“Que pedra era eu / na Idade da Pedra / Que pedra eu era? // Torna ao rio / assenta / e espera”.

Estes versos marcam o novo livro da cantora e compositora Neuza Pinheiro, “Tremulus”. A obra traz poemas que se assemelham a enigmas que caminham para a revelação no andamento das palavras. O lançamento acontece nesta terça-feira (19) na Vila Cultural Grafatório, às 19 horas, com pocket show da autora.

O livro vem acompanhado de um depoimento autobiográfico em que Neuza Pinheiro rememora a infância em Cambé, a adolescência em Arapongas, e o início na música cantando como ‘crooner’ na banda de baile de seu pai. Relembra sua participação no grupo de teatro Gruta dirigido por Nitis Jacon na década de 1970 e sobre seu encontro com Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé nos festivais universitários de Londrina. Um encontro que a levaria, posteriormente, a integrar as bandas de Arrigo e de Itamar como cantora.

A poesia entrou definitivamente em sua vida quando, na década de 1980, entrou em contato com Paulo Leminski e sua literatura. Lançou seu primeiro disco autoral, “Olodango”, em 2007. E seu primeiro livro de poesia, “Pele & Osso”, em 2010.

Publicado pela Grafatório Edições, “Tremulus” traz fotografias de Edson Vieira manipuladas através de processo analógico de sobre-exposição em chapas de raio-x. O resultado são imagens de reconfigurações que dialogam com o sentido da literatura da poeta e cantora.

A seguir Neuza Pinheiro, que recentemente voltou a residir em Londrina, fala sobre seu novo livro, “Tremulus”.

Ao ler os versos de “Tremulus” o leitor pode entender os poemas como enigmas que se revelam no andamento das palavras. Por que fazer da poesia um enigma?

É a vingança da palavra: responder ao Grande Enigma com enigmas infinitos. Quando um enigma se cria, o medo vai embora. Quando você lapida, o mistério se apresenta. E ao invés do dia, você cria o raio.

Você cria poemas para serem impressos no papel e poemas para serem musicados em canções. Você faz distinções entre uma coisa e outra?

Eu sempre quis aprender música através de partitura. Mas a vida, no seu ritmo estranho, me afastou daqueles pontos negros com pernas, rabinhos e tantos sinais, intervalos, silêncios... A vida me testou sob outros modos, outros instrumentos. Toda música que faço começa na poesia. Veja Leminski, o mágico, já traz o poema orquestrado, com cordas e sopros, música e dança e ‘tilins’.

Nos poemas de “Tremulus” cada palavra é usada para tecer um labirinto de linguagem. Uma das características de sua literatura é trabalhar com formas intrincadas e labirínticas?

Não consigo seguir por outro caminho. “Existirmos... a que será que se destina?”. Estar ultra conectado é preciso. Assim se vive agora. Um básico para sub-existir... Ou ser engolido pela criatura... Acontece que eu não acredito neste mundinho de felicidade apregoado pelas mega corporações com seus venenos. A era da inteligência artificial é um fato consumado. E, no seu máximo, a quem irá servir?

No depoimento que integra o livro, você diz: “A poesia é o meu fundamento. É a Pedra Branca, presente dos Deuses, onde se inscreve a Palavra Mágica, essa que abre todas as portas, protege de todos os perigos”. Que fundamento é esse?

Sim, a Poesia é o meu fundamento. E a Música. É a minha trincheira. Música. Poesia. Quando digo ‘pedra branca’, digo Espírito. Espíritos que voam, que cantam, como já dizia Beleléu: “E foi assim que eu encontrei o meu estado de espírito...”

Neste mesmo depoimento, você declara que após muito tempo, retornou a ser a “pedra emplumada” que era. O que seria “pedra emplumada”?

Vou responder com o poema que fecha o livro, jóias ao vento: “Tudo que a pedra / não sabe / este poema sabe / e doa. // É quando ela se levanta / e voa...”

Depois de uma longa temporada residindo em São Paulo você está retornando a viver em Londrina. Quais seus planos para essa nova fase?

Meus planos? Pousar. Olhar. Respirar o oxigênio da minha terra. Caminhar ao vento às margens do Lago Igapó. Cantar por aí. Organizar toda a minha produção, as composições, poemas... Registrar em CD o trabalho “Profissão de Febre” com poemas que musiquei de Paulo Leminski. E publicar mais um ou dois livros...

Imagem ilustrativa da imagem A poesia de Neusa Pinheiro: a pedra emplumada
| Foto: Divulgação

SERVIÇO

“Tremulus”

Autora – Neuza Pinheiro

Fotos – Edson Vieira

Posfácio – Patrícia Zanin, Tony Hara e Felipe Melhado

Editora – Grafatório Edições

Páginas – 128

Quanto – R$ 50

Onde encontrar – Site: www.grafatorio.com

Patrocínio – Promic - Programa Municipal de Incentivo à Cultura

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Lançamento com pocket show:

Quando – Teraça-feira (19, às 19h

Local – Vila Cultural Grafatório (Rua Mossoró, 483)

Entrada gratuita