Desde que despontou com a música “Sulicídio”, em 2016, Baco Exu do Blues causou certo incômodo no cenário musical. Também pudera: tocou em assuntos delicados e mencionou sem pudor outros músicos em trechos da composição como “Sem amor pelos rappers do Rio, nem paixão por vocês de São Paulo.” Nada falado à toa, já que o que ele queria era chamar atenção para além do que é produzido fora do eixo localizado no Sudoeste, no caso o Nordeste, seu berço natal. Não só conseguiu que de lá para cá não teve volta. Veio o sucesso, mas este acompanhado de duras críticas. Porém, o jovem de 22 anos, nascido e criado em Salvador (BA), aproveitou o momento e mergulhou de vez no universo musical e, tão logo, foi considerado nome revelação do rap com o lançamento do famigerado disco intitulado “Esú” e melhor música com “Te amo, disgraça”.

Baco Exu do Blues: “Eu procuro misturar as coisas que escuto até chegar em algo que tenha a minha cara”
Baco Exu do Blues: “Eu procuro misturar as coisas que escuto até chegar em algo que tenha a minha cara” | Foto: Roncca/ Divulgação

Tamanha repercussão lhe renderam mais olhares curiosos de todo país, elogios, mas, ainda, muita oposição e revide em forma de música de outros representantes do gênero que sentiram-se atacados. Lidou com a situação, não canta mais a música no show e driblou uma depressão. Não demorou e o rapper, pouco mais de um ano depois, lançou novo disco, desta vez, o “Bluesman”, que pode ser “sentido”, no vídeo de oito minutos, de mesmo nome. Ainda mais ácido e maduro, o trabalho já é considerado uma das promessas de 2019, para alegria dos fãs e “disgraça” da rivalidade surgida no meio.

Mesmo que não tem afinidade com o rap se diz atraído pelo som de Baco, que, com as rimas e as batidas compassadas do gênero como base, introduziu outros elementos sonoros em suas composições, trazendo uma espécie de apuro melódico, que não é muito usado neste gênero de essência repetitiva. A música do jovem rapper traz, então, um rap novo, com samples e inserções de samba, reggae, pagode, embalado num discurso social forte. De blues tradicional, propriamente dito, não há quase nada. No entanto, ele usa da metáfora no que chama de manifesto social que “a partir de agora, considero tudo Blues. O samba é blues, o rock é blues, o jazz é blues, o funk é blues, o soul é blues. Eu sou Exu do Blues. Tudo que quando era preto, era do demônio e depois virou branco e foi aceito eu vou chamar de blues. É isso: Jesus é blues.”

Quem quiser conferir este novo som, Baco desembarca em Londrina neste sábado (13), para o primeiro show dele na cidade, às 22h, no Escritório Bar.

Confira entrevista que o rapper concedeu à FOLHA:

Algumas pessoas acreditam que a música é fruto apenas da inspiração. Como é seu processo de criação das canções? Começa pelas letras e depois insere a melodia?

A música, geralmente, vem do nada, eu acredito muito nisso. Vem de uma frase que você lê, um pensamento que fica na cabeça depois de um filme. Um sentimento vem de qualquer coisa, de um movimento que você na rua, de uma foto. Então não sei dizer de onde vem exatamente e nem qual meu processo de criação, porque às vezes é muito confuso: vem primeiro a melodia, depois a letra; às vezes vem só a ideia, não vem nem a letra, nem a melodia.

Seu som mistura vários gêneros além do rap, que acaba sendo a base. De onde vem essa influência e como pensa a junção de todos eles na mesma composição?

Sai de forma muito mais natural que as pessoas pensam. Existe a vontade de fazer algo e ouvir a sonoridade que me agrada 100%. Então eu procuro misturar as coisas que escuto até chegar em algo que tenha a minha cara.

Em tempos de músicas com refrões de fácil memorização, como tornar assuntos sociais e políticos atrativos no campo da música?

Eu acho que a gente precisa mais de gritos de guerra de que qualquer outra coisa. E gritos de guerra são fáceis de gravar na cabeça.

Como enxerga o fato de dizerem que seu rap é mais popular, por agradar a mais pessoas?

Eu acho positivo. A tendência é cada vez mais o rap ficar popular e abranger mais pessoas. Eu fico feliz de estar nessa movimentação também.

Você vê muita mudança de trabalho no primeiro e segundo disco? Se sim, que tipo de mudança: som, instrumentos, melodias, enfoque, objetivo...

Eu vejo muita mudança no trabalho do primeiro para o segundo, porque o segundo tem uma equipe mais experiente e tem um Baco mais adulto que sabe o que quer e aonde quer chegar e fazer. Mas surge um garoto com fome para mostrar o trabalho para o mundo. Isso é genial. Mas é muito bom fazer algo aonde você quer chegar e chegar naquele lugar. Isso é maravilhoso.

E você, mudou a forma de ver a música e o mercado da música desde que a fama chegou?

O mercado da música, talvez. Mas, a música, nunca.

Estar no mainstream é importante para você? Isso garante mais visibilidade ao seu trabalho?

Tudo o que a gente não trabalha para manter é passageiro. Tem que manter o pé no chão, e a cabeça para cima para pensar em como continuar. No lugar onde estou eu vou lutar para não cair daqui, isso é uma certeza. Só ir para frente.

SERVIÇO:

Show Baco Exu do Blues

Quando: Sábado (13), às 22h

Onde: Escritório Bar (R. José Roque Salton, 33)

Quanto: A partir de R$ 35 (ingressos a venda pelo site Ingresso Nacional)