Simone Mattos
De Curitiba
Dezoito dos melhores fotógrafos de Curitiba estão expondo suas obras no espaço cultural do bar e restaurante Beto Batata, em Curitiba
Simples paredes de madeira forradas com material da melhor qualidade. Trata-se da exposição de fotografias que reúne alguns dos melhores profissionais da cidade. Com naturalidade e despretensão, a mostra – que não tem data para encerrar e nem número limitado de participantes – está encantando os frequentadores do bar, restaurante e espaço cultural Beto Batata.
‘‘O brasileiro não tem o hábito de ir a museus e galerias, mas ao mesmo tempo precisa ver arte’’, comenta o fotógrafo Sérgio Sossela, que participa da exposição com dois de seus mais recentes e polêmicos trabalhos. Ele aplaude a iniciativa do local e comenta que ‘‘a melhor decoração para um bar é aquela que sugere motivos para conversar’’.
Sossela diz achar mais interessante ter uma mostra de fotos nas paredes do que investir numa decoração cara e monótona, como fazem muitos estabelecimentos. ‘‘O lugar fica mais rico’’, comenta.
Uma de suas fotos, a ‘‘David III’’, (inspirada na obra David, de Michelângelo) foi feita em parceria com o produtor de arte André Malinski. Misturando os estilos pop, sacro, brasileiro e kitsch, eles falam sobre o culto à beleza. ‘‘Algumas vezes ela é tão intocável e inacessível que lembra os anjos ou os santos’’, explica Malinski.
Tudo começou quando o fotógrafo Gilson Camargo decidiu transformar uma das paredes do Beto Batata numa espécie de laboratório de imagens. ‘‘Numa mesma moldura, iluminada por uma dicróica, oito fotos minhas se revezaram’’, explica. ‘‘A exposição acabou acontecendo naturalmente, a partir da vontade de outros fotógrafos mostrarem seus trabalhos’’, diz Gilson.
Além de feras da fotografia publicitária, jornalística e artística, a eclética exposição também traz imagens colhidas por profissionais de outras áreas. Este é o caso das artistas plásticas Lígia Borba e Carina Weidle e do músico Octávio Camargo.
‘‘Embora o local seja pequeno e sem luz apropriada para uma exposição como esta, a arte ali parece mais viva e menos narcisista’’, comenta Lígia. ‘‘A arte dos museus está mumificada.’’ Pela primeira vez, a escultora expõem suas fotos ao público. O trabalho apresentado por ela na mostra revela uma série de 78 imagens (acomodadas num álbum), que retratam o mesmo ângulo de uma praia em Santa Catarina, visto em diferentes horários. ‘‘A idéia é fazer um paradoxo com as fotos rápidas de viagens’’, explica.
O professor e músico concertista Octávio Camargo contribui com a exposição com uma foto bem criativa. Ele flagrou o seu irmão, o fotógrafo Gilson Camargo, com o rosto achatado num vidro. ‘‘É uma idéia simples, que representa a própria foto, quando está presa atrás de um porta-retratos ou do vidro de um quadro’’, explica. Em sua opinião, as fotos ganham força e naturalidade quando são expostas em bares. ‘‘Em espaços oficiais, há uma lacuna maior entre o público e o que está sendo mostrado.’’
O dono do local, Beto Amorim, explica que a idéia da exposição é exatamente esta: ‘‘criar um contrafluxo, perder a formalidade e ganhar descontração’’. O local, que já conta com animadas rodas de chorinho, aos sábados, está se tornando cada vez mais um ponto de encontro cultural.
• O Beto Batata funciona na Rua Professor Brandão, 678, Alto da XV, fone 262-0840, de segunda a sexta e nos domingos, a partir das 18 horas. No sábado, a partir das 11h30.

Os fotógrafos da Mostra
- Alexandre Magno
- André Malinski
- Carina Weidle
- Chico Camargo
- Eudo Batista
- Gilson Camargo
- Gustavo Rayel
- Ivan Rodrigues
- Haroldo Viegas
- Kraw Penas
- João Henrique Le Senechal
- Jonas Jr.
- J.S.Vieira
- Lígia Borba
- Lolô Camargo
- Mário Augusto
- Octavio Camargo
- Sérgio Sossela