Aos 89 anos, Elza Soares desfila na Mocidade
Vila Isabel, Salgueiro e Beija-Flor privilegiaram desfiles abstratos; Mocidade homenageou uma das maiores sambistas do Brasil
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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020
Vila Isabel, Salgueiro e Beija-Flor privilegiaram desfiles abstratos; Mocidade homenageou uma das maiores sambistas do Brasil
Julia Barbom e Michel Alecrin/ Folhapress
Rio de Janeiro - O abstrato e o lúdico deram o tom da Sapucaí em sua segunda e última noite de desfiles. As escolas que apostaram nessa pegada e se destacaram foram a Vila Isabel, o Salgueiro e a Beija-Flor, com enredos inusitados e bem executados.
As críticas políticas e sociais, que vieram mais fortes no primeiro dia, ficaram em segundo plano desta vez, exceto pela sátira ao presidente Jair Bolsonaro na apresentação da São Clemente, com o humorista Marcelo Adnet fazendo até flexões em uma das alegorias.
Ainda no início da noite, a Unidos de Vila Isabel arrebatou o público contando uma história sobre a criação de Brasília (que completa 60 anos em 2020) bem diferente da que se lê nos livros. A cidade teria sido fruto de uma visão do curumim (menino), transmitida pela jaçanã (ave). O último carro fez jus à historiografia sobre a cidade e homenageou os arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, que efetivamente idealizaram sua arquitetura e urbanismo modernos.
Já a Acadêmicos do Salgueiro transformou a Sapucaí num grande picadeiro de circo no terceiro desfile da noite, com um enredo sobre Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro brasileiro. Ele faria 150 anos em 2020.
A Beija-Flor de Nilópolis também fechou a noite com um desfile grandioso e impactante, como prometido, se credenciando a disputar seu 15° título. O enredo foi "Se essa rua fosse minha", contando a história dos caminhos percorridos pelo homem por meio de lendas e mitos sobre estradas, vias e ruas, até desembocar na avenida Marquês de Sapucaí.
Críticas sociais
Primeira a desfilar, a São Clemente usou o humor para criticar os políticos em geral e um deles em particular: Jair Bolsonaro (sem partido). A cultura malandra dos brasileiros como um todo também foi alvo da escola.
A Mocidade surpreendeu pouco, mas segurou a plateia com um samba forte cantado também por mulheres. "É sua voz que amordaça a opressão", dizia a música, que homenageou Elza Soares desfilando em carne e osso no último carro. Trouxe temas como machismo e racismo.
Já a Unidos da Tijuca repetiu a velha fórmula do carnavalesco Paulo Barros, introduzida com o carro do DNA de 2004. O enredo sobre arquitetura foi de fácil compreensão, mas não empolgou a avenida por falta de novidades.