Na última sexta-feira, o ex-jogador Carlos Alberto Garcia foi ao treino do Tubarão no Estádio do Café. Chovia. Óculos embaçados e fala embargada (o que não é novidade para o Bem-Amado) foi anunciado pelo técnico Claudinei Oliveira aos jogadores do time com a frase: “rapaziada, vou apresentar pra vocês o maior ídolo da história do Londrina...”.

Não temos tradição de reverenciar a história. Fica lá registrado, mas há pouco reconhecimento. Garcia é de um tempo em que o jogador passava anos no mesmo clube. Fazia história e sabia da história daquele time, não só porque ficava mais tempo, mas também se interessava por quem tinha vindo antes e o que tinha feito.

Hoje, as passagens são curtas. Às vezes, não duram nem uma estação. Não há apego. Mas como pode um atleta se identificar com um clube, uma cidade ou uma torcida se não conhece seu passado? Sem dúvida, fica superficial.

Ainda há empresas em que ao novo colaborador é apresentado vídeo, cartilhas ou livros que contam a história daquela organização, para que o novo integrante possa sentir um pouco do que ele vai ajudar a dar continuidade.

O jogador de futebol hoje não dá entrevistas, não vai a programas esportivos e muito menos se insere na cultura da cidade em que vive momentaneamente. Vive por e para redes sociais. Não é crítica, mas são os tempos atuais. Quando Garcia pisa no gramado do Café e diz ao grupo de jogadores que “a posição de vocês hoje é tão importante que eu gostaria de estar no lugar de vocês...”, significa como essa representatividade é relevante. Não é só jogar, receber salário, vencer ou perder e seguir. É vestir a camisa de uma história única, que é a do Londrina.

Iniciativas como a da última sexta-feira fazem com que o Londrina possa ser diferenciado e levar também outros ex-atletas. Estes jogadores atuais e muitos outros vão passar, mas a história do Tubarão é gigante, e eles precisam saber do que estão fazendo parte, mesmo que neste período não deixem seus nomes em quadros ou troféus.

Só faltou o Garcia ser pé-quente.

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo - A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina