A artista londrinense Ariel Trippy, 21, foi atacada por volta das 23h30 de sábado (23) com uma garrafada na cabeça. A agressão aconteceu na rua Gomes Carneiro, quase esquina com a avenida Higienópolis (Centro), logo após Ariel se apresentar no Bloco da Elke, uma das atrações do Carnaval local, que foi realizado no Zerão.

Ariel Trippy foi atacada após realizar seu show no Zerão no Bloco da Elke
Ariel Trippy foi atacada após realizar seu show no Zerão no Bloco da Elke | Foto: Reprodução/You Tube

Segundo Renata Borges, que estava acompanhando Ariel, elas estavam retornando do Zerão quando tudo aconteceu. Renata ressaltou que não foi um ataque homofóbico, já que a pessoa que agrediu foi identificada como homossexual, ex-amiga de Ariel. “A gente foi seguida por uma pessoa, um gay. Ela ficou afrontando ela. Foi uma coisa bem unilateral para a Ariel”, relata. O ataque foi pelas costas e atingiu a cabeça da vítima. Segundo Renata, o socorro demorou mais de 20 minutos e Ariel foi encaminhada ao hospital Evangélico. “A Ariel é uma artista local que faz parada LGBT de Londrina e Apucarana e que está fazendo um concurso nacional de drag queen.”

Renata aponta que o ato foi fruto de maldade humana associada com o álcool. “A pessoa estava completamente alcoolizada. Aí a gente vê o porquê a gente deve debater dentro do próprio movimento LGBT a questão do consumo de drogas e álcool”. Segundo ela, a população LGBT consome mais drogas e álcool do que o restante da população. “As pessoas são mais suscetíveis à depressão. Nesses eventos elas usam o álcool. Essa pessoa estava completamente alcoolizada”, enfatiza.

Um estudo recente da LGBT Foundation encaminhado por Renata à reportagem descobriu que o uso de drogas entre pessoas LGBT é sete vezes maior que o da população geral, o excesso de consumo de álcool entre gays e homens bissexuais é duas vezes maior, e a dependência em substâncias químicas é significativamente mais elevada.

O estudo também diz que uma das causas para isso é a atitude que a sociedade tem quanto à comunidade LGBT, já que ainda não aceita completamente a ideia de que as pessoas podem ser algo além de heterossexuais e cisgênero [nascida no gênero físico com o qual você se identifica]”. O texto aponta que todos os gays e homens bissexuais, assim como as mulheres homossexuais e bissexuais, e pessoas trans, crescem escutando ofensas homofóbicas e transfóbicas e isso envolve um estresse constante.

A mãe da vítima, Vera Lúcia Gonçalves, destaca que Ariel sangrou muito e teve de receber suturas na cabeça. A vítima foi submetida a uma tomografia para avaliar se houve danos mais graves na cabeça. “Não sei o motivo que levou essa pessoa a fazer isso. Devemos sempre respeitar as pessoas, conversar e nunca partir para a violência”, destacando que o agressor poderia ter matado Ariel. “Eu fico muito triste com tudo isso, pois perderam o respeito um pelos outros”, aponta.

O produtor de eventos Wellington Souza, amigo de Ariel, relata que ainda estava no Zerão quando ligaram para ele avisando do episódio. “Eu cheguei pouco após ter acontecido. Até o momento eu não sei o motivo do ataque. Ajudei no atendimento e contato da família por ser próximo da Ariel, mas ainda não consegui falar com ela para saber se houve algum motivo para o ataque”, destaca. “As duas já foram amigas, porém estão sem contato faz alguns anos”, ressalta.

Relatos de amigos de Ariel apontam que a perseguição já vem ocorrendo há tempos.

Souza ressalta que o show de Ariel tinha sido incrível. “Ariel é cantora e dançarina. Costuma fazer um show completo, com coreografia, músicas autorais e alguns covers de Pablo Vittar, Glória Groove, artistas LGBT e similares”, destaca.

ESCLARECIMENTO DA ORGANIZAÇÃO

A agressão ocorreu distante do espaço em que foi realizado o Bloco da Elke. A coordenadora geral do Carnaval de Rua de Londrina 2020, Danieli Pereira, ressalta que o projeto Carnaval Bloco Bafo Quente prevê a realização de shows e atividades em espaços públicos no município. “Ontem (sábado, dia 22) a gente já teve o CLAC com a programação infantil. Hoje (domingo, dia 23) teremos o trio elétrico com dois blocos selecionados por edital mais o bloco Bafo Quente, que é o anfitrião. Temos o encerramento na terça-feira (25) na praça Nishinomiya. Para esse eventos com programação extensa com mais de quatro horas de duração a gente acaba tomando cuidados que são indicados para esse tipo de evento com relação à segurança e tudo mais.”

Ela destaca que no sábado, por exemplo, o carnaval infantil teve segurança, pessoas para a realização da limpeza do espaço e a presença de uma ambulância. “Para hoje (domingo, dia 23) temos uma estrutura maior. O projeto tem suas limitações e dentro das possibilidades estamos dando o nosso máximo”, garante.

O projeto prevê a presença de duas ambulâncias e um efetivo de 20 seguranças e cinco bombeiros civis contratados e trinta cabines de banheiros químicos. “A gente consegue garantir a segurança do trio, do entorno do trio em relação ao público e ao caminhão”, esclarece. Ela informa que antes do evento acontecer, a organização teve reuniões com vários setores do poder público, entre elas CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), Polícia Militar, Guarda Municipal e Sema (Secretaria Municipal do Ambiente) para garantir as liberações de forma viável para todos e também como uma forma de informar que o evento está acontecendo.

Ela ressalta que no evento de domingo (23) haverá a presença de vários funcionários da CMTU para assegurar a limpeza e também batedores que seguirão à frente e atrás do trio elétrico, garantindo a segurança do trio e a segurança do trânsito. “Claro que a gente nunca sabe se vai dar 100 pessoas ou dez mil. De qualquer forma a gente precisa pensar em tudo isso e dentro do possível assegurar a segurança daqueles que estiverem presentes, e a nossa também, com relação a esse pensamento coletivo que a gente precisa ter quando a gente está colocando alguma coisa em espaço público”, afirma Pereira.