Mais do que uma guardiã dos livros, a biblioteca mantém uma relação de respeito, valorização e preservação das obras literárias, bem como de seus autores e leitores. Por trás da organização das prateleiras, o bibliotecário é figura também fundamental nesse processo e os documentos ali dispostos, de fácil acesso e manuseio - chegam e passam de mão e mão.

A difusão da informação e do conhecimento dão sentido ao feito. Em Londrina, a diretoria de bibliotecas disponibiliza no seu catálogo on-line: bibliotecas.londrina.pr.gov.br - com obras no formato digital e-books. Os livros estão no catálogo no lado superior direito “livros digitais”. O objetivo é possibilitar aos leitores mais acesso a literatura e a leitura nos diversos formatos.

No dia 18 de abril comemora-se o Dia da Literatura Infantil e em 23 de abril o Dia do Livro.

Do ponto de vista da diretora das bibliotecas públicas de Londrina, Leda Maria Araújo, é por meio da leitura que compreendemos a realidade. "A leitura é fundamental para formação dos cidadãos e para o desenvolvimento social". Doutoranda em Ciência da Informação e pesquisadora de políticas públicas para bibliotecas, livro, leitura e literatura, Araújo considera que celebrar o Dia do Livro é válido. "É necessário formar uma sociedade leitora e celebrar esta data é dar visibilidade para o livro, para a literatura, para o ato de ler", ratifica.

Sobre a relação das bibliotecas com a cultura de uma cidade, considera que a biblioteca é um dos equipamentos culturais mais antigos da história da humanidade. "Além de preservar os registros do conhecimento, a memória local, é um ambiente cultural. Neste sentido, as bibliotecas devem promover atividades que democratizem e medeiem o acesso às diversas linguagens artísticas e culturais para os mais diversos públicos para se tornarem cada dia mais dinâmicas, vivas, interativas, atendendo as demandas reais e potenciais da comunidade", afirma.

CIDADÃO DEVE APROPRIAR-SE DAS BIBLIOTECAS

Verdadeira entusiasta, a diretora das bibliotecas públicas de Londrina considera que a leitura permite novos olhares, descobertas e oportunidades. "A data é um marco de possibilidades de promover debates e reflexões para mais valorização da leitura". A relação de Leda com os livros serve também de inspiração. Ela conta que foi por meio do prazer pela leitura, da apropriação do conhecimento que trilhou o seu caminho.

Leda Maria Araújo: "Em Londrina, são sete bibliotecas, presentes em todas as regiões da cidade"
Leda Maria Araújo: "Em Londrina, são sete bibliotecas, presentes em todas as regiões da cidade" | Foto: Walkiria Vieira - Grupo Folha

Órfã de pai e mãe, revela que lia os gibis dos seus primos e foi se apaixonando pelo ato de ler. "Na minha escola não tinha biblioteca, mas a cada quinze dias, vinham livros em uma sapateira na sala de aula para leitura, depois de adulta descobri que era um projeto do governo do Estado chamado “Os livros criam asas”. As obras do Ziraldo, Ruth Rocha, Ana Maria Machado e Pedro Bandeira, foram as que marcaram a leitura na minha infância. Uma vez ouvi uma frase que dizia: “No mundo você compete com capital ou com conhecimento”, recorda.

Sua trajetória serve de referência e entre suas fontes de leitura - até os dias atuais - constam os jornais do dia. "Meu objetivo pessoal é contribuir para formar uma Londrina leitora" . Ela incentiva o cidadão a fazer melhor uso da biblioteca - no sentido de se apropriar dela. "Em Londrina, são sete bibliotecas, presentes em todas as regiões da cidade e vários projetos que estão sendo desenvolvidos nos formatos presencial e on-line: Contação de histórias, palestras educativas, exposições, concertos musicais, visitas mediadas, entre outros", destaca.

A diretora acredita que as políticas públicas possam contribuir para o incentivo à leitura e o uso das bibliotecas. A atual gestão tem trabalhado para que o digital e o analógico supram os leitores de forma harmônica. "São necessárias políticas públicas com diretrizes efetivas que fortaleçam as bibliotecas, a cadeia produtiva do livro e o fomento da leitura. "

Os irmãos Antonio, de 4 anos e Vicente,6: família já reconhece o gosto dos pequenos pelo hábito de ler
Os irmãos Antonio, de 4 anos e Vicente,6: família já reconhece o gosto dos pequenos pelo hábito de ler | Foto: divulgacao

A escritora Beatriz Campanha incentiva seus filhos Vicente Campanha Merim dos Santos, de seis anos e Antônio Campanha Merim dos Santos, de quatro, a ler e a folhear obras coloridas. "Penso que desde que o bebê aprende a manusear objetos é extremamente importante a familiarização com o livro. Aprendemos hábitos nos primeiros anos e adquirimos interesse por aquilo que nos é apresentado. Então o incentivo dos pais e a interação com a leitura , além de criar mais aproximação afetiva, desperta a admiração e hábito nas crianças de continuarem a ler nas próximas fases de amadurecimento", pensa.

Para Campanha, os livros são um dos primeiros meios de apresentação do mundo à criança. "Na educação, além de auxiliar no desenvolvimento da fala, memorização visual e interesse pela escrita e habilidades motoras como o desenho, despertam a criatividade e a imaginação", defende.

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS ENRIQUECE O VOCABULÁRIO

A sensibilidade do contador de histórias é uma das habilidades da atividade - e graças à sua percepção, o contador muda o rumo da prosa conforme as reações de seu público para manter sua atenção. O tom da voz, os gestos corporais, as pausas e o silêncio são ferramentas da prática.

Marcia Batista de Oliveira, professora e contadora de histórias do município: "É preciso estar por inteiro dentro da história para contá-la"
Marcia Batista de Oliveira, professora e contadora de histórias do município: "É preciso estar por inteiro dentro da história para contá-la" | Foto: Walkiria Vieira - Grupo Folha

A professora e contadora de histórias da rede municipal, Marcia Batista de Oliveira é formada em Letras pela UEL - Universidade Estadual de Londrina - e especializada em Literatura Brasileira, pós-graduada em Literatura Infantil, Contação de Histórias e Mestre em Literatura Brasileira. Ela considera que um dos principais trunfos da contação é incentivar a leitura, pois promove curiosidade. "De onde você tirou isso?" ou "Qual a origem dessa história?", são reações recorrentes.

No topo da lista de autores da contadora, seguem em ordem cronológica: Charles Perrault, Irmãos Green, Hans Christian Andersen, Monteiro Lobato, Ana Maria Machado e Ruth Rocha. Oliveira considera que pais e professores podem descobrir, na simplicidade, o quão bons contadores de histórias são. "Vista-se da história, ela precisa estar em você, então impregne-se dela", ensina. "Observo que as crianças e adolescentes não ouvem e estão com a fala reduzida. É possível e é preciso reverter esse processo", alerta.

A contadora fala de seu trabalho com propriedade. Sabe saborear as palavras, prende o olhar e entrega-se. Na contação, estimula o vocabulário, a capacidade de ouvir e a curiosidade. "As jabuticabas", de Monteiro Lobato, é uma das histórias mais prestigiadas pelo público infantil. Marcia narra Narizinho comendo e cuspindo, "Croft, poft", croft, poft..."

As onomatopeias enriquecem a interpretação em que Rabicó e Tia Anastácia dividem cena com Narizinho. Ainda que contando a história só para a repórter, na biblioteca quase vazia, recebe de uma usuária de passagem e observadora, um feedback. "É muito bom ouvir você falando"

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