O nível do futebol de base é determinante para a qualidade do futebol brasileiro nos anos seguintes. Afinal, o que se produz na base será a essência da matéria-prima dos clubes. O roteiro seria mais natural se esses mesmos times não estivessem importando tantos jogadores sul-americanos e repatriando “veteranos”. Os jovens são vendidos e compram-se os velhos, e reclamamos que não há mais identidade no nosso futebol.

Os investimentos na base crescem, estrutura de profissional, times-empresa capitalizando cada vez mais, um mercado de bilhões. O futebol de base não é mais para revelar. É para vender, essencialmente.

Esse campo de oportunidade de negócios melhorou muito com atenção da CBF nos últimos anos, dando um calendário regular para o futebol de base. Copa do Brasil e Brasileiro, por exemplo, deram relevância ao trabalho e possibilitaram, ainda mais, que os times tratassem a base como a grande “galinha de ovos de ouro”.

Ao mesmo tempo, a ganância financeira de clubes e empresários está criando um amadurecimento prematuro. Como o mercado internacional ficou mais “voraz” buscando atletas já a partir dos 16 anos ou até menos, não dá para controlar e cuidar de tudo. E com isso, muitos talentos são perdidos nesse processo de formação, porque o tempo de desenvolvimento é diferente para cada um.

A Copa São Paulo evidenciou este cenário. Os grandes clubes, que utilizam os atletas sub-20 para o início dos estaduais, jogaram a competição com o sub-17, praticamente. Alguns surpreendem pelo futebol apresentado, mas a maioria ainda precisa de tempo para desenvolver fundamentos básicos, e isso atropela fases e encerra carreiras precocemente. A realidade pressiona o jovem de 17 anos já estar treinando com o sub-20 e o de 18 já estar treinando com o profissional. E aquele de 20 anos que ainda não está com o “time de cima”, já perdeu o bonde.

A Copinha de antigamente mostrava os jogadores que estariam brevemente no profissional dos seus clubes. Hoje, ainda continua sendo assim, mas aos 16 ou 17 anos.

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo - A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina