ACORDES COMUNITÁRIOS
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sexta-feira, 27 de outubro de 2000
Ranulfo Pedreiro De Londrina
O Morro do Querosene, em São Paulo, assistiu a uma transformação lenta e contundente quando dois irmãos nordestinos fixaram residência no local. Criados em meio a tradições folclóricas, aos poucos ambos foram despertando na comunidade o espírito coletivo de festividades como o bumba-meu-boi. A manifestação, que surgiu no quintal, foi ganhando volume, se deslocou para a rua e, atualmente, é realizada três vezes por ano há pelo menos uma década no morro. Junto com a tradição, desenvolveu-se a cidadania e a consciência comunitária.
Um dos irmãos é o compositor maranhense Tião Carvalho, que está em Londrina participando do 7º Simpósio de Educação Musical, evento que faz parte do Festival de Música da cidade. Hoje, às 21 horas, Tião Carvalho se apresenta na Concha Acústica (se chover, o show será transferido para a Acil) com músicos do grupo Cupuaçu e participantes da Oficina de Danças Brasileiras, que ele está ministrando em Londrina.
Natural de Cururupu, norte do Maranhão, Tião Carvalho vem de uma família de músicos. Desde a infância agrega música e dança, enxergando as festas populares como instrumento de cidadania e de fortalecimento do senso comunitário. É um compromisso nosso com as pessoas e a comunidade de estar levantando esse tipo de bandeira, de levar essa alegria para São Paulo, uma cidade com inúmeros problemas sociais. Nós estamos reunindo as pessoas para fortalecer a cidadania e debater a cultura, comenta.
Tião Carvalho chegou a São Paulo em 1979, depois de sair do Maranhão para trabalhar com um grupo de teatro carioca, o Vento Forte. O grupo se mudou para São Paulo e Tião foi junto. Entre vários projetos encabeçados pelo músico, ao menos dois vêm se destacando: a Banda Mafuá e o grupo Cupuaçu. A Banda Mafuá agrega vários gêneros nacionais, como o forró, o frevo, a toada de bumba-meu-boi e o samba. O grupo já tem um CD lançado pelo selo CPC-Umes e vem ganhando projeção internacional em 1999 se apresentou no Festival de Montreux. O Cupuaçu também já possui um CD, lançado pelo Núcleo Contemporâneo, e se dedica quase exclusivamente às toadas de bumba-meu-boi.
Como compositor, Tião Carvalho é mais conhecido pela autoria de Nós, música que emplacou nas vozes de Cássia Eller, Ná Ozetti e Rosa Reis, além de fazer parte do repertório de Luiz Melodia.
Tenho toda uma tradição familiar por trás disso. Meu pai era compositor e cantador. Eu fazia parte de grupos de música, de teatro, de capoeira e dança, além de conviver com outras manifestações, trabalhando com movimentos mais espontâneos, mais naturais do ser humano. É um trabalho que consiste em consciência corporal e envolve a anatomia. Isso também é uma fonte de alimento como forma de organização, ressalta.
O trabalho de Tião Carvalho vem ganhando destaque numa época em que manifestações nacionais despertam interesses: o forró é uma febre entre universitários, o choro está atraindo instrumentistas e a viola brasileira conta com um rol atuante de compositores e intérpretes.
Eu faço parte desta geração, sou uma destas pessoas que puxam isso para a frente. Isso faz parte de um processo de abertura que não é só política, mas também social e cultural, completa.
O repertório do show de hoje traz várias músicas de João do Vale, uma homenagem de Tião Carvalho a um dos compositores mais importantes da música brasileira.
Tião Canta João Show com o compositor maranhense Tião Carvalho e músicos do grupo Cupuaçu. Hoje, às 21 horas na Concha Acústica (se chover, o espetáculo será transferido para a Acil, na Rua Minas Gerais, 297, 1º andar). A apresentação faz parte do 7º Simpósio Paranaense de Educação Musical, evento incluído na programação do Festival de Música de Londrina.