Bergman ganha programação especial na TV
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sábado, 07 de janeiro de 2012
Luiz Carlos Merten <br> Agência Estado
São Paulo - Paulo Francis, que não gostava particularmente de Jean-Luc Godard, era duro com o autor de ''Acossado'' e ''A Chinesa''. Dizia que ele se havia convertido no representante de uma geração apressada, que se contentava em ler as orelhas dos livros e que aplicava conceitos com a superficialidade de quem não assimilou nada. Ingmar Bergman, pelo contrário, era do tipo que lia o livro inteiro e a prova disso era a metalinguagem de ''Quando Duas Mulheres Pecam, Persona''. As duas metades que formavam o rosto de uma mulher viravam metáfora do cinema e os signos distribuídos ao longo do filme - o corpo que se levanta na morgue, o celuloide que queima -, tudo faz parte da arquitetura dramática.
É tempo de reverenciar Bergman. O Telecine Cult inicia hoje uma programação dedicada ao grande autor sueco que morreu em 2007, aos 89 anos. Ela vai prosseguir, sempre aos sábados, durante o mês de janeiro. O especial Bergman começa às 22h com ''O Ovo da Serpente'' e deve prosseguir exibindo ''Cenas de Um Casamento''; ''Gritos e Sussurros'' e ''Quando Duas Mulheres Pecam''; ''Através de Um Espelho'' e ''Morangos Silvestres''; e ''O Sétimo Selo''.
Cada cinéfilo é livre para lamentar a ausência deste ou daquele título que considera fundamental, mas a programação espelha o gênio de Bergman e apresenta alguns de seus maiores filmes, aqueles pelos quais, enquanto houver cinema, ele será sempre lembrado.
Bergman teve algumas fases ao longo de sua carreira. Começou expressionista, descobriu a metalinguagem nos anos 1960 e nos 70 transferiu-se para a televisão (sem transigir em nada com suas exigências como autor de cinema). Em 1954, ''Noites de Circo'' era considerado o máximo do cinema de arte, ou de autor.
Duas décadas mais tarde, Bergman, sem necessariamente virar pop, tornou-se um fenômeno internacional de público. A Academia de Hollywood atribuiu-lhe nada menos do que três Oscars - por ''A Fonte da Donzela'', ''Sason I Spiegel'' e ''Fanny e Alexander''. Em 1995, comemorando o centenário do cinema, o Festival de Cannes perguntou a diretores que haviam vencido na Palma de Ouro quem merecia o prêmio, sem nunca ter sido agraciado. Bergman ganhou a Palma das Palmas, mas quem a recebeu, em seu nome, foi uma atriz e diretora com quem foi casado - Liv Ullman.
As mulheres de Bergman. Harriet Andersson é um vulcão de sensualidade em ''Mônica e o Desejo'' e ele dirigiu todas aquelas atrizes espetaculares - Ingrid Thulin, Bibi Andersson, Mai Zetterling, Maj-Britt Nilsson, Gunnel Lindblom, Eva Dahlbeck, Liv Ullman. E os homens - Max Von Sydow, Gunnar Bjornstrand, Erland Josephsson. É sabido que Bergman, filho de um pastor, recebeu uma severa educação religiosa, mas ela não forneceu respostas para suas indagações. Os tormentos do sexo e o silêncio de Deus são temas recorrentes.
O cavaleiro joga xadrez com a morte em ''O Sétimo Selo'', o incesto se faz presente em ''Através de Um Espelho'' e o professor Isak Borg, o inesquecível Victor Sjostrom, atravessa os planos da realidade e da imaginação para se purgar de uma vida sem amor em ''Morangos Silvestres''. Bergman gostava de dizer que havia absorvido o cristianismo com o leite materno. Toda arte, segundo ele, mantém uma relação com o ético. Seu cinema é a prova.
Serviço:
- Mostra Bergman no Telecine Cult
Amanhã, 22h: ''O Ovo da Serpente''
Dia 14, 22h: ''Cenas de Um Casamento''
Dia 21, 22h: ''Gritos e Sussurros''; 23h45: ''Quando Duas Mulheres
Pecam''
Dia 28, 22h: ''Através de Um Espelho''; 23h45: ''Morangos Silvestres'';
Dia 29, 22h: ''O Sétimo Selo''