Existem aqueles escritores que, trancados em seus escritórios, criam suas obras sem ver a luz do sol ou da lua. Existem também aqueles escritores que, perambulando por vales e montanhas, criam suas obras banhadas de sol e lua.

O poeta japonês Matsuo Basho (ou Bashô) pertence ao segundo grupo. Aqueles autores que percorrem a pé campos e florestas, atravessam por chuvas e ventos, encharcam os pés em rios e brejos e conseguem distinguir o som de um grilo dentro do rufar de um trovão.

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. | Foto: Reprodução

Basho nasceu em 1644, na província de Iga, filho de um samurai. Considerado um dos grandes mestres do haikai (ou haiku), teve uma vida errante viajando sempre a pé por todo o Japão. Haikai é uma concisa estrutura poética japonesa composta por três frases seguindo a métrica 5-7-5 (5 sílabas na primeira frase, 7 sílabas da segunda e 5 na terceira e última).

Em suas inúmeras andanças, Matsuo Basho sempre carregava um caderno onde escrevia poemas, diários e relatos de viagem. Publicados após sua morte em 1694, esses relatos de viagem se tornaram verdadeiras aulas de poesia oriental.

A editora Iluminuras está relançando esses cadernos em “Trilha Estreita ao Confim” com tradução diretamente do japonês realizada por Kimi Takanaka e Alberto Marsicano. O volume reúne três relatos de viagens: “Visita ao Santuário de Kashima”, Visita a Sarashima”, e o caderno que dá título ao livro “Trilha Estreita do Confim”.

As viagens eram matéria-prima para a prática poética de Basho. Baseado na observação da natureza ao longo dos caminhos percorridos, bem como na observação das estações e variações de intempéries, escrevia versos como: “Maravilhoso / O brilho do sol / nas verdes frescas folhas”. Ou: “Silêncio profundo / O sibilo da cigarra / Perfura as rochas”. Ou ainda: “Conchinhas e pétalas / Dançando misturadas / Rolando nas ondas”.

Colocar o pé na estrada era uma necessidade para o poeta conforme relata em “Trilha Estreita ao Confim: “Dias e noites vagueiam pela eternidade, assim são os anos que vêm e vão como viajantes que lançam seus barcos através dos mares ou cavalgam pela terra. Muito foram os ancestrais que sucumbiram pela estrada. Também tenho sido tentado há muito pela ‘nuvemovente’ ventania, tomado por um grande desejo de sempre partir.” E prossegue: “O outono já estava quase no fim quando voltei para casa às margens do rio Sumida após perambular pelas costas. Tive então tempo suficiente para retirar a poeira e arrumar as coisas. Porém, assim que a primavera começou a florescer nos campos, senti novamente o impulso de seguir errante sob os amplos céus de Shirakawa. Os deuses pareciam ter-me possuído a alma, e a estrada parecia convidar-me a novas paragens.”

Embora a edição relançada pela Iluminuras adote o título “Trilha Estreita ao Confim”, os relatos de viagens de Basho são mais conhecido com o título original de “Oku”. Outras edições e traduções brasileiras preservam o título original como “Sendas de Oku” publicado em 1983 com tradução de Olga Savary, “Oku – Viajando com Bashô” publicado em 1996 com tradução de Carlos Verçosa, e “Trilhas Longínquas de Oku”, publicado em 2016 com tradução de Meiko Shimon.

Os cadernos ou diários de viagens era o lugar onde Basho anotava seus haikais. Estão inundados de centenas de poemas escritos pelos lugares que passou e situações que presenciou. E esta é justamente o elemento mais importante da obra do poeta errante que dizia: “Se desejar saber de bambu, vá ao bambuzal. Se desejar saber de banana, vá ao bananal.”

Imagem ilustrativa da imagem A poesia de estrada nos diários de Basho

Serviço:

“Trilha Estreita ao Confim”

Autor – Matsuo Basho

Editora – Iluminuras

Tradução – Kimi Takanaka e Alberto Marsicano

Prefácio – Alberto Marsicano

Páginas – 130

Quanto – R$ 47 (papel) e R$ 27 (e-book)

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