Para quem não conhece, fica o convite: na próxima semana (somente segunda, terça e quarta), estreia na tela do Ouro Verde uma raridade entre nós: cinema africano, mais propriamente do Magrebe ou Magreb (em língua árabe, Al-Maghrib, que significa Ocidente), região noroeste daquele continente. O lançamento é ainda mais surpreendente e relevante porque na direção e à frente do elenco está Adila Bendimerad. Ela interpreta a Rainha Zaphira, mulher com força cativante; e no roteiro e atrás das câmeras apresenta virtudes narrativas e excelente gosto estético para a elaboração dos diálogos, dos planos e da construção das sequências. O filme – e quem assistir vai comprovar – promove uma fusão do sabor novelesco/ melodramático da trama, com os fatos históricos e com uma temperatura trágica entre Shakespeare e “As Mil e Uma Noites”, o que torna o produto final tanto interessante como agradável.

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Argélia, 1516. O pirata Barba Ruiva liberta Argel da tirania espanhola e assume o controle do reino. Há rumores de que ele assassinou o rei Salim, apesar da aliança entre eles. Contra todas as probabilidades, uma mulher o enfrenta: a Rainha Zaphira, viúva de Salim. A meio caminho entre história e lenda, a vida desta mulher é sua luta, o enfrentamento os conflitos pessoais e políticos que teve de passar pelo bem de Argel.

“A Última Rainha” tem uma abordagem mais novelística do que histórica da construção geopolítica do Norte de África e do Mediterrâneo, com personagens fortes e apaixonantes, feita com uma boa combinação de açao bélica com lírismo e espaço para o trágico. Por esse mix, o filme se torna diferente mesmo dentro do convencional.

Este é um filme ambicioso (apesar do baixo orçamento), e um drama histórico muito humano, que retrata lutas pelo poder, alianças políticas e traições do ponto de vista de uma mulher e mãe: a lendária Rainha Zaphira. A trama é dividida em atos, e cada um é apresentado com sua frase pertinente que faz alusão ao núcleo dramatúrgico da trama, tão moderno no tratamento da intriga, dos pontos-chave da história, e tão clássico na forma de narrar, mantendo o espectador colado ao enredo e ao apelo muito particular da excelente Adila Bendimerad, com uma interpretação soberana.

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