Uma dramédia francesa que nunca decide se é feita para rir, para chorar ou para bocejar, o filme ''A Delicadeza do Amor'' - estreia desta semana na programação do Cine Com-Tour/UEL - marca o primeiro longa-metragem da dupla David e Stéphane Foenkinos, e decepciona justamente por se prender muito a artifícios técnicos, sem explorar corretamente a narrativa agridoce que a história propõe.
Logo na primeira cena, a câmera segue a protagonista Nathalie Kerr (Audrey Tautou) até o bar onde ela encontra - em um passe de mágica - o amor de sua vida, o galante François (Pio Marma‹). Quase que imediatamente, os dois se apaixonam, e somos levados por meio de saltos no tempo para eventos marcantes como beijinhos melosos, o encontro com os pais, o sucesso profissional de Nathalie e o pedido de casamento de François, feito na madrugada em uma rua Paris. Eles se mudam para um apartamento e vivem uma boa vida.
Não se preocupe, eu não contei o final do filme. Toda essa sequência fica espremida em meros 15 minutos de projeção. E as melhores partes do longa estão dentro desse tom leve e despretensioso na história. Para acabar com esse casal perfeito, François morre repentinamente; o problema é que, junto com o personagem, o longa começa sua própria marcha fúnebre em direção ao tédio inevitável.
Mudando a dinâmica da trama, os diretores não demoram para mostrar o próprio amadorismo em uma incoerência narrativa que - tentando escapar do clichê - acaba caindo, inevitavelmente, no clichê do anticlichê: montagens com telas divididas, linha do tempo inconstante, ângulos desnecessários e malabarismos estéticos que só servem para os novos cineastas gritarem para o público ''somos diferentes, temos uma visão própria do mundo'' mas que, na verdade revela que eles não sabem bulhufas do que estão querendo mostrar.
Além disso, a dupla ainda faz referência ao chamado 'realismo aumentado' vigente no cinema francês, mantendo um hábito irritante de pontuar cada cena com uma trilha sonora, mergulhando toda a história dentro de um clima videoclíptico; se a técnica é utilizada e bem justificada no ótimo ''Gainsbourg: o Homem Que Amava as Mulheres'', também serve como ponto de escape para produções medíocres, como ''A Guerra Está Declarada'' e este ''A Delicadeza do Amor''.
Outro erro fundamental está no casting do elenco. O novo interesse amoroso de Nathalie, e o grande, esquisito e bobo Markus Lundl (François Damiens) não convence por nenhum segundo, e a própria Tautou - apesar de segurar bem as cenas dramáticas - não tem sex appeal suficiente para encarnar uma femme fatale que o filme tenta transforma-lá.
Em resumo, a história vira uma massaroca que não é engraçada, não é triste, não é reflexiva, não é charmosa e não é tão inteligente quanto se assume. Essa incompetência fica ainda pior quando o filme tenta, abertamente, tirar 'sarro' das comédias românticas produzidas em Hollywood. Em certo ponto, o personagem de Markus briga com Nathalie afirmando ''você fala como uma americana''; depois, após assistir na TV um discurso motivador de Barack Obama, o casal dá um longo beijo em câmera lenta - este é um filme francês que debocha do chapéu de cowboy dos outros, sem reparar na própria boina furada.
Pelo menos, a tortura em que se transforma o arrastado ''A Delicadeza do Amor'' deixa uma lição valiosa para todos os pseudocults por aí: não importa o continente da produção - ou se os protagonistas falam fazendo biquinho - filme ruim é filme ruim, dans tout le monde.