Um livro que leva a outro livro que leva a outro livro que sempre leva a outro e outro livro. Uma história que leva a outra história que leva a outra história que sempre leva a outra e outra história.

“Universo de Palavras”, novo romance do escritor londrinense Eduardo Baccarin-Costa, percorre a infinita teia formada pela literatura na vida das pessoas. Nas palavras de Baccarin, “a vida é um mosaico no qual livros e histórias são absorvidos e transformados em novas histórias”.

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O lançamento de “Universo de Palavras” acontece neste sábado (25), às16 h, no Sesc Cadeião Cultural. Publicada pela editora Madrepérola, a obra narra a história de Teresinha, uma mulher que, para superar a morte do marido, decide ler todos os livros da biblioteca deixada pelo amado. Também narra, paralelamente, a história de Paulo, um jovem de periferia funcionário de supermercado que sonha em se tornar escritor. Através dos livros, as histórias de Teresinha e Paulo se cruzam e a literatura passa a transformar a vida de ambos.

Carregado de intertextualidade, a obra promove o encontro das personagens com dezenas de obras literárias. A seguir Eduardo Baccarin-Costa fala sobre seu novo romance e a importância dos livros.

“Universo de Palavras” fala sobre a importância dos livros e da literatura na vida das pessoas. Como você descreveria essa importância?

Eu creio que a literatura é fundamental na vida das pessoas. Lendo, você expande seu horizonte, e percorre caminhos que nunca imaginou. Uma pessoa que lê, até inconscientemente, desenvolve o senso crítico e passa a ver o mundo com os próprios olhos, e não com o olhar dos outros. Nossa história política recente mostra como pessoas que não têm o hábito de ler foram (e são) manipuladas para se tornarem massa de manobra. Uma pessoa que lê com frequência faz, naturalmente, sua leitura de mundo e de texto e se torna questionador. Vivemos numa sociedade em que questionar é transgredir, e que mentir é informar. Quem lê sabe bem a diferença dessas coisas.

No romance, o personagem Paulo, um jovem negro nascido na favela, utiliza a literatura para entrar na universidade, se formar professor e virar escritor. Você considera que a literatura pode ser um instrumento de transformação social?

Machado de Assis era negro, de periferia, e se tornou, talvez, o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Reconhecido em vida, inclusive. Carolina Maria de Jesus era favelada, e foi a literatura que deu um pouco de dignidade à sua vida. Esses dois exemplos mostram como a literatura apenas não transforma, como insere. Hoje a gente tem autores como Ferrez, Emicida e Marcelino Freire que vieram de um quadro de exclusão social para estarem no centro da nova literatura brasileira. Eu mesmo, enquanto professor de redação e leitura, por exemplo, vejo como muitos adolescentes veem a possibilidade de transformação e até ascensão social por meio da literatura. Então posso garantir: a literatura é um potente instrumento de transformação social.

Eduardo Baccarin-Costa com a escritora Maria  Valéria Rezende que assina o prefácio do seu novo livro
Eduardo Baccarin-Costa com a escritora Maria Valéria Rezende que assina o prefácio do seu novo livro | Foto: Divulgação

Em determinado momento do livro, uma das personagens afirma que “as pessoas precisam entender que ler é libertador, não só passatempo”. Por que a leitura pode ser libertadora?

Porque dá asas não só à criação, à imaginação, mas ao anseio de liberdade plena, de consciência social e política, de engajamento às grandes causas sociais que precisam de vozes e braços para que aconteçam. Essa ideia de literatura como entretenimento apenas é uma coisa muito da primeira geração do romantismo, no caso específico do Brasil. Um movimento, importante, mas que se tornou datado. Tanto que os próprios românticos produziram livros mais críticos depois como "Lucíola", "Senhora", "Memórias de um Sargento de Milícias", por exemplo.

O romance traz a ideia de que os livros conversam com as pessoas. E que os livros também conversam com outros livros. Como essas conversas acontecem? Você acha que essas conversas podem acontecer na forma de uma teia infinita?

A vida é uma sequência de relações intertextuais, nas quais nossas histórias acabam sendo entretecidas com outras, afirma a personagem Teresinha numa passagem de “Universo de Palavras”. Eu concordo com ela. Pensando a vida como um texto que é escrito em toda a existência, ela se relacionam nessa teia infinita. A ideia de que um texto é sempre um caleidoscópio de vários outros não é minha: é de uma pesquisadora chamada Julia Kristeva que definiu o conceito de intertextualidade nos anos de 1970. Todo texto é resultado de uma série de outros que o autor leu, ouviu, viu, e assimilou – conscientemente ou não – e transmitiu por meio do seu. Assim, eu acho que os livros acabam conversando sim.

“Universo de Palavras” é um romance que traz, dentro da narrativa, o processo de criação de um romance que o personagem Paulo está escrevendo. Qual sua intenção em apresentar ao leitor o processo de criação de um romance dentro de outro romance?

Como a ideia era tentar produzir um intertexto com mais de duas dezenas de livros, achei interessante falar do processo de criação e ligá-lo nessa verdadeira colcha de retalhos. A ideia de metaliteratura e de narrativa encaixada sempre me interessou. João Cabral e Ferreira Gular, por exemplo, fizeram muita metapoesia – a poesia que fala do fazer poético – e por isso resolvi falar do processo de criação da prosa. Claro que mesmo com a história de Ramon e Isabel acontecendo paralelamente com a de Paulo e Teresinha eles têm caminhos similares. Andar, lembrar, e depois mudar suas histórias. Sempre por meio de livros.

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Imagem ilustrativa da imagem Autor londrinense aborda em livro a infinita teia da literatura
| Foto: Divulgação

Serviço:

“Universo de Palavras”

Autor – Eduardo Baccarin-Costa

Editora – Madrepérola

Prefácio – Maria Valéria Rezende

Páginas – 198

Quanto – R$ 50

Lançamento – Sábado (25), às 16 horas, no Sesc Cadeião Cultural (Rua Sergipe, nº 52, centro de Londrina)

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