São Paulo, 06 (AE) - Poderia chamar-se "Uma Estranha no Ninho". Pois "Garota, Interrompida", de James Mangold, que estréia amanhã (07), não deixa de ser a versão feminina, para o ano 2000 e, portanto, politicamente correta, do filme de Milos Forman com Jack Nicholson e Louise Fletcher. O filme antigo era melhor, até por ser mais transgressor. Mas o atual possui qualidades que não podem ser desprezadas. A atuação de Angelina Jolie, premiada com o Oscar de coadjuvante deste ano, a da própria Winona Ryder. Elas (Angelina, principalmente) justificam a corrida aos cinemas.
Logo no começo, a personagem de Winona entra numa clínica para pessoas com distúrbios emocionais. Ela assina o termo de ingresso. Para todos os efeitos, está internando-se por livre e espontânea vontade. Lá pelas tantas, diz à psicanalista interpretada por Vanessa Redgrave que, se pôde entrar por sua vontade, também pode sair. Não, diz Vanessa. Quem vai decidir isso agora são os médicos. Winona faz uma paciente com personalidade dividida. É uma suicida em potencial.
A clínica tem todo aquele tipo de louquinhas mansas (e outras nem tanto) que se espera numa produção do gênero. A barra pesa com Angelina Jolie e a influência que ela exerce sobre Winona. Angelina vive entrando e saindo da clínica. Foge, mas não consegue ficar longe, pois, como diz a enfermeira criada por Whoopi Goldberg, lançou sua âncora naquele lugar. É incapaz de ter uma vida, um projeto para ela própria. E arrasta as outras com sua capacidade de destruição.
A história do filme é a de como Winona consegue achar seu caminho para sair do buraco. Um filme terapêutico. Há 25 anos, com "Um Estranho no Ninho", o checo, radicado nos Estados Unidos, Forman fez um duro ataque às instituições americanas. O asilo de loucos era metáfora do país, a enfermeira Louise Fletcher encarnava o poder, a força das instituições, num momento em que a América recentemente havia sido confrontada com o furacão da contracultura.
Whoopi Goldberg é agora a enfermeira e isso faz toda a diferença. Whoopi só pode criar uma personagem de afro-americana íntegra, digna. Em nenhum momento abusa de sua autoridade. Exerce uma influência regeneradora sobre Winona, a quem lança um olhar cheio de entendimento. Não é um filme ruim e às vezes até emociona, pois as atrizes são mesmo competentes. Mas, até pelos limites impostos pela ditadura do politicamente correto, nem de longe adquire a força do filme dos anos 70.
A estranha no ninho de Mangold é uma personagem que, com certeza, merece a estima do público, que compreende seu drama. Mas falta o impacto que fez de "Um Estranho no Ninho" um clássico da contestação numa época em que, de maneira geral, o cinema americano ousava mais. (L.C.M.)