Tem gente que não perde um dia do BBB24, tem sites que não deixam de cobrir uma só baixaria.

De minha parte, parei de assistir. Me concentro em situações que estão no noticiário, mas sem dedicar grande parte do dia a mais uma fofoca do BBB e seus insólitos personagens que se apresentam num verdadeiro laboratório de comportamento humano.

Sempre encarei como laboratório um programa que confina pessoas que depois vão sendo eliminadas por se relacionarem pessimamente com os outros, por mostrar as "garras" de seu mau caratismo ou porque são "plantas", conquistando aquela inação que tanto contraria o público. Porque na arena do BBB o público quer sangue, brigas, discussões, baixarias que elevam o ibope do programa e dão aos patrocinadores aquele prazer de mostrar suas marcas em meio a sorrisos ou xingamentos. Um prazer que se equipara a assistir às brigas do vizinho, da Rebordosa do bairro, da espetaculosa do quarteirão confinada em ambiente de quase luxo.

Esta semana, uma ex-diretora da Globo, Cininha de Paula, foi para as redes sociais observar como a Bia está com a expressão travada, "surtada" foi a palavra que ela usou para descrever os movimentos que a moça faz com a boca, os tiques nervosos que denunciam uma situação no limite. E até perguntou: "onde estão os psiquiatras do programa que não veem isso?" Detalhe: Cininha de Paula é médica com especialização em psiquiatria.

A constatação é triste, como foi triste a saída da tik toker Vanessa Lopes pela eclosão de uma psicose ali mesmo em frente às câmeras, num processo que também denuncia o mal-estar geral.

Todos também já conhecem o comportamento do "insuportável Davi" ou se lembram do dia em que Leidy Elin perdeu as estribeiras e jogou as roupas do "insuportável" na piscina da Casa, sendo depois eliminada com quase 90% dos votos. Mas não é mesmo pelas baixarias que o público vibra, pedindo mais fogo no parquinho? Os números da audiência demonstram que sim, e aí vem a pergunta: que sociedade é essa que faz da exposição máxima, do estresse, da baixaria e até da psicose seu espetáculo?

De tanto usar telinhas e telonas para criar uma personalidade pública, estamos nos esquecendo do ser íntimo, aquele mais verdadeiro, sem máscaras, que se alimenta de ações que apaziguam, acalentando nossas emoções com nossas próprias cantigas (ou abismos), sem precisar se exibir. Está certo que evoluimos no contato com o outro, mas esse contato precisa ser o do gatilho do adestramento da agressividade em praça pública? A catarse é bem vinda para fins terapêuticos, mas atiçada descontroladamente gera uma agressividade gratuita que é parte do show do BBB.

Se nos anos 60/70, os laboratórios de comportamento difundidos por inúmeras técnicas tinham por fim levar as pessoas ao autoconhecimento, ao relaxamento das tensões, ainda que passando pela catarse, o que se vê hoje, no horário dito nobre, é a catarse sobre a catarse sem relaxamento, num laboratório cujo objetivo é a premiação em dinheiro, além da "fama" e da pós-fama de ter sido um BBB, ainda que isso signifique o sucesso à custa de carências, desaforos e do desequilíbrio mental como espetáculo.

* A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.