Maria Cláudia e a Fênix: um dos retratos pintados por Elisabete Ghisleni num cenário de maravilhamento
Maria Cláudia e a Fênix: um dos retratos pintados por Elisabete Ghisleni num cenário de maravilhamento | Foto: Elisabete Ghisleni/ Divulgação

A fase da negação passou - aquela que retratava a mulher carregando uma mala, indo embora inferiorizada, nua, sentada, pensativa e sem olhar para fora. As mulheres retratadas atualmente pela artista plástica e poeta Elisabete Ghisleni, olham para fora, transmitem sentimentos, têm emoção e são reais. Envoltas pela natureza, cercada de bichos e cores complementares que dão aconchego para os olhos - o verde com vermelho, o azul com o lilás - elas parecem dizer: "estou aqui".

Natural de Paranavaí, Ghisleni também é fotógrafa e explica que no período da pandemia causada pelo Covid-19, dedicou-se mais a pesquisar o processo da arte, sobretudo o traço e a cor. "Comecei a desenvolver uma perspectiva da figura feminina real, com expressão e dentro de um ambiente lúdico. O entorno pode não ser dentro da realidade, mas a figura, sim", enfatiza. As obras cercam as mulheres junto às coisas da natureza, com animais exóticos, animais que não existem, insetos de um mundo surreal e o resultado é uma explosão de cores, sentimentos e formas.

O retrato de Ana Cristina César, que morreu em 1983, foi um dos primeiros  feitos pela pintora, resgatando uma imagem conhecida da poeta
O retrato de Ana Cristina César, que morreu em 1983, foi um dos primeiros feitos pela pintora, resgatando uma imagem conhecida da poeta | Foto: Elisabete Ghisleni/ DIvulgação

Ghisleni explica que o trabalho começou com o retrato de poetas como Ana Cristina Cesar, falecida em 1983. Para tal, a artista habituada à pesquisa foi em busca de um padrão verdadeiro de grandeza. A blusa de listras que a poeta usa não é ao acaso, mas fruto de investigação: "Percebi na minha pesquisa como a força do designer é forte na linguagem contemporânea da arte e não somente a produção de rótulos, tecidos e fachadas", reflete.

A artista que estudou Arquitetura e se formou em História, carrega em sua bagagem influências enriquecedoras. A art noveau já trazia a imagem feminina entre texturas. E, não por acaso, o pintor francês Henri Matisse é uma das referências de Elisabete - da toalha florida do francês, faz-se o xale florido que orna os ombros, tronco e o ego da retratada. A moça com os dreads no cabelo, a japonesa, a índia, todas apresentam expressões no rosto e cada uma como sua identidade e feição. "É de dentro pra fora", expõe a artista.

Elisabete Ghisleni: retratos que trazem a expressão de dentro para fora
Elisabete Ghisleni: retratos que trazem a expressão de dentro para fora | Foto: Divulgação

Com as publicações nas redes sociais, começaram os pedidos. As mulheres queriam ter sua essência registrada por Elisabete Ghisleni, que é autodidata. "Quando desenho, medito, não há tempo para elucubração, é foco extremo. Chego a sonhar que estou misturando tintas, é um processo, e construo uma relação de afeto com cada obra." A artista faz também um vídeo do processo de trabalho e presenteia as retratadas. Radicada na área rural de Santa Isabel do Ivaí, a artista cria. "Tenho a liberdade de fazer uma folha com formas e cores próprias e vi que o resultado era como um encontro de alma, um sentimento muito bom e precisamos vivenciar o maravilhamento do cotidiano", reflete.