Os fãs do universo mágico de Harry Potter estão cada vez mais distantes de uma linha de concordância, se o primeiro filme desta nova saga dos “Animais Fantásticos” foi melhor ou pior que o segundo. Agora eles já têm três para discutir, com a estreia mundial esta semana da terceira aventura da mina de ouro em escavação permanente pela escritora, corroteirista e produtora J.K. Rowling (confira a programação de cinema neste edição). É bom lembrar que Harry Potter protagonizou sete aventuras literárias.

Aí, desde a primeira cena, prevalecem os dois grandes antagonistas, Dumbledore e Grindelwald, respectivamente Jude Law e Mads Mikkelsen. Na verdade, eles raramente saem de cena, e quando isso ocorre o filme acusa essa distância. Quando aparecem, são naturalmente bons que não precisam de nada para brilhar, com Eddie Redmayne como contraponto e Dan Fogler como elo privilegiado com o espectador normal. Como num grande circo de magias, o quarteto faz o impossivel para entreter o público. Não é fácil, por outro lado, levar a sério as eleições gerais deste mundo mágico, uma democracia superficial. O populismo e a ameaça da tirania pairam no ar, com referências óbvias a líderes mais ou menos carismáticos que se deliciam em levar seu povo à guerra. Modelos de vilão atual, não há dúvida.

Ao invocar o fascismo e a guerra mundial que se aproxima (a ação se passa nos anos 1930, e nos leva à Berlim de Waimar) o filme está acenando para algo evidentemente maligno, e ainda assim, no final, você pode descobrir que o estilo de narrativa essencialmente sem compromisso da franquia cinematográfica, com suas resoluções em suspenso, funciona contra isso. Depois, há a questão do iminente universo Potter. Podemos ou não, encontrar os pais de Harry em breve. Conhecemos professores famosos de Hogwarts em sua juventude, embora, se presumirmos que “Harry Potter e a Pedra Filosofal” aconteceu por volta do final do século 20, poderíamos ponderar, com certo pedantismo, o fato de que isso faria com que os professores principais naquela época tivessem cerca de 100 anos de idade, numa solução “me engana que eu gosto”. A magia claramente preservando a juventude...

Imagem ilustrativa da imagem 'Animais Fantásticos' estreia em Londrina para animar o feriado
| Foto: Divulgação

E quando a disputa pelo poder começar, descobriremos mais sobre a vida pessoal do enigmático Dumbledore e seu relacionamento com o conturbado Credence (Ezra Miller). O segredo aberto da identidade gay de Dumbledore é explorado ainda mais, junto com seu efeito subsequente na geração mais velha e mais homofóbica; e seu relacionamento com Grindelwald é estabelecido na cena do diálogo de abertura, embora com uma espécie de contenção emocional falsamente calma e vazia. Esse relacionamento central parece ser, se não exatamente desapaixonado, certamente um caso de dor que ficou no passado.

E o próprio Grindelwald ? Ele é mais ou menos importante e malvado que Voldemort ? Bem, certamente Rowling tem tudo isso pensado, mapeado e contabilizado. Com o efeito ‘olhar mortiço” contido, Mads Mikkelsen oferece uma performance mais sutil e insidiosa que a de Johnny Depp, descartado pela produção em consequencia das acusações de violencia doméstica.

O filme é um longo entretenimento bem-humorado, embora haja algo sem peso e sem forma na narrativa.

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