São Paulo, 08 (AE) - Tata Amaral embarca hoje para Los Angeles. Foi acompanhar pessoalmente, nos Estados Unidos, o processo de legendagem em inglês de seu novo filme. Ela precisa ter a cópia pronta nos primeiros dias de janeiro. Até o dia 15, a cópia de "Através da Janela" deverá estar na Holanda. O filme foi selecionado para integrar a mostra competitiva do Festival de Roterdã, de 26 de janeiro a 6 de fevereiro. Tata sugeriu a data de 1.º de fevereiro para a exibição. Ainda espera a decisão final da organização do festival.
Ela está em estado de graça. No começo do ano passado, mostrou "Um Céu de Estrelas" em Roterdã. O sucesso foi tão grande que Tata foi contactada por representantes da Hubert Bals Foundation, que homenageia o criador do festival. Eles quiseram saber de seus novos projetos. A Hubert Bals participou com US$ 30 mil da finalização de Através da Janela". A partir daí, ficou acordado que o filme seria exibido em Roterdã. Tata imaginava uma exibição fora de concurso, mas a organização do festival, ao ver uma cópia em vídeo da obra ainda não finalizada
convidou-a a integrar a competição. "Através da Janela estará
assim, na disputa pelo Tiger Award.
Não será o único representante do Brasil em Roterdã. O filme de Carlos Reichenbach "Dois Córregos também integra a programação, mas passa fora de concurso (a mostra competitiva é exclusiva para diretores estreantes, até o segundo filme). Reichenbach tem sido um frequentador assíduo de Roterdã desde os anos 80. Quase todos os seus filmes passaram lá, mesmo quando a mostra ainda não era competitiva. Ele chegou a dirigir um episódio para a produção "City Life, produzida pelos holandeses e realizada por cineastas revelados em Roterdã.
Reichenbach destaca o que lhe parece mais importante em Roterdã: "É um baluarte do cinema de expressão autoral." Tata concorda. Ela diz que Roterdã é a vitrine da produção alternativa e independente na Europa. E tem um mercado, o que poderá abrir as portas da União Européia para o trabalho dela e para o cinema brasileiro, em geral.
Tata está, como diz, na fase de lamber a cria. Não esconde sua satisfação diante de Através da Janela". A estréia mundial na Holanda lhe parece auspiciosa, mas a satisfação maior vem do resultado do próprio trabalho. Tata é crítica consigo mesma. Ainda não teve tempo de distanciar-se de Através da Janela para avaliar o filme melhor. Mas sua avaliação, feita no calor da hora, ainda ligada no trabalho, é de que atingiu seus objetivos. Dramaturgicamente, diz que o filme prossegue e até avança com uma pesquisa que já estava em Um Céu de Estrelas. A cineasta atualiza os mitos de Medéia e Jocasta, trabalha no limite entre o trágico e prosaico. Mas também é diferente. Aqui, a protagonista é uma velha, Selma, interpretada por Laura Cardoso. Até por causa dessa protagonista, "Através da Janela" é menos violento, "mais internalizado", como Tata diz, "mais contido".
"Um Céu de Estrelas" era mais violento, o que faz, em comparação, com que "Através da Janela talvez seja mais palatável. Mas Tata avalia que evoluiu como diretora. Aqui ela trabalha mais os silêncios, os olhares, os pequenos gestos. Define o filme como "mais sutil". Não poupa elogios à equipe: os roteiristas Jean-Claude Bernardet e Fernando Bonassi, o fotógrafo Hugo Kovensky. Todos já estiveram juntos em Um Céu de Estrelas". Não se trata de seguir o chavão "não se mexe em time que está ganhando". Tata gosta mesmo de trabalhar em equipe, com essas pessoas que a acompanham na sua pesquisa.
É assim que ela define seu cinema: pesquisa de linguagem
indagação da realidade. Tata prepara-se agora para outra batalha. Precisa arranjar dinheiro para a comercialização. A Riofilme, distribuidora da maioria dos filmes brasileiros, entra com pouco dinheiro para finalização, para trailer, cópias e cartaz. Isso condena os filmes a lançamentos pequenos. Tata gostaria de um lançamento maior. Não sonha com 50, 100 ou 200 cópias. Apenas gostaria que Através da Janela" saísse do gueto e levasse sua nova proposta a um público maior.