Antártida: turismo vira uma aventura
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quarta-feira, 09 de fevereiro de 2005
Adriana Moreira<br> Agência Estado
São Paulo - Distante, intocado, gelado, mas cheio de vida. Lar de pinguins, baleias e leões-marinhos, a Antártida tem belezas vistas por pouquíssimas pessoas. No verão, período em que não anoitece no continente branco, navios com turistas de todo o planeta aproveitam para se aproximar de um dos pontos mais inóspitos da Terra.
Quem se aventura, volta apaixonado. O melhor exemplo é o casal de gaúchos Zelfa Silva e Gunnar Hagelberg, que mora na Argentina há 14 anos. ''Sempre quisemos conhecer a Antártida. Conseguimos realizar nosso sonho em 1997'', conta Zelfa. Desde então, ela voltou ao continente branco mais cinco vezes. Seu marido, outras seis.
A paixão pela Antártida é tanta que Zelfa tornou-se representante da Quark Expeditions na América do Sul, por puro hobby, e criou a Antarctica Cruises. ''Não dá pra viver disso, o número de vendas ainda é pequeno'', diz. A temporada turística no continente gelado é curta, de novembro a março. Os navios também são pequenos: têm, no máximo, 110 lugares e as reservas costumam ser feitas com até um ano de antecedência.
Para embarcar, não basta ter coragem de enfrentar o frio abaixo de zero. É preciso estar disposto a pagar valores que variam de US$ 2.995 (promocional) a US$ 17.195 sem a passagem aérea.
No roteiro mais, digamos, popular, os visitantes conhecem a Península Antártida, passam pelas Ilhas Shetland do Sul, com parada em Port Lockroy base de onde é possível mandar um cartão-postal pelo correio , com direito a banho de mar na Ilha da Decepção. Lá, cava-se um buraco na areia vulcânica para que os turistas possam entrar em águas com temperatura em torno de 2º C.
Carol Gleich, de 43 anos, foi além durante sua aventura no continente, em novembro. ''Fui andar e, quando voltei, a sessão de banhos já havia terminado. Decidi que não iria embora sem entrar no mar da Antártida e me joguei na água com temperatura abaixo de zero. Não senti nada'', revela. Só mais tarde ela sentiria o corpo queimando. Resultado: toda sua pele descascou. ''Mas valeu a pena'', garante.
Os resistentes navios não têm problemas para enfrentar o gelo antártido. A parte mais difícil da viagem é atravessar as águas agitadas da Passagem Drake, na junção dos oceanos Atlântico e Pacífico. ''É um lugarzinho bem mal-humorado'', brinca o engenheiro Eduardo Muller, de 48 anos, que viajou há um mês. ''O barco balançou durante dois dias.'' Mas isso não foi suficiente para tirar o brilho da viagem. ''Foi maravilhoso. Meus amigos nem aguentam mais me ouvir contando.''
Engana-se quem pensa que na Antártica a paisagem branca é sempre igual. ''Como não anoitece, fiquei empolgado em observar tudo. Me forçava a dormir o mínimo necessário'', conta Muller. ''A luz do sol incide de uma maneira completamente diferente à que estamos acostumados'', diz Carol. Para o gerente de Marketing Ricardo Oltramari, de 37 anos, que viajou há um ano, é difícil dizer o que mais marcou. ''Fiquei impressionado com o tamanho dos icebergs, gigantescos. É incrível'', relata.