A ética em cena
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 30 de outubro de 2000
Regina Duarte chegou ontem a Curitiba, às 13 horas, vinda de Porto Alegre onde havia encerrado a temporada de Honra para os dois dias de apresentações em Curitiba. Ela conversou com a Folha2 no hall do Hotel Mabu. A seguir, trechos da entrevista:
Honra discute as relações humanas. Mas como são trabalhadas as situações de traição, de vítima, da vencedora?
O que acho lindo em Honra é que ela discute uma crise que é muito comum, que é milenar, a atração dos homens de meia-idade por garotas mais jovens. É uma coisa que ocorre sempre; as separações, que na era mais moderna é ocorrência bastante comum, e a peça coloca esse tema em discussão de maneira nova, à medida que não coloca ninguém no papel de vilão, nem no papel de vítima. Todos são seres humanos, sujeitos a emoções, vivenciando as perdas, as dores, as frustrações, sem se autodestruir e nem tentar destruir ninguém. Isso é o mais bonito na peça: as pessoas são passíveis de sentimentos que devem ser respeitados. O título da peça, Honra, tem a conotação de ética nas relações.
Como responde a sua personagem ao fim de um casamento?
A Norah, que é a minha personagem, é uma mulher que tinha uma carreira brilhante de escritora, mas optou de livre e espontânea vontade por se dedicar à filha e ao marido. Ela está muito bem aconchegada no seu casamento de 32 anos, achando que agora vai colher os frutos desse investimento amoroso que fez ao longo de toda uma vida, e é surpreendida pela decisão do marido de abandoná-la para viver um grande amor. Ela sofre muito com isso, luta bravamente para mantê-lo dentro do casamento, e aproveita também esse momento de sofrimento, de perda, de dor, de humilhação para crescer como ser humano. Aproveita para se redescobrir e se refazer como individualidade fora da simbiose do casamento.
É um balanço de vida...
É uma peça que fala com todos os espectadores de uma maneira profunda, propõe uma discussão séria, inteligente sobre comportamento e, o que é melhor, desperta uma identificação que faz com que as pessoas se emocionem até às lágrimas e riam com todo o humor que essa situação tem também.
Há, por assim dizer, uma dissecação dos personagens?
A autora disseca essa situação dramática em 18 quadros, nos quais sempre coloca dois atores em cena, como se se estivessem num ringue de box, debatendo idéias, confrontando emoções, sentimentos.
A honra final fica para quem?
Para todos eles, porque todos os personagens se utilizam dessa crise, dessa situação de dor, de perda, para crescer e evoluir como ser humano.
E em televisão, cinema: algum convite?
Tenho convite para fazer a próxima novela do Sílvio de Abreu em meados de 2001. É só o que eu sei por enquanto, não sei se das sete ou das oito. Volto depois de dois anos e meio meu último trabalho foi Chiquinha Gonzaga estou feliz de voltar à televisão numa novela de Sílvio de Abreu. Rainha da Sucata foi um dos meus grandes sucessos, a Maria do Carmo é um personagem que faz parte da galeria dos meus favoritos. (Z.C.L.)