. Essa é uma prática comum nos Estados Unidos, que envolve não somente empresas, mas famílias tradicionais que se sentem enobrecidas em poder contribuir para o crescimento cultural da cidade onde residem.
A única forma, por enquanto, para aumentar o acervo é através de doações da população. Pouco mais de 600 livros são doados mensalmente à Biblioteca Pública. O episódio de 1998, quando foram descobertos livros doados e comercializados nos sebos da cidade, afugentou novos doadores. A jornalista Ana Marta Garcia doou para a Biblioteca cinco mil livros do acervo de seu marido, Luis Cesar da Silva, e muitos foram encontrados nas prateleiras das lojas de livros usados. O caso está sob investigação do Ministério Público, sob responsabilidade do promotor de defesa do patrimônio público de Londrina, Bruno Galatti.
O descrédito com o episódio fez com que a atual administração adotasse uma política de doação mais transparente. ''Quando surgem livros doados em duplicata, são negociados com outras bibliotecas da região'', garante Célia Zambaldi. Esse procedimento, segundo a diretora do órgão, está de acordo com a Lei Orgânica do Município. Uma curiosidade a respeito das doações. Frequentemente, surgem doadores arrependidos, que fazem a doação e depois aparecem pedindo o livro de volta.
Dentre as áreas mais defasadas do acervo da Biblioteca Pública está a de informática. Esse assunto cresce e se renova numa proporção muito rápida. Pode-se encontrar somente livros básicos, introdutórios ao mundo da informática. Com as mudanças das propostas pedagógicas, as solicitações dos professores também tomaram novos rumos. Hoje, há uma demanda por assuntos que todos os dias figuram nos noticiários, como acidentes e crimes ecológicos. A única solução é buscar na Hemeroteca (arquivo de recortes de jornais e revistas) e na internet, que a Biblioteca disponibiliza apenas três terminais para pesquisa. Outra constatação é a ausência de conexão entre escolas, professores e a realidade do acervo do órgão. Muitas vezes, os professores solicitam o que não existe ainda no mercado. É diminuto também o número de professores que circulam pelos corredores da Biblioteca.
Na lista dos livros mais requisitados do acervo desponta ''O Mundo de Sofia'', de Jostein Gaarder. Outros títulos que não descansam nas prateleiras: ''Verônica Decide Morrer'' e ''Brida'', de Paulo Coelho, ''Se Houver Amanhã'' e ''Nada Dura Para Sempre'', de Sidney Sheldon e ''Xangô de Baker Street'' e ''O Homem que Matou Getúlio'', de Jô Soares.
