André Bernardo
TV Press
A atriz Alessandra Negrini costuma subestimar a própria sensualidade. ‘‘Em alguns dias, estou fatal. Já em outros, me sinto uma formiguinha’’, exagera. Aos 29 anos, ela ainda preserva o mesmo olhar fugaz e sorriso maroto dos tempos em que interpretou a lasciva protagonista da minissérie ‘‘Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados’’. De lá para cá, Alessandra já interpretou outros papéis, como a dissimulada Paula, de ‘‘Anjo Mau’’, e a romântica Rebeca, de ‘‘Meu Bem Querer’’. Nenhum deles, porém, chegou aos pés da personagem de Nélson Rodrigues.
Cinco anos depois, ela volta a trabalhar em outra série da Globo. Na minissérie ‘‘A Muralha’’, Alessandra Negrini interpreta Isabel, uma mulher de hábitos pouco convencionais, como viver no meio de bandeirantes ou lutar contra os índios. ‘‘De todas as personagens que fiz, Isabel é a mais difícil. Com ela, não tive uma preocupação somente. Tive todas’’, reconhece, bem-humorada.
De fato, Alessandra Negrini se aproximou de Isabel como quem se aproxima de um animal selvagem. Para interpretá-la, a atriz se viu obrigada a abrir mão da sensualidade que tanto sucesso fez na época de ‘‘Engraçadinha...’’. Em vez de coxas desnudas e olhares libidinosos, ela fez ‘‘interlace’’, besuntou o corpo com uma base que deixa a pele bronzeada e, principalmente, deixou crescer os pêlos das axilas.
Mesmo assim, a atriz se arrisca a estabelecer algumas semelhanças entre as duas protagonistas. Para ela, Engraçadinha era selvagem e instintiva como um animal, que chegava ao ponto de enlouquecer o suposto primo, interpretado por Ângelo Antônio. Tal e qual Isabel, que também age por instinto e nutre um amor incondicional pelo primo Tiago, papel de Leonardo Brício. ‘‘As pessoas já não me identificam tanto com a Engraçadinha. Tenho o maior orgulho de já ter feito os mais variados tipos na tev꒒, avalia.
Já a bandeirante Isabel exigiu alguns cuidados especiais de Alessandra Negrini. Tão logo recebeu o convite para atuar no projeto, a atriz começou a fazer aulas de esgrima e equitação. Com faca e espada em punho, gravou cenas em que duela com índios de verdade numa aldeia montada em Xerém, na Baixada Fluminense. Já no lombo de um cavalo, se embrenhou no mato numa típica ação bandeirante. Apesar de se sentir segura, Alessandra solicitou a presença de uma dublê nas cenas em que tinha de empinar o animal. ‘‘Só por uma questão de segurança. Não só minha, mas das outras pessoas também’’, diverte-se.
Temores à parte, Alessandra Negrini reconhece que só a possibilidade de contracenar com índios xavantes, originários do Mato Grosso, já valeu a experiência. Como a maioria dos indígenas não sabia falar o português, Alessandra teve de arriscar novos códigos de linguagem. ‘‘Só o olhar deles já era diferente’’, espanta-se. No começo, a atriz passava a maior parte do tempo brincando com os pequenos nativos.
Quando ganhava colares de presente, dava roupinhas de bebê em troca. Numa das idas a Xerém, a atriz chegou a levar o pequeno Antônio, de um ano e sete meses, filho de Alessandra com o também ator Murilo Benício. ‘‘O único problema é que o Antônio viu um índio comer formiga e quis fazer igual’’, recorda. No final das contas, Alessandra ficou tão amiga dos xavantes que já prometeu de viajar para o Mato Grosso a fim de conhecer uma tribo de verdade assim que terminar de gravar a macrossérie. ‘‘Se pudesse, largava tudo e virava índia também. Mas agora já é tarde demais’’, lamenta.
Mas o fato mesmo é que Alessandra Negrini só ficou conhecida em todo o território nacional depois de emprestar graça e sensualidade a um dos mais célebres personagens do dramaturgo Nélson Rodrigues. Desde então, ela passou a ser escalada apenas para incorporar papéis com forte apelo sensual. ‘‘Na tevê, há mulheres bem mais bonitas e gostosas que eu. Se elas não têm outra coisa a oferecer para o público, eu tenho’’, enfatiza.
No dia-a-dia, porém, Alessandra Negrini garante que não faz o tipo sedutor. ‘‘Depende do dia’’, pondera, visivelmente encabulada. No começo da carreira, a atriz decidiu tirar proveito da fama alcançada por Engraçadinha e chegou a aceitar alguns convites para participar de festas e eventos promocionais. A experiência, no entanto, não foi das melhores. ‘‘Eu me sentia um bicho no zoológico’’, compara.
Hoje, a atriz prefere aproveitar qualquer intervalo nas gravações de ‘‘A Muralha’’ para fazer companhia ao pequeno Antônio ou curtir a atual ‘‘solteirice’’, depois do rompimento com o ator Murilo Benício. ‘‘As solteiras também são felizes’’, despista.Depois de viver a sensual Engraçadinha, Alessandra Negrini volta às minisséries. Em ‘‘A Muralha’’ ela é Isabel, uma mulher rude e valente
Luiza Dantas/Carta Z NotíciasAlessandra Negrini: ‘‘Há atrizes mais bonitas e gostosas que eu. Se elas não têm outra coisa a oferecer ao público, eu tenho’’