Adauto Novaes, coordenador do Núcleo de Estudos, deixa a Funarte
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quarta-feira, 02 de fevereiro de 2000
Rio, 02 (AE) - Os ciclos de palestras da Fundação Nacional de Artes (Funarte), tradição nos meios intelectuais e acadêmicos do País, vão mudar de enfoque este ano, com a saída do coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas, Adauto Novaes, seu criador e um dos indicados para o Prêmio Multicultural Estadão como fomentador cultural. Novaes foi substituído pelo professor José Berta Freire, que realizará três ciclos este ano: "Nação e Região", "Gustavo Capanema e o Triunfo do Modernismo" e um terceiro, que percorrerá capitais européias, sobre o índio brasileiro.
Novaes conta que realizou 15 ciclos que deram origem a 13 livros e mais de 1.600 palestras. Alguns volumes, como O Olhar, A Paixão, Ética e O Nacional e o Popular na Cultura Brasileira viraram best- sellers. A partir de 1997, os ciclos foram encadeados sob o tema Brasil 500 Anos. Os três primeiros, "A Descoberta do Homem e do Mundo", "A Outra Margem do Ocidente" e a "Invenção e a Crise do Estado-Nação", compunham um painel do século 16, enquanto o último fecharia o ciclo falando sobre o conceito de liberdade.
"Acho difícil eles continuarem com a mesma filosofia mudando o organizador porque os ciclos que realizei tinham um encadeamento próprio, fruto de uma reflexão sobre o que íamos abordar e o que queríamos investigar", explica Novaes. "Diante das condições apresentadas pela Funarte, só me restava deixar os debates, mas pedi ao ministro da Cultura, Francisco Weffort, que mudassem o título dos ciclos para diferenciar o meu trabalho do que for feito por quem me substituir".
As condições a que se refere Novaes são a dispensa, à sua revelia, de seus dois assessores e a falta de explicação para o uso de uma verba de R$ 37.600 que sobrou do ano passado. Novaes disse o presidente da Funarte, Márcio de Souza, prometeu resolver essas questões, mas, como nada ocorreu, deixou a organização das palestras. Souza nega ter havido problemas com Novaes e alega que ele saiu porque se aposentou.
"Ao menos comigo, ele não teve problemas e sua saída não muda a essência dos ciclos", diz. "Quanto ao dinheiro que sobrou do ano passado, está sendo usado na organização dos próximos ciclos e veio em boa hora, porque nosso orçamento ainda está sendo votado", diz. "Não é verdade que saí por causa da aposentadoria porque trabalhei nos dois últimos anos, já aposentado, como prestador de serviços no MinC", rebate Novaes. "Só não continuei porque não é possível trabalhar sem haver confiança mútua entre mim e o presidente da Funarte". (B.C.S.)