Assombrações de Londrina
Tradição oral ajuda a conhecer contos e lendas da cidade, um ótimo apelo para Dia das Bruxas
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 31 de outubro de 2019
Tradição oral ajuda a conhecer contos e lendas da cidade, um ótimo apelo para Dia das Bruxas
Jair Queiroz Segundo
Todo mundo gosta de ouvir uma boa história. Tanto que facilmente se verifica o sucesso na produção de conteúdo para web ou aplicativos de streaming com roteiros cheios de causos ou relatos misteriosos e de suspense, ficção e realidade. Porém,é na rua, na varanda das casas, ao pé de uma fogueira e nas rodas de escola que as lendas urbanas ganham corpo, forma, detalhes e se eternizam.
Por falar em escola,quem nunca ouviu falar da “loira do banheiro”. A lenda urbana que deixou gerações de pequenos estudantes segurando o xixi na hora do intervalo escolar é conhecida pelos quatro cantos do Brasil e cada lugar acrescenta a ela suas peculiaridades. Há os que dizem que para ela aparecer é preciso puxar a descarga três vezes enquanto fala palavrões. Outros acreditam que se xingar em frente ao espelho, a moça fantasma aparece para assombrar e independente dos detalhes, a “loira do banheiro” é um dos casos que faz parte do imaginário de Londrina que mantém viva suas próprias lendas urbanas.
A caminho dos 85 anos, a cidade é palco de muitas histórias e personagens inusitados. Um deles,“o homem das latas”. Diz a lenda que na madrugada, um passante que cruzasse o Bosque Central podia ver um homem que andava por ali com várias latas amarradas por fios na cintura e o barulho delas, arrastando no chão,podia ser ouvido de longe por quem morava ao redor,aumentando o mistério.
É também próximo ao Bosque que se passa a lenda do “Grande golpe de 1940”, no Banco Noroeste. O banco ficava na Avenida Rio de Janeiro e era vizinho da pensão da dona Lúcia Olivério. A mulher estava sendo cortejada por um de seus hóspedes, um topógrafo muito simpático que trabalhava para a Companhia de Terras Norte do Paraná. Em um belo dia, dona Lúcia esperava o homem na quermesse da Igreja Matriz como haviam combinado, mas ele não apareceu. Ao voltar à pensão, ela notou que seu namorado tinha cavado um buraco que começava no quarto onde estava hospedado e levava até o Banco Noroeste. O topógrafo havia entrado no banco e roubado o dinheiro dos fazendeiros do café. Na fuga, deixou para trás apenas um bilhete para a dona pensão escrito: “Teu amor me trouxe a sorte grande”. Acredita-se que esse foi o primeiro assalto da cidade.
Histórias curiosas
O escritor Maurício Mendonça reuniu esse e outros causos da cidade no livro “Londrinenses”, uma coletânea de contos publicados pela Folha Norte de Londrina, que misturam ficção e realidade. Mendonça acredita que contar a história da cidade por meio de contos e lendas pode criar nas pessoas uma afetividade com o local onde vivem. “A cidade muda tanto que é difícil manter as memórias do passado vivas. Essas lendas e contos atraem as pessoas para pesquisarem mais sobre a história de Londrina. É também uma forma de elas criarem uma relação afetiva com a cidade”, comenta.
A diretora do Sistema de Bibliotecas da Secretaria Municipal de Cultura Leda Maria Araújo concorda com a efetividade das lendas urbanas em atrair as pessoas para conhecerem a história de Londrina. “Por serem causos inusitados e misteriosos, eles instigam a curiosidade principalmente em crianças e adolescentes. Muitos deles procuram sobre as histórias depois de ouvirem as lendas e acabam aprendendo de forma mais lúdica o que é real e o que é ficção.”
Araújo participou do projeto “Lendas Urbanas de Londrina: Histórias para Ouvir e Contar”, no qual se podia ouvir a história do desenvolvimento da cidade por meio de contos e lendas. “Além de divertir as crianças e pré-adolescentes, as lendas urbanas transmitem conhecimento, informação, conteúdo e são muito importantes para manter a identidade e a cultura do povo. Elas também estimulam a oralidade e a criatividade”, aponta.
Tradição oral
Apesar de existirem livros e outros meios que relatam lendas urbanas, elas permanecem vivas graças à oralidade. O coordenador da Escola Municipal de Teatro de Londrina Silvio Ribeiro acredita que a tradição oral deve ser preservada. “Contar histórias do imaginário para as novas gerações sempre será importante. Independente se forem lendas urbanas ou fatos reais, pelo menos esses momentos de conversa podem render boas risadas”, comenta.
Em clima de “Dia das Bruxas”, celebrado nesta quinta-feira (31), a FOLHA reuniu em vídeo especial outras lendas urbanas famosas no imaginário dos moradores de Londrina, como a história do “Lobisomem do Jardim Tokio”.
Não há como comprovar se algum desses casos pode ser real, mas a certeza é que eles fazem parte do folclore da cidade e mexem com a memória afetiva de muita gente. Ribeiro conta que foi a sua avó que contou muitas das lendas que ele conhece e compartilha com os outros até hoje. E como diz o ditado castelhano “No creo em brujas, pero que las hay,las hay” (Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem).
Confira o vídeo:
*Supervisão: Patrícia Maria Alves e Célia Musilli