Um filme baseado em fato de repercussão nacional e que ficou marcado na memória dos londrinenses. Esse é o ponto de partida do projeto cinematográfico "Assalto à Brasileira", baseado na obra homônima do escritor londrinense Domingos Pellegrini.

Quando o assunto entra nas rodas de conversa, uma das perguntas que coloca a memória para trabalhar é: "Onde você estava no dia do assalto ao Banestado?". O desfecho do assalto e o jogo da memória rendem.

O diretor José Eduardo Belmonte conferindo exemplares da FOLHA sobre a cobertura do assalto: "Na memória coletiva há um sentimento de identidade e isso me encantou nesta história absurda, mas que aconteceu"
O diretor José Eduardo Belmonte conferindo exemplares da FOLHA sobre a cobertura do assalto: "Na memória coletiva há um sentimento de identidade e isso me encantou nesta história absurda, mas que aconteceu" | Foto: Roberto Custódio

O ano é 1987. O local? A agência do Banestado, no Calçadão, tomada de assalto em pleno dia 10 de dezembro, data de intenso movimento à época, levando-se em conta que as agências bancárias concentravam praticamente todas as movimentações financeiras.

“Assalto à Brasileira” é uma coprodução da Galeria Distribuidora, Santa Rita Filmes e Grupo Telefilms. O longa-metragem desenvolvido pela Galeria, o roteiro é de L.G. Bayão e a direção é de José Eduardo Belmonte.

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LUZES, CÂMERA, AÇÃO

As gravações em Londrina estão programadas para este semestre e a população já está convidada a renovar os ânimos, uma vez que uma movimentação diferenciada poderá ser observada. O prédio da agência bancária onde o assalto aconteceu está fechada nos dias atuais e será toda reestruturada para as gravações - uma reconstituição desde a fachada ao mobiliário daquele período.

Logo, logo, passam a compor a cena londrinense profissionais de cinema reconhecidos. Na semana passada, por exemplo, estiveram na cidade o cineasta José Eduardo Belmonte, o produtor executivo da Santa Rita Filmes Marcelo Braga, seu gerente operacional, Felipe Duarte e o gerente de produção da Galeria Distribuidora, Gustavo Maximiliano.

O produtor Marcelo Braga com o diretor José Eduardo Belmonte vieram para Londrina e andaram pelo centro histórico onde vão rodar o filme
O produtor Marcelo Braga com o diretor José Eduardo Belmonte vieram para Londrina e andaram pelo centro histórico onde vão rodar o filme | Foto: Roberto Custódio

Além do elenco, atores, equipe técnica e produção, a participação dos londrinenses em cena é mais que bem-vinda. Então, fica o aviso aos figurantes: serão mais que necessários.

Pois, se do lado de dentro da agência eram 300 pessoas, do lado de fora a população compareceu em peso à porta da agência sendo estimado que 3 mil pessoas se acotovelaram durante as sete horas de negociação.

Num tempo em não havia whatsApp, o boca-boca conduziu os curiosos ao local, ávidos por assistir, com os próprios olhos, algo impensado no Norte do Paraná.

Sete assaltantes, sete horas, 1987, 14 reféns, sete dias de assalto. Do lado de fora e, contam populares, mais três mil pessoas gritaram a favor dos bandidos e contra o governo Sarney.

Era uma época de inflação alta e muita insatisfação com a economia do país. Os bandidos exigiram 30 milhões de cruzados, recolhidos de vários bancos da cidade. Após muitas horas de negociação, a quadrilha fugiu com um valor próximo do exigido e 14 reféns.

FATOS REAIS E LIVRE INSPIRAÇÃO

O produtor executivo Marcelo Baga considera que a cobertura da imprensa foi fantástica. "Ainda hoje, quando pegamos a Folha de Londrina, confirmamos isso e o jornalista Paulo Ubiratan, que atuou como um mediador no assalto, é um personagem também no cinema. Mas com um pouco de ficção," diz.

Até por isso, a equipe do filme, que tem o apoio da Folha de Londrina, esteve na redação do jornal revirando exemplares nos quais foram noticiados todos os lances de um assalto espetacular.

Paulo Ubiratan, que faleceu em outubro de 2010 aos 72 anos, no fatídico dia atuava como repórter policial da FOLHA e entrou na agência para atuar como uma espécie de mediador entre policiais e assaltantes. Mas no cinema, entra a pitada de ficção e ele estará no banco porque havia sido demitido.

"Simplesmente colocar o Paulo como uma cobertura jornalística seria o óbvio, então, criamos uma história: a chefe de redação o demite porque estava velho e não dava mais o sangue pelo jornal", conta No último dia do prazo, ele se dirige ao banco para sacar o fundo de garantia e tudo acontece.

O filho de Ubiratan, Bruno, na época tinha um ano, mas no filme estará em fase gestacional. "Assim, há os fatos, mas a ficção tem um papel importante. Detalhes que mudamos para enriquecer o enredo, por isso essa é uma história baseada em fatos reais livremente inspirada", afirma Braga.

O prédio onde funcionava a antiga agência do Banestado, no Calçadão, será reformado para as locações do filme com as características da época
O prédio onde funcionava a antiga agência do Banestado, no Calçadão, será reformado para as locações do filme com as características da época | Foto: José Roberto Custódio

O PAPEL DOS BANDIDOS

O modus operandi dos bandidos, leia-se improvisado, é um aspecto cinematográfico para o diretor José Eduardo Belmonte. "A maneira improvisada como agiram, a situação do País naquele momento foi como uma resposta ao descontentamento - que era de toda a população."

Então, de uma forma brasileira, os assaltantes foram colocados num posto de heróis. Felizmente não houve um final trágico. "E ficou na memória coletiva um sentimento de identidade e isso me encantou na história, uma história absurda, mas que aconteceu", diz Belmonte.

Um dos mais produtivos cineastas de sua geração, o diretor de "Assalto à Brasileira" soma mais de 30 anos de experiência e ao se apresentar diz serenamente que pode ser identificado como Zé Eduardo Belmonte.

Diretor artístico da TV Globo, esteve à frente de séries prestigiadas, como a versão televisiva de “Alemão” (2016), “Carcereiros”, lançada em 2017 e adaptada posteriormente para o formato de longa-metragem, e “As Five” (2020). “Carcereiros” conquistou o MIP Drama Screenings do Festival de Cannes como Melhor Série Internacional de Drama.

Em 2021, realizou o longa “O Auto da Boa Mentira”, uma antologia de contos do escritor pernambucano Ariano Suassuna. Com uma bagagem tão admirável e produtiva, demonstra um bom ânimo para os dias de gravação em Londrina e sente-se acolhido.

Observa os jornais impressos com encantamento. É certo que os arquivos já são um filme em sua cabeça. Tira o boné ao notar que será fotografado e brinca. "Isso é muito diretor de cinema".

Disposto a tirar fotografias, no centro histórico da cidade que é o cenário de seu filme, Zé Eduardo Belmonte pergunta antes onde pode comprar uma camisa do Londrina para levar de presente ao filho.

ELENCO: SEGREDO A SETE CHAVES

Embora à frente de uma produtora de porte nacional, Braga afirma que a chegada na cidade é uma satisfação. "Estaremos entre amigos e em Londrina nosso objetivo também é construir pontes e produzir o melhor possível. Trazemos expertise para somar ao conhecimento de vocês e vamos construir juntos uma grande obra."

Em relação ao elenco, adianta que é uma etapa de profundo planejamento. "É algo desafiador para toda produtora, mas posso garantir que o público irá gostar muito de cada nome que está sendo escolhido".

UMA HISTÓRIA FANTÁSTICA, UM ROTEIRO POTENTE

Em entrevista à Folha de Londrina, a diretora geral da Galeria Distribuidora, Clara Ramos, demonstra expectativas positivas sobre o projeto, bem como o produto original.

"Compramos os direitos do livro do Domingos Pellegrini "Assalto à Brasileira" e essa sempre pareceu para nós uma história muito fantástica - daquelas que você questiona se realmente aconteceram".

Motivada, convida inclusive aqueles que não leram a obra, a debruçar-se sobre ela. " Trata-se de um livro muito rico, muito bom porque coloca o leitor na atmosfera da época, relata como aquilo impactou a vida da cidade e como esse grupo improvável de assaltantes se juntam em uma missão."

Clara Ramos, co-produtora e distribuidora do filme:  "Compramos os direitos do livro  do Domingos Pellegrini "Assalto à Brasileira, a história é muito fantástica"
Clara Ramos, co-produtora e distribuidora do filme: "Compramos os direitos do livro do Domingos Pellegrini "Assalto à Brasileira, a história é muito fantástica" | Foto: Stella de Carvalho/ Divulgação

Assim, a partir de uma história real era preciso construir um roteiro. " Então, trouxemos para o projeto o roteirista L.G Bayão", revela com entusiasmo e explica: "Quando vamos adaptar uma história real, claro que os elementos da história real são importantes, mas também é importante que o roteiro tenha ritmo, drama e que faça o espectador se envolver de verdade naquela história."

Responsável por "Meninas Não Choram" e "Partiu América", estão entre os últimos lançamentos da Galeria "Papai é Pop" e "Fazendo Meu Filme".

A Galeria Distribuidora também é co-produtora e distribuidora de um case inédito no mercado cinematográfico local: ‘A Menina Que Matou Os Pais e "O Menino Que Matou Meus Pais", dois longas com pontos de vista diferentes sobre o caso von Richthofen. A trilogia sobre um dos crimes que mais chocou o Brasil foi concluída com o lançamento de ‘A Menina Que Matou Os Pais – A Confissão’.

Diante de um roteiro considerado muito potente, muito emocionante, Ramos expõe que a Galeria está contente com o resultado de "Assalto à Brasileira" até o momento.

Ela diz que filmar essa história em Londrina representa algo importante: "Porque na produtora há uma diversidade de filmes e gêneros e, além disso, queremos cada vez mais colocar na tela diferentes regiões do Brasil e diferentes jeitos de viver o Brasil. No nosso entendimento isso é importante para criar identificação e para que as pessoas se reconheçam", pensa.

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