Vivemos numa sociedade em que a ordem é determinada por posições. E assim foi desde sempre. Não é imperialismo, mas apenas uma maneira de dar regras a tudo aquilo que está em nosso mundo, para que obrigações e deveres sejam definidos com clareza. Respeitar é o reconhecimento desta ordem.

O embate entre o técnico Mano Menezes e o lateral Marcelo na última sexta-feira trouxe a público a dificuldade de técnicos de futebol hoje comandarem estrelas, que se julgam maiores que clubes e suas histórias. Os valores mudaram, papéis se inverteram e um novo tipo de relacionamento dificulta o poder de instituições.

Esta relação clube-jogador já teve união mais sólida quando um atleta tinha toda a carreira atrelada a poucos clubes, e isso era motivo de orgulho para ambas as partes. Não é mais assim. Hoje passar três a quatro temporadas numa mesma equipe já é incomum. Laços ficaram frágeis porque o jogador adquiriu poderes que o tornaram mais forte e independente. E isso o tem feito esquecer de algo básico na relação instituição-atleta: hierarquia.

E a comunicação neste novo cenário também influencia e favorece o jogador. A imprensa já teve mais acesso a clubes e isso ajudava acompanhar o dia a dia e dar amplitude nas conexões com o torcedor e o público em geral. Era a maneira também da instituição se relacionar com o meio. Hoje os clubes são fechados, a imprensa se baseia em versões e análises e o atleta tem canais próprios. Tudo virou um grande bolo em que a verdade se tornou um jogo de interesse dependendo do momento.

Quando o Fluminense decide rescindir o contrato com um ídolo, mostra que um produto nunca será maior que uma marca, que sua relevância é importante e histórica, mas que os papéis não podem se inverter em detrimento e risco de uma hierarquia. Em tempos de que todo mundo diz o que quer ou que sabe de tudo, o Fluminense dá um grande exemplo que a modernidade não vai eliminar a essência de qualquer relação: o respeito.