O feriadão ganha ainda mais clima de magia com a estreia nacional de "Animais Fántásticos: os Segredos de Dumbledore", que está em várias salas de Londrina. Dá pra escolher horários e cinemas da preferência de cada um, com filmes dublados ou legendados e, claro, para quem aprecia interpretações genuínas, as versões legendadas são a melhor escolha.

Em atmosfera de coelhos e ovos de chocolate, "Animais Fantásticos 3" traz uma alegria a mais para quem aprecia bichos de todos os tipos, dos terríveis aos maravilhosos como o pequeno animal sagrado que tem o poder de decidir eleições na saga. Oxalá, tivéssemos no Brasil um bicho tão sábio assim, capaz de separar o bem do mal.

Drubledore (Jude Law) e o time de bruxos reponsáveis por manter o equilíbrio e o bem no mundo
Drubledore (Jude Law) e o time de bruxos reponsáveis por manter o equilíbrio e o bem no mundo | Foto: Warner Bross/ Divulgação

O filme é bastante politizado e adequado aos tempos em que o velho autoritarismo parece renascer com força das cinzas, com contornos fascistas e nazistas em vários países do mundo. Mas a seriedade do tema está bem diluída na produção mágica que nos devolve ao clima dos contos de fadas. O duelo bruxo entre Dumbledore (Jude Law) e Grindelwald (Mads Mikkelsen) é central na trama, mas Newt Scamander ( Eddie Redmayne) rouba a cena, boa parte do filme se passa em cima de suas ações de bom moço, preocupado em manter a vida da criaturinha mágica - que faz as vezes de urna eletrônica definindo pleitos políticos - e a salvação do mundo.

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MESTRES DO CINEMA

As interpretações são todas muito boas, nem há o que dizer sobre dois mestres da arte cinematográfica como Jude Law e Mads Mikkelsen - um dos atores mais expressivos do cinema contemporâneo que substituiu Johnny Depp no filme.

Dan Fogler no papel impagável de Jacob, um "trouxa" como nós
Dan Fogler no papel impagável de Jacob, um "trouxa" como nós | Foto: Warner Bross/ Divulgação

Mas também ganham destaque as interpretações de Jessica Willians como a Professora Hicks, o excelente Dan Fogler como o 'trouxa' Jacob, a bela Ezra Miller como Credence além, claro, da brasileira - e. ainda por cima, londrinense - Maria Fernanda Cândidono papel da bruxa Vicenzia Santos que brilha nas telas e se sai bem no desfecho do filme, vocês podem conferir, mas tem uma interpretação um pouco tensa. Pudera, para uma atriz acostumada a papéis densos não deve ter sido tão simples empunhar varinhas mágicas e seguir o cortejo de uma criaturinha sagrada que define eleições.

Ops! É preciso cuidar aqui para não dar spoiler.

A brasileira - e também londrinense - Maria Fernanda Cândido interpretando a bruxa Vicenzia Santos: personagem importante no filme
A brasileira - e também londrinense - Maria Fernanda Cândido interpretando a bruxa Vicenzia Santos: personagem importante no filme | Foto: Warner Bross/ Divulgação

CENÁRIOS DELUMBRANTES

Quem não é muito afeito à magia, nem mesmo no cinema, e ainda não foi convencido a assistir "Animais Fantástico 3" por achar tudo muito tolo, decerto pode ser atraído por um ponto alto do filme: os cenários, mais que isso a cenografia que induz à atmosfera misteriosa não só dos contos fantásticos, mas da Europa nos meados do século 20 - a série se passa entre 1920 e 1945, ano que termina a Segunda Guerra Mundial.

Mais do que os efeitos especiais, vísiveis em tantos filmes de mistério, ação e aventura, a ambientação dos banquetes às ruas das cidades, dos palácios às cavernas e portais de montanhas, é de cair o queixo. A escolha dos figurinos também revela um bom gosto propício a uma história de bruxarias, mas também de pompas elegantes

Assista ao trailer de

Animais Fantásticos: os Segredos de Dumbledore

TRANSFOBIA

O filme traz a revelação de que Dumbledore e Grindelwald tiveram uma relação amorosa no passado. Ponto muito comentado em cada crítica sobre o filme e que vinha "causando" antes mesmo da produção estrear. Os diálogos não têm nada muito explícito, embora sejam claros sobre a homossexualidade dos personagens. Mesmo assim, essa parte do filme foi censurada na China e a Warner Bross preferiu suprimir seis segundos fundamentais para a própria compreensão da trama do que perder um mercado de milhões de espectadores. Como se sabe, muitas vezes a grana das bilheterias fala mais alto do que os princípios.

De qualquer forma, a autora J. K. Rolling é coerente ao estabelecer no roteiro diálogos nem tão explícitos, afinal, se trata de uma ambientação no início do século 20 quando as questões de gênero eram bastante censuradas, basta dizer que cerca de meio século antes o escritor irlândes Oscar Wilde foi julgado e condenado por sua homossexualidade num tribunal que considerou seu comportamento uma "indecência grosseira."

Hoje, quando certos temas - como a transsexualidade - ainda são alvo de violência, a autora de "Animais Fantásticos" comete na vida real um deslize também grosseiro em relação aos gêneros ao negar a existência da condição trans em várias entrevistas e declarações. Isso lhe valeu muitas críticas, incluindo a de atores que interpretaram suas histórias no cinema como Emma Watson e Eddie Redmayne.

Assim, entre magias e varinhas de condão, o que cerca o filme também levanta polêmicas. Mas nada impede de fircarmos pelo menos por algumas horas no embalo da fantasia do cinema, mesmo sabendo que o mundo real nos aguarda com suas fobias, preconceitos e discriminação que vão necessitar de muitas eleições e movimentos políticos para superar o fascismo e suas derivações de violência contra os diferentes.

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