Batatas com fotos
PUBLICAÇÃO
domingo, 29 de agosto de 1999
Simone Mattos
De Curitiba
Dezoito dos melhores fotógrafos de Curitiba estão expondo suas obras no espaço cultural do bar e restaurante Beto Batata, em Curitiba
Simples paredes de madeira forradas com material da melhor qualidade. Trata-se da exposição de fotografias que reúne alguns dos melhores profissionais da cidade. Com naturalidade e despretensão, a mostra que não tem data para encerrar e nem número limitado de participantes está encantando os frequentadores do bar, restaurante e espaço cultural Beto Batata.
O brasileiro não tem o hábito de ir a museus e galerias, mas ao mesmo tempo precisa ver arte, comenta o fotógrafo Sérgio Sossela, que participa da exposição com dois de seus mais recentes e polêmicos trabalhos. Ele aplaude a iniciativa do local e comenta que a melhor decoração para um bar é aquela que sugere motivos para conversar.
Sossela diz achar mais interessante ter uma mostra de fotos nas paredes do que investir numa decoração cara e monótona, como fazem muitos estabelecimentos. O lugar fica mais rico, comenta.
Uma de suas fotos, a David III, (inspirada na obra David, de Michelângelo) foi feita em parceria com o produtor de arte André Malinski. Misturando os estilos pop, sacro, brasileiro e kitsch, eles falam sobre o culto à beleza. Algumas vezes ela é tão intocável e inacessível que lembra os anjos ou os santos, explica Malinski.
Tudo começou quando o fotógrafo Gilson Camargo decidiu transformar uma das paredes do Beto Batata numa espécie de laboratório de imagens. Numa mesma moldura, iluminada por uma dicróica, oito fotos minhas se revezaram, explica. A exposição acabou acontecendo naturalmente, a partir da vontade de outros fotógrafos mostrarem seus trabalhos, diz Gilson.
Além de feras da fotografia publicitária, jornalística e artística, a eclética exposição também traz imagens colhidas por profissionais de outras áreas. Este é o caso das artistas plásticas Lígia Borba e Carina Weidle e do músico Octávio Camargo.
Embora o local seja pequeno e sem luz apropriada para uma exposição como esta, a arte ali parece mais viva e menos narcisista, comenta Lígia. A arte dos museus está mumificada. Pela primeira vez, a escultora expõem suas fotos ao público. O trabalho apresentado por ela na mostra revela uma série de 78 imagens (acomodadas num álbum), que retratam o mesmo ângulo de uma praia em Santa Catarina, visto em diferentes horários. A idéia é fazer um paradoxo com as fotos rápidas de viagens, explica.
O professor e músico concertista Octávio Camargo contribui com a exposição com uma foto bem criativa. Ele flagrou o seu irmão, o fotógrafo Gilson Camargo, com o rosto achatado num vidro. É uma idéia simples, que representa a própria foto, quando está presa atrás de um porta-retratos ou do vidro de um quadro, explica. Em sua opinião, as fotos ganham força e naturalidade quando são expostas em bares. Em espaços oficiais, há uma lacuna maior entre o público e o que está sendo mostrado.
O dono do local, Beto Amorim, explica que a idéia da exposição é exatamente esta: criar um contrafluxo, perder a formalidade e ganhar descontração. O local, que já conta com animadas rodas de chorinho, aos sábados, está se tornando cada vez mais um ponto de encontro cultural.
O Beto Batata funciona na Rua Professor Brandão, 678, Alto da XV, fone 262-0840, de segunda a sexta e nos domingos, a partir das 18 horas. No sábado, a partir das 11h30.
Os fotógrafos da Mostra
- Alexandre Magno
- André Malinski
- Carina Weidle
- Chico Camargo
- Eudo Batista
- Gilson Camargo
- Gustavo Rayel
- Ivan Rodrigues
- Haroldo Viegas
- Kraw Penas
- João Henrique Le Senechal
- Jonas Jr.
- J.S.Vieira
- Lígia Borba
- Lolô Camargo
- Mário Augusto
- Octavio Camargo
- Sérgio Sossela