Uma semana depois do ataque, os momentos de terror ainda estão presentes na memória do jogador paranaense Higor Vidal e de sua esposa, Victoria. “Estamos emocionalmente desequilibrados, precisamos de um tempo para processar tudo o que tem acontecido. Temos surtos durante o dia”, relatou Vidal em entrevista à FOLHA. Natural de Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, o atleta de 24 anos teve o apartamento em que vivia na cidade de Petah Tikva, cerca de 15 quilômetros da capital Tel Aviv, em Israel, atingido por um míssil.

Prédio atingido por míssil na cidade de Petah Tikva, em Israel, onde Higor Vidal morou até voltar a morar no Brasil após os ataques
Prédio atingido por míssil na cidade de Petah Tikva, em Israel, onde Higor Vidal morou até voltar a morar no Brasil após os ataques | Foto: Gil Cohen Magen/AFP

A região vive uma tensão entre israelenses e palestinos, o que já deixou dezenas de mortos e feridos. O jogador estava em casa com a mulher, que está grávida de seis meses de David, no momento que as sirenes começaram a tocar, alertando sobre a possibilidade do ataque. “Israel tem uma proteção muito grande. Onde tem chances de cair mísseis já soa a sirene. Tinha tocado uma vez, duas e na terceira caiu o míssil”, relembrou.

Higor Vidal e a esposa, Victoria: abalo emocional
Higor Vidal e a esposa, Victoria: abalo emocional | Foto: Arquivo Pessoal

A família se abrigou numa espécie de bunker antimíssil que existe no apartamento e não se feriu. Já o imóvel ficou completamente destruído. Mesmo com toda a blindagem, foi possível ouvir os estrondos. “Foi uma explosão muito grande, sensação de um avião caindo ao lado. Escutava meu apartamento queimando”, contou. “Veio uma preocupação enorme pela responsabilidade que tenho com a minha esposa. Tentei ao máximo manter a calma, mas não era fácil, momentos de muito desespero.” Um vídeo mostrando os danos foi postado nas redes sociais.

Depois do episódio, o jogador acionou o Hapoel Petah Tikva, clube de Israel em que atuava há cerca de um ano, que comprou as passagens no mesmo dia. A volta para o Brasil também foi turbulenta. “Cheguei na casa do capitão do meu clube e começou outro ataque, tivemos que entrar no bunker. Antes de sair do aeroporto teve outro ataque. Quando chegamos em Dubai ficamos sabendo que depois do nosso voo os demais foram cancelados”, destacou. O casal desembarcou em São Paulo na sexta-feira (14).

Hoje, Higor Vidal e a mulher estão na casa dos pais do atleta, em Curitiba. Ainda assustado, tem encontrado na família um pouco de conforto para superar esta fase que ainda é de medo. “Vou procurar ajuda profissional, tratar tudo o que aconteceu, porque vi a morte de perto. Agora estamos anestesiados, passar um pouco com a família faz esquecer os sentimentos, mas sempre voltam as memórias daquela noite. É bem aterrorizante”, desabafou.

O meia foi revelado no futebol paranaense, passou pelas categorias de base do Santos, Paraná Clube e em 2015 vestiu a camisa do Londrina, no sub-19, antes de se transferir para o futebol internacional. Fora do Brasil defendeu times da Grécia, Lituânia e, por último, Israel. Como o contrato com o Hapoel Petah Tikva tinha uma cláusula de saída, acabou sendo encerrado com o retorno para o Brasil.

FUTURO

Livre para negociar, deixou o futuro profissional nas mãos dos agentes. “Voltar para Israel não é prioridade. Amo o país, o clube, a torcida é super fanática. Como tenho trajetória na Europa, tem possibilidade de voltar para lá ou até jogar no Brasil. Procurar, primeiramente, entender as vontades de Deus em nossas vidas”, comentou Vidal, que pediu orações para a família e pela paz entre Israel e Palestina.

CONFLITO

O atual conflito no Oriente Médio teve início em um bairro palestino na Jerusalém Oriental, fora dos muros da Cidade Velha, depois que um grupo de jovens tentou se rebelar contra o despejo de famílias palestinas pelo exército israelense. No entanto, em meio a este contexto de motins, o Hamas – grupo que detém o poder político na Faixa de Gaza – disparou diversos mísseis e Israel respondeu.

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