Para quem acha que a Inglaterra resume-se a Londres, eis uma agradável surpresa. A 186 km a oeste da capital inglesa, entre as colinas que cercam o Rio Avon, está Bath. Famosa pelos banhos romanos e pela arquitetura clássica das construções do século 18, a pequena cidade tem grande importância histórica. Nas épocas de temperaturas relativamente amenas (outono e primavera), Bath assume um clima interiorano e fica ainda mais convidativa: os moradores saem de suas casas para jogar conversa fora e passear às margens do rio - de fato, um lugar bem diferente de Londres.
Tombada pela Unesco, a cidade virou patrimônio da humanidade. Bath (banho, em inglês) foi colonizada pelos romanos que chegaram na região em 43 a.C. e batizaram a cidade Aquae Sulis. O local se tornou, então, uma rica amostra da engenharia romana - muito mais tarde, uniriam-se a ela construções erguidas nos tempos dos quatro reis George.
Sobre a fonte de água quente que saía da terra, os romanos construíram um templo em homenagem a Minerva. Pouco depois, construíram três banhos da cidade - King's Bath, Cross Bath e Hot Bath, possíveis graças à canalização da água em tubos lacrados de chumbo. Parte desse complexo de banhos pode ser vista no Museu dos Banhos Romanos. A área mais famosa é a da piscina ao ar livre chamada Great Bath. Do subsolo do complexo ainda jorram mais de 11 milhões de litros d'água por dia, a uma temperatura constante de 46 graus centígrados. Mas nada de banho lá: no máximo, você poderá molhar as mãos se quiser banhar-se, terá de ir a spas ou hotéis especiais locais.
No ano de 410 acabou a boa vida dos romanos: a cidade foi invadida pelos saxões e eles tiveram de bater em retirada. Alheios à pompa dos antigos moradores, os saxões deixaram as construções à mercê do tempo. Somente em 1088, após a destruição de parte da cidade durante uma batalha, é que os banhos foram restaurados.
A cidade, no entanto, passaria ainda por períodos alternados de recuperação e deterioração. No século 16, seu estado era tão lastimável que a realeza fez duras críticas aos administradores do local e, em 1590, mandou médicos e boticários - tantos que superavam o número de pacientes tratados ali - estudarem aquelas águas, que, acreditava-se, tinham poder curador e faziam bem à fertilidade.
Já no século seguinte, Bath era considerada a mais bela cidade do reino. Os banhos tornaram-se um dos passatempos mais disputados da aristocracia inglesa, apesar de sua infra-estrutura ainda ser precária.
Os hábitos nesses locais tinham pouco de nobre (e talvez até explicassem o suposto aumento da fertilidade dos frequentadores): a roupa de banho das mulheres era uma espécie de camisolão feito de uma fina lona amarelada, e a dos homens, um conjunto de ceroula e colete do mesmo material. Não havia vestiários - as roupas eram trocadas nos vãos dos banhos; as damas penduravam suas vestes em paredes grosseiras. Ao menos a música era constante, tocada nas galerias.
Com o aumento da popularidade da cidade, no século 18 começaram a ser levantadas as grandes obras locais, utilizando-se pedras da região. As principais ruas e praças, em estilo clássico, foram projetadas por pai e filho, ambos chamados John Wood.
Já o glamour ficou por conta de Beau Nash, que pensou os monumentos e ditou o que era de bom gosto na alta sociedade. Tudo isso era encomenda de famílias abastadas que frequentavam o balneário, enriquecido ainda com extensos parques e jardins.
Ergueram-se nessa época o Circus e o Royal Crescent, dois dos locais mais visitados da cidade. O Circus é um conjunto de casas - todas com a mesma fachada - em forma de círculo construído no final do século 18. Pela Brock Street, uma das três ruas que segmentam esse enorme anel, chega-se ao Royal Crescent, um edifício com a forma de uma lua crescente erguido de 1767 a 1775. São 30 casas com 114 colunas gregas na fachada, espalhadas por 220 metros. Seu estilo georgiano (que, dizem, foi inspirado pela colunata que circunda a Piazza San Pietro, em Roma) serviu de modelo a muitas outras construções locais.