Atividades culturais dão vida nova ao centro histórico de Londrina
Com prédios importantes e muita programação, o centro histórico ganha mais espaços culturais e feiras noturnas que repaginam a cidade
PUBLICAÇÃO
sábado, 16 de dezembro de 2023
Com prédios importantes e muita programação, o centro histórico ganha mais espaços culturais e feiras noturnas que repaginam a cidade
Walkiria Vieira
Sessões de cinema no Espaço Villa Rica, espetáculos de teatro na AML Cultural , shows na Concha Acústica, feiras gastronômicas ao ar livre, além de exposições e lançamentos na Biblioteca Pública são alguns programas que têm atraído as pessoas para o centro histórico de Londrina, onde também se encontra o importante prédio da Secretária de Cultura, obra de referência projetada por ninguém menos que Vilanova Artigas.
O Cine Teatro Ouro Verde (outra obra de Artigas) e suas sessões de cinema, espetáculos variados e apresentações de orquestras, enriquecem o turismo cultural bem no coração da cidade. Com público diversificado e a reunião de gerações, os eventos unem nostalgia, arte, cultura e um sentimento comum a todos: o pertencimento. E o fenômeno vem ganhando fôlego de uns dois anos para cá dando ao local a ideia de uma cidade pulsante.
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As crianças correndo no gramado da Secretaria de Cultura, os idosos tomando garapa e comendo pastel. Uma fila do cinema que sai da Galeria do Villa Rica e chega à rua Piauí. Vizinhos com seus animais de estimação procurando saber qual a sinopse do filme e também o que é o movimento na AML Cultural, além dos bares tradicionais que sempre atraíram pessoas para um happy hour na região.
Essa é a descrição da cena no centro da cidade - quando, na mesma sexta-feira, havia feira na Concha, filme no Cine Villa Rica e a apresentação do espetáculo "Dr. Gabriel - Uma Alma Partida", de Marco Antônio Fabiani, na AML Cultural
PRESTÍGIO DO PÚBLICO É INCENTIVO
Do ponto de vista do Gerente Criativo da AML Cultural , João Vidotti, esse é um caminho que tem tudo para dar certo. "A arte e a cultura são intrínsecas ao desenvolvimento da própria humanidade. Assim, uma proposta sólida de atuação nestas áreas, numa cidade de vanguarda como Londrina, que sempre foi um polo de produção artística, é importante".
A Associação Médica, ao longo de seus 82 anos de existência, sempre fomentou a cultura em Londrina. O prédio da primeira sede da instituição, hoje AML Cultural, foi palco de apresentações artísticas de vários segmentos desde de sua fundação. Após a construção da sede atual, o prédio histórico passou por gestão de outras instituições tendo retornado para as mãos de sua mantenedora original em 2018.
O propósito da AML Cultural é o de dar fomento à cultura e preservação da memória da cidade de Londrina, principalmente porque os primeiros médicos da cidade chegaram com os primeiros pioneiros.
Assim, os pilares da AML são: arte, educação, saúde e comunidade. Nessas frentes, a instituição tem atuado intensamente desde sua inauguração em outubro de 2021, quando retomou as atividades presenciais após a pandemia.
Desde a reinauguração do prédio o volume das apresentações culturais vêm numa ascendente. "A iniciativa veio da gestão anterior de Beatriz Emi Tamura e a nova gestão, de Rosana Nechar, caminha no mesmo sentido. A Cafeteria Odebrecht já está em funcionamento para todo o público e em março temos previsão de inaugurar o Memorial Histórico da Medicina em Londrina", conta.
Vidotti considera que o hábito de consumir cultura exige investimento. "Hoje há uma efervescência cultural e artística florescendo novamente em Londrina, o público tem comparecido, não só pela carência do hábito mas também pela alta qualidade e diversidade das apresentações da AML Cultural", ratifica.
Com 1200 metros, um teatro com 126 poltronas e seis salas multiculturais, Vidotti celebra o movimento da unidade. "A arte é alimento para a alma. Aqui há experiências reunidas em local de valor histórico, em momentos de desconexão das prisões do dia a dia como os celulares e as redes sociais", pensa Vidotti.
A CONCHA VIVE
Feira gastronômica, contação de história, atividade física e shows no palco da Concha Acústica passaram a integrar moradores dos condomínios do entorno, comerciantes e moradores de outros bairros.
De acordo com a presidente da Concha - Associação dos Amigos e Moradores do Centro Histórico de Londrina, Iara Franco Coutinho Hernandes, as pessoas estão contentes com as feiras culturais e gastronômicas. "Agradecem a inciativa e dizem que era necessário esse resgaste aqui no centro histórico. Dizem que não havia opções de onde ir aqui no centro à noite. As feiras ao ar livre integram a cultura do londrinense. Havia feiras no fim do ano e elas marcam a memória de gerações. Hoje, no atual formato, com as duas feiras, uma às terças e outra às sextas, as pessoas aderiram", comenta.
Hernandes destaca que a segurança ofertada faz a diferença no bem estar dos frequentadores do espaço. Pessoas de diferentes regiões trazem movimento à feira. "Eu pergunto às pessoas de onde são e gosto de conhecer o público, desejo boas-vindas, pois trazer os londrinenses para o centro de Londrina é a nossa vontade", afirma.
O passeio intitulado "Roteiro Histórico da Concha Acústica" é uma das ações presentes do projeto da Associação de Amigos e Moradores do Centro Histórico de Londrina. Um dos objetivos é valorizar o espaço que vai além da Concha Acústica. O roteiro, de acordo com Leandro Henrique Magalhães, Professor Doutor em História e condutor do roteiro histórico da Concha Acústica , fortalece a identidade do espaço, o senso de pertencimento e também o cuidado.
O primeiro passeio foi realizado recentemente e contou com a representante do Sindicato Estadual de Guias de Turismo do Paraná, Rosângela Aparecida Ribeiro Gondo, a Secretária de Turismo do Paraná, Sandra Nadja Camacho e da autora e contadora de histórias tia Wilma.
Com 49 shows programados para as próximas sextas-feiras, o projeto Viva a Concha, aprovado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), é um motivo e tanto para que todos se programarem para ocupar o o espaço público com urbanidade. "As bandas ficam muito satisfeitas e todas querem ter em seu currículo a apresentação nesse palco de grande importância".
A CANA, O CAFÉ E O VINHO: CULTURAS
Linton Park Café Malbec é um vinho originário do Sul da África. O vinho que tem café no nome é assim batizado porque as parreiras de Malbec são plantadas intercaladas com pés de café. "O que dá complexidade ao vinho e inclusive notas que lembram café", é o que explica o empresário Edmilson Palermo Soares.
Curiosidades como essa integram a formação de Soares que não se acanha em se dividir seus conhecimentos com quem se dá ao prazer se reunir-se com ele em torno da mesa. Em sua loja de vinhos, na Galeria do Villa Rica, além de realizar a venda de bebidas, dá cursos e realiza eventos para quem tem interesse em saber mais sobre a cultura da uva, suas variedades e os encantos do mundo do vinho.
Com raízes na região central, ele frequenta o Centro Comercial desde a década de 60, local onde sua avó, a professora Maria Barroso Soares, se instalou vizinha ao Bosque Municipal Marechal Cândido Rondon.
Na Londrina que forjou seu nome mundialmente pelos grãos de café, Soares resiste em seu ponto comercial na Galeria Villa Rica em uma profunda reverência ao fruto da videira. "Nossa cultura é oriunda da cana-de-açúcar, que mascara o paladar, já o vinho é diferente", sorri. Com rótulos de 20 países, pretende somar 24 para o ano de 2024 com boas perspectivas, sobretudo pelas ações culturais realizadas no centro histórico.
RENASCIMENTO DO ESPAÇO VILLA RICA
O Espaço Villa Rica integra a Sala Villa Rica, Sala Londrina, Espaço Estúdio, Espaço Coworking e o Espaço Café, um investimento que representa um marco na revitalização da área central de Londrina.
Sócio do Espaço Villa Rica, Rodrigo Fagundes considera que o público sempre teve essa necessidade de arte e cultura. "Mesmo com as novas formas de consumir esses conteúdos como streaming, por exemplo, sempre haverá espaço para as salas de cinemas e os eventos", alegra-se.
Atento aos expectadores, segue renovando-se. "Acredito que nesse período, ainda curto, de operação e ouvindo muito o público que frequenta a casa, começamos a entender um pouco das necessidades, que nem sempre é o novo lançamento de um super-herói mas um bom filme, seja um clássico ou uma novidade que nos tira da rotina de espectador passivo e nos leva a pensar e ver coisas diferentes", divide.
Com um olhar voltado para a arte, ele também comemora as atrações e o público que as prestigia: "Nesse ano, conseguimos ser palco e tela de "Oppenheimer" a uma mostra de Godard, de filmes que foram exibidos apenas nessa sala de cinema, filmes que ganharam o Oscar, além de festivais nacionais e internacionais", cita, referindo-se, por exemplo, ao Filo - Festival Internacional de Londrina - e às exibições da produtora Kinopus que lotaram o espaço
Em relação ao período de exibições, iniciado somente após a pandemia, Fagundes avalia: "Nosso feedback do público é no sentido de que foi um ano com vários testes, com diversos tipos de conteúdos, como por exemplo, sessões de clássicos, festivais, filmes que não se encontram nas grandes redes. Tivemos também espetáculos teatrais, musicais e é isso o que queremos apresentar em 2024, essa união de música e cinema, grandes lançamentos e filmes locais", afirma. E conta que deverá retornar a programação de filmes no final do mês de janeiro.