Muitas vezes utilizados apenas como forma de lazer, o jogo de dados também pode ser usado como forma de autoconhecimento. Um exemplo disso é o Maha Lilah, criado há mais de há 2000 anos por sábios indianos para representar aspectos da consciência por meio de dado, tabuleiro e cartas. O instrumento milenar védico ganhou uma versão brasileira criada pelo terapeuta paulistano Nickson Gabriel. Batizado de Jogo da Vida, a metodologia desenvolvida por ele é baseada na tradição indiana acrescida de conceitos da Jornada do Herói - de Joseph Campbell – e dos arquétipos de personalidade apresentados pelo psicólogo suíço Carl Gustav Jung, em 1919. O método que já conquistou mais de 10 mil pessoas se propõe a auxiliar os jogadores na tomada de decisões importantes que envolvem questões profissionais, familiares e amorosas, entre outras.

Ao iniciar o Jogo da Vida, o participante escolhe uma questão a ser trabalhada e ao rolar os dados tem a oportunidade de se conhecer melhor. “O Jogo possui 72 casas [no tabuleiro] que representam 72 aspectos da consciência. Nesse mergulho interior, o jogador vai tendo insights sobre o que está vivendo, de forma lúdica”, enfatiza Nickson Gabriel. 

Ele explica que se os dados levam até a casa do Arquétipo do Inocente, por exemplo, será um sinal de que jogador está na sua zona de conforto. “O chamado aqui é para observar como a zona de conforto se impõe na sua vida, se ela te paralisa ou leva à preguiça e à procrastinação. Se os dados levarem à casa da Avareza isso pode mostrar um lado do jogador relacionado com a ideia da falta e do medo da escassez. É como se o jogador acreditasse que se ele der o que tem – que pode ser, por exemplo, talento, amor, afeto, atenção - isso vai faltar mais tarde. Normalmente quando paramos nesta casa o jogo está nos levando a olhar de frente para o medo com o objetivo de construir a coragem necessária para fazer o que precisa ser feito”, explica.

O Jogo da Vida é uma ferramenta que pode ser usada sozinha ou em terapias. O criador do método afirma que já formou mais de 1,5 mil pessoas, das quais 1 mil psicólogos. Estima-se que o jogo já tenha atingido mais de 10 mil pessoas através dos terapeutas. A venda individual do kit do jogo está prevista para ter início ainda no mês de março pelo site www.ojogodavida.com.br.

Em entrevista à FOLHA, o Nickson Gabriel comentou detalhes sobre as metodologias usadas na criação do Jogo da Vida e como o método pode ser usado como instrumento para ajudar na tomada de decisões através do autoconhecimento.

Como o autoconhecimento pode ajudar no momento das tomadas de decisões?

Autoconhecimento deveria ser prioridade na vida de todas as pessoas porque não é possível alcançar o bem-estar e a felicidade sem autoconhecimento. É importante compreender que, por mais que acreditemos que decisões são racionais elas sempre têm também um cunho emocional. Sem que se perceba, uma decisão pode emergir de uma reatividade, do medo, de uma ferida de rejeição, por um complexo de inferioridade onde se tenta compensar através do orgulho. Esses são alguns exemplos. Sem autoconhecimento não se percebe as origens dessas decisões.

De que forma o método que o senhor utiliza surgiu?

Sou especialista em jogos e autoconhecimento há mais de 15 anos. Quando joguei Maha Lilah pela primeira vez me impactou profundamente e senti que ali tinha um chamado para mim. Mergulhei nos estudos, fui atendendo muitas pessoas durante todos esses anos, testando e ajustando a forma que daria mais resultado. Entrei em contato com a Jornada do Herói de Joseph Campbell e os 12 arquétipos comuns. Quando retornei da Índia em 2017, a metodologia finalmente estava pronta e realmente muito poderosa e eficiente.

Fazer o caminho do autoconhecimento através de um jogo não pode parecer um modo banal de chegar ao verdadeiro EU?

Pelo contrário. O jogo é muito simbólico e se comunica melhor com a linguagem do inconsciente. É o caminho mais instigante e prazeroso possível para lidar com aspectos profundos e desafiadores das dores que todos carregam. Jogando, sem perceber o paciente se abre mais, se vulnerabiliza e sem que se perceba a terapia vai para um nível muito profundo.

O acaso não pode acabar interferindo no jogo?

Acredito muito no fenômeno da sincronicidade, revelado através das observações de Carl Jung. Em síntese, nada é por acaso. O jogo sempre traz exatamente os pontos que precisam ser trabalhados.

O senhor tem exemplos concretos de pessoas que mudaram suas vidas a partir do jogo de autoconhecimento?

Uma médica estava em crise com a sua profissão e se sentia muito frustrada. Através do jogo pode compreender que a profissão que havia escolhido tinha nascido do medo da escassez e da expectativa que herdara dos pais. Seus talentos naturais e seus gostos ficaram soterrados na infância. Através do jogo ela pode observar e encarar esse medo. Ficou claro que a vida tinha um chamado para o que ela mais amava que era dançar. A partir de então ela integrou a dança como instrumento potencializador da saúde. Ela percebeu que era então única no que fazia. Ocupou agora de fato o seu lugar no mundo e descobriu que a prosperidade é uma consequência natural quando entregamos nosso tesouro para o mundo.