A solidariedade das nossas bandas

A pandemia isolou as pessoas e o entretenimento permanece suspenso. O palco vazio, a plateia ausente. Não há espetáculo sem espectador, isso é fato. Nesse cenário, uma rede de profissionais deixou de trabalhar e levar a seu público a diversão que tornava a rotina mais equilibrada. Além dos artistas que conquistam fama, admiração e são conhecidos por multidões, por trás de cada dupla, banda ou artista solo consagrado, há nos bastidores uma infinidade de artistas que atuam antes, durante de depois do evento -e que estão sem trabalho e sem dinheiro.

Longe dos bares onde se apresenta há 20 anos, o produtor musical e músico Niko Lopez sente-se fora do ninho. A expectativa pelo retorno é grande, ao mesmo tempo em que Lopez reconhece a saúde como uma prioridade e leva o isolamento a sério. O londrinense começou a cantar na igreja e a primeira banda foi formada na escola. Ele toca violão, bateria, contrabaixo, cavaquinho e considera-se uma artista eclético. "Sertanejo, reggae, forró. Estava com a agenda organizada até setembro", relata. "Fui muito afetado, estou sendo, assim como os demais músicos que produzo e demais profissionais desse meio que não são assalariados, ganham por trabalho. Sem os shows, não há entrada de dinheiro e toda uma cadeia acaba prejudicada." Ao mesmo tempo, Lopez aceita as imposições que vão ao encontro da contenção do coronavírus e aguarda esse tempo espinhoso com sabedoria. "Palco e minha voz, um sonho que nunca acaba", cita um trecho de uma canção de sua autoria que serve de motivação e boas energias.

Com efeito, o pensamento positivo traz frutos. Recentemente, Niko Lopez e a dupla Lucas e Cadu foram as atrações do evento Londrina Brahma Live. Perto de completar cinco anos de carreira, Lucas e Cadu explicam que o convite trouxe entusiasmo a todos e a apresentação ao vivo tinha como objetivo arrecadar fundos para a região de Londrina. Por meio de um QR Code, quem acompanhou a apresentação tinha a chance de fazer a doação de qualquer valor e ajudar as pessoas que estão passando mais necessidade nesse período. A apresentação de três horas ao vivo foi uma experiência muito especial para os três artistas. Sem o calor do público, eles contam que a equipe presente no estúdio foi essencial para ajudá-los, dando a todo tempo sinais de que tudo ia bem. Em relação à arrecadação, os músicos não conhecem os números do que foi arrecadado, mas consideram que foi muito positivo para quem estava em casa e para os músicos. "Fomos os primeiros regionais a fazer a live da Brahma seguindo todas as diretrizes das nacionais e para nós é um momento importante também porque integramos o entretenimento do bem", alegram-se.

Em recente apresentação ao vivo, a banda Senhor Bonifácio também se reuniu com segurança para ajudar o próximo. Foi no dia 23 de abril pelo youtube. O público virtual somou 11 mil acessos e toda a divulgação foi em prol do Lar Anália Franco. "Fazer música em plena pandemia não é um grande desafio. Mas é necessário. Não esperávamos esse resultado, foram mais de mil marcações nos stories no instagram e agradecemos. "Pra quem é de Londrina, para ter uma ideia, são 44 Flanningan´s lotados, 36 Valentinos lotados, um estádio do Moringão lotado". De acordo com a presidente da associação, Márcia Cavasin, fontes de renda como o bazar e a locação do ginásio estão suspensas. O Centro de Educação Infantil atende 180 crianças e no lar vivem 40 crianças de 0 a 18 e temos 28 cuidadores e seis técnicos. Ações como essas são muito bem-vindas e servem também para divulgar o nosso trabalho. O grupo Senhor Bonifácio agradeceu a adesão do público e destacou os apoiadores Flanningan´s Irish Pub Londrina, Folha FM, Heineken, João Gonçalves Produções, Ricardo Gogel e Sagio Som e Luz. "Sem vocês nada disso seria possível", agradeceram.

Volta ao palco com nó na garganta

A promoção de um evento inclui planejamento, divulgação,contratação de seguranças, profissionais responsáveis pela estrutura do palco, limpeza e serviços agregados como alimentação e bebidas. Além dos grandes eventos, a rotina de bares e restaurantes também foi atingida e os artistas que tocavam nesses espaços, estão sem atividade. Um exemplo é o compositor e musicista Bruno Devides. A agenda que antes tinha uma média de 36 a 38 shows por mês, da noite para o dia foi zerada. Com 18 anos de carreira, Devides explica que a dedicação profissional não permitia que exercesse outra profissão, embora tenha experiência como chef de cozinha.

Na última semana, fez sua estreia como motorista de aplicativo. "Sim, fiquei 34 dias sem fazer uma apresentação e isso reflete diretamente no orçamento", admite. Em contato permanente com outros músicos, Devides diz que há grupos pensando em vaquinhas online e todos são conscientes de que as atividades de entretenimento não irão retomar com a mesma intensidade. "Com a autorização da abertura de bares e restaurantes, eu me apresentei na choperia Lupulus na primeira semana." A distância do público deixou o músico com energia de sobra para esse reencontro, que teve sabor de reestreia. "Fui com muito gosto e chorei na primeira música, é nesses momentos que a gente vê como a música faz falta e havia um público razoável."

Ao som de "Garotos", de Leoni, o prestígio do público e a emoção do artista se transformaram num momento único e certamente marcou a vida dos presentes. "Teve o nó na garganta, mas 'Garotos' é uma canção boa para aquecer a voz e começar uma apresentação. É. Ninguém é de ferro e o espetáculo de volta mexeu com os sentimentos de todos, quebrou o silêncio e nos conduziu a uma composição de Bruno Devides, 'Barulho do Trem', do álbum 'Já Faz', de 2019, em que diz "Eu conheço muito bem o barulho do trem/Conheço também o silêncio do trilho".

Serviço:

Para ajudar o Lar Anália Franco (Av. Anália Franco, 33 - Fone: 43- 3325-8060)

Banco do Brasil Ag. 2755-3 C/C 4963-8

Caixa Econômica Federal: Ag. 1631 C/C 3105-2 003