A coprodução esloveno-croata "Homens que Jogam" levou o principal prêmio desta edição do festival
A coprodução esloveno-croata "Homens que Jogam" levou o principal prêmio desta edição do festival | Foto: Divulgação



Nunca é missão fácil fazer a curadoria de um festival de cinema, ou de uma sala de exibição não ligada ao esquemão comercial, vale dizer, os chamados nichos alternativos. Ambos os espaços passam ao largo daquele conceito pipoqueiro e superficial, "aqui é o lugar da diversão". Até admite-se a pipoca nesta relação do espectador com o filme não comercial, mas não como entendem os cânones puramente mercantilistas da indústria cinematográfica, ancorada na troca imediatista e primária do toma-lá-seu-filme-dá-cá-meu-ingresso. Os multiplex, com sua fertilidade procriadora via incubadora de shopping centers, quase sempre prescindem de uma curadoria, uma vez que a programação já sai pronta da mesa das redes exibidoras, sempre atentas aos apelos da política gananciosa dos distribuidores. Qualidade do produto aí já é outra história.

Assim, em meio a uma gigantesca e asfixiante regra mundial, os curadores serão sempre as exceções. Mas como seria maravilhoso viver uma experiência utópico-cinéfila, na qual o descartável e o insignificante fossem mera figuração, ou nem isso, e o que realmente importasse fossem a independência, a criatividade, o baixo orçamento, temáticas e técnicas não convencionais, o novo, o original (e não os reboots, remakes e sequelas, como se o cinema fosse resultante de mal funcionamento fisiológico, nascido de complicações epidêmicas). E então o espectador descobriria um admirável mundo novo e diria "aqui é o lugar da invenção". Não se trata de "gostar do que ninguém conhece", mas de procurar expressões artísticas de realizadores que, a partir de grande liberdade criativa, querem reavaliar e construir narrativas fora dos padrões da indústria de entretenimento. O que não significa descartar a busca por grandes plateias.

Assim, este ano deve-se à curadoria do 7º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, uma acurada seleção de filmes. O evento, com duração de nove dias, exibiu 156 títulos brasileiros e estrangeiros de curta, média e longa-metragem, nas categorias ficção, documentário, experimental e animação, além das retrospectivas. Encerrado no início da semana, o Olhar de Cinema premiou como realização vencedora desta edição a coprodução esloveno-croata "Homens que Jogam". Mix de documentário e experimental (funciona muito como um ensaio), o filme de Matjaz Ivanisin lança um olhar entre anedótico e burlesco ao universo masculino mediterrâneo que brinca e joga jogos peculiares. O longa brasileiro "Sol Alegria", de Tavinho Teixeira e Mariah Teixeira, recebeu o Premio Especial do Juri.