| |

A CIDADE FUTURA 5m de leitura

Astrojildo Pereira, um lutador pelas causas sociais

Sua trajetória se confunde com os grandes acontecimentos históricos do Brasil no século 20

ATUALIZAÇÃO
12 de abril de 2022

Marco A. Rossi
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Astrojildo Pereira, um lutador pelas causas sociais

Astrojildo Pereira (1890-1965) foi um militante político incansável. Foi também um talentoso crítico cultural. Sua trajetória se confunde com os grandes acontecimentos históricos do Brasil no século 20. Neste ano que marca o centenário do Partido Comunista do Brasil, fundado em 25 de março de 1922, a vida e a obra de Astrojildo merecem novo destaque.

Sua fé nas lutas sociais foi tão intensa que acabou traduzindo sua própria existência. Inquieto e radical desde a juventude, Astrojildo Pereira passou por muitos aprendizados políticos. No início do século passado, na condição de democrata incorrigível, participou da campanha civilista de Rui Barbosa à Presidência da República. Diante da radicalização da ação conservadora no país e no mundo, aderiu às ideias anarquistas. Em 1911, num navio, partiu para a Europa, de onde trouxe inúmeros livros. De volta ao Brasil, dedicou-se integralmente ao movimento ácrata.

Astrojildo Pereira trabalhou em vários veículos da imprensa independente. Era dono de uma escrita fina, elegante e extremamente cativante; deixava-se fisgar pelo tema de seus textos e neles transbordava paixão. Ainda muito garoto, sabendo que Machado de Assis estava doente em casa, visitou o bruxo do Cosme Velho. Diante do mestre, ajoelhou-se e beijou-lhe a mão. Entrou e saiu sem dizer o nome. Sua relação íntima com a obra de Machado de Assis explica muito de seu talento para a vida literária.

A partir da década de 1920, Astrojildo foi se tornando, pouco a pouco, socialista. Sob impacto da Revolução Russa de 1917 e encantado com o que estava acontecendo na recém-fundada União Soviética, aderiu ao comunismo e foi um dos nove fundadores do Partido Comunista do Brasil (PCB).

Astrojildo Pereira
 

O PCB, muitas vezes dogmático e intransigente, impunha rígida disciplina aos seus membros. Astrojildo lutou muito para dar ao partido feições mais abertas e democráticas. Por fim, depois de muito sofrimento, deixou o PC em 1931. Voltaria em 1945, após pesada autocrítica e na condição de intelectual responsável por criar uma política cultural para os comunistas. Durante seu “exílio” (sem jamais abandonar a militância) dedicou-se ao comércio de frutas e à sua grande paixão: a literatura. Nunca mais fora dirigente nem esteve entre os grupos decisórios da agremiação.

Após 1956, com os processos de “desestalinização” do PCB, pôde dirigir duas importantes publicações, “Literatura” e “Estudos Sociais”, ambas fundamentais para os novos ares que ganhavam lugar entre os comunistas brasileiros. Astrojildo Pereira publicou em vida cinco livros – inclusive um intitulado “Machado de Assis” –, todos, agora em 2022, reeditados pela Boitempo Editorial, em belíssimo acabamento gráfico.

O golpe militar de 1964 ainda atingiria Astrojildo Pereira. Após um tempo na clandestinidade, apresentou-se ao comandante de um dos Inquéritos Policiais Militares em que era citado. Foi interrogado sobre toda a atividade de sua vida desde o início do século 20. Foi solto pouco antes de sua morte, em janeiro de 1965. Tornou-se, então, imortal.

...

A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

...

Esse conteúdo é restrito para assinantes...
Faça seu login clicando aqui.
Assine clicando aqui.

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS