As histórias completas de H. P. Lovecraft começam a ser publicadas
Lovecraft e o horror cósmico em 'Biblioteca Lovecraft'
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 30 de outubro de 2019
Lovecraft e o horror cósmico em 'Biblioteca Lovecraft'
Marcos Losnak
O escritor norte-americano H. P. Lovecraft (1890 – 1937) afirmava que a emoção mais antiga e mais forte da humanidade era o medo. E que o tipo mais antigo e mais forte de medo era o medo do desconhecido.
Nos dias atuais a literatura de Lovecraft possui uma legião de admiradores, do leitor comum a autores como Stefhen King e Michel Houellebecq. Mas nem sempre foi assim. Na verdade, antes de se tornar um clássico, nunca conseguiu publicar um único livro até falecer de câncer em 1937, aos 47 anos. Todas suas histórias foram originalmente publicadas em revistas de pulp fiction.
Howard Phillips Lovecraft foi o grande criador do horror cósmico, gênero literário desenvolvido em oposição ao horror gótico. Suas histórias, inspiradas na estética de Edgar Allan Poe (1809 – 1849), abandonaram o ser humano como gênese do horror para colocar a gênese em seres de outra dimensão, em seres de outra realidade.
Fazendo uso do fantástico, a narrativa de Lovecraft recusa o mundo real. Sempre está na fronteira entre a realidade e a imaginação, ou completamente em outra realidade, em outra dimensão. Para isso criou uma mitologia própria, uma mitologia de outro mundo onde o etnocentrismo humano é destronado, onde a humanidade torna-se totalmente insignificante e desprezível.
No Brasil a obra de Lovecraft já foi publicada por várias editoras como Hedra, Iluminuras, Dark Side, L&PM, Campanário e Pandora. Agora chegou a vez da Companhia das Letras lançar suas histórias completas divididas em três volumes.
“Biblioteca Lovecraft – Volume 1” chega às livraria no dia 15 de novembro. Os segundo e o terceiro volumes chegam em 2020. O primeiro volume traz uma das histórias mais emblemáticas da obra do escritor: “O Chamado de Cthulhu”.
O conto traz o relato de um jovem que começa e investigar a morte de seu tio-avô e descobre algo tão assustador que não deseja que outras pessoas tenham conhecimento. Descobre que existe um ritual primitivo que cultua um ser que representa tudo de mais assustador que um homem foi capaz de ver. Esse ser é o último espécime de extraterrestre que habitou o planeta Terra antes do ser humano existir.
Conhecido como Cthulhu, trata-se de um monstro com cabeça de polvo, corpo de dragão, patas de rinoceronte e asas de morcego. Vive adormecido numa cidade submersa nas profundezas do oceano, mas é capaz de invadir o sonho dos seres humanos. Consegue produzir sonhos capazes de enlouquecer qualquer sujeito.
Aqueles que, por ventura, conseguem visualizar Cthulhu, mesmo em sonhos, experimentam a seguinte sensação: “Há uma sensação de vertigem espectral por abismos líquidos do infinito, de corridas alucinadas por universos instáveis montado numa cauda de cometa, e de saltos histéricos do poço à lua e da lua novamente ao poço, tudo animado por um coro cachinante dos corrompidos, hilários deuses antigos e dos zombeteiros duendes verdes com asas de morcegos do Tártaro.”
Antimoderrnista
Apesar de produzir sua obra nas décadas de 1920 e 1930, Lovecraft era antimodernista. Também tinha ojeriza ao progresso industrial. Sua linguagem era fundamentada na literatura do século 19. E nas 64 histórias (contos e novelas) que deixou, não há nenhuma única menção a duas coisas: sexo e dinheiro.
A vida de Lovecraft foi uma coleção de dramas, tragédias e problemas. Filho único nascido numa família rica e aristocrática, na infância viu o pai enlouquecer devido às sífilis. Na adolescência viu a mãe seguir o mesmo caminho. Até os 35 anos de idade nunca havia trabalhado, não sabia o que era ter um emprego para sobreviver. Em sua postura de aristocrata, trabalho era para os pobres.
Em grande parte da vida H. P. Lovecraft foi um aristocrata reacionário, puritano, racista, preconceituoso, xenofóbico e antidemocrático. Quando a família perdeu a fortuna, isolou-se do mundo vivendo da mão para a boca. Suas posições mudaram lentamente até morrer solitário.
Como o pai e a mãe, passou uma temporada no hospício onde desenvolveu, em 1927, o esboço de “Necronomicon”. Publicado em 1938, “Necronomicon” é um livro fictício, escrito no século 6 d.C. por Al Azif, um autor igualmente fictício. A obra traz uma série de rituais para falar com mortos e entidades sobrenaturais, receitas para se transportar para outras dimensões, procedimentos para ressuscitar antigas divindades banidas da Terra, invadir sonhos alheios e outras coisas mais. E a simples leitura de suas páginas pode levar o leitor à loucura. Ou à morte. Não há escolha.
Serviço:
“Biblioteca Lovecraft – Volume 1 – O Chamado de Cthulhu e Outras Histórias”
Autor – H. P. Lovecraft
Editora – Companhia das Letras
Tradução – Guilherme da Silva Braga
Páginas – 448 (capa dura)
Quanto – R$ 69,90