SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - "As crianças não sabem por que estão fazendo isso, estão sendo influenciadas pelos mais velhos."

A reação de Gareth Southgate, técnico da seleção da Inglaterra, demonstra o incômodo que causaram as vaias de torcedores da seleção da Hungria que estiveram neste sábado (4) na Puskas Arena, em Budapeste, antes do início do jogo entre as duas equipes vencido pelos donos da casa por 1 a 0. Estas vaias puderam ser ouvidas no momento em que os jogadores da seleção visitante se ajoelharam no gramado para o tradicional gesto antirracista.

O mais curioso do caso é que a Hungria cumpria neste jogo uma punição da Uefa por atos racistas e discriminatórios ocorridos nas partidas contra Portugal, França e Alemanha na última edição da Eurocopa. A seleção local teria que jogar três partidas como mandante com portões fechados, mas encontrou uma brecha no regulamento da Uefa para ocupar metade do estádio.

A entidade permite que partidas com proibição de público ofereçam ingressos gratuitos para crianças menores de 14 anos em idade escolar -a cada dez, um adulto como acompanhante. Isso fez com que o público da Puskas Arena fosse próximo de 30 mil pessoas para o amistoso contra a Inglaterra, sendo a ampla maioria de jovens.

Foi esse público que vaiou o gesto antirracista dos jogadores da seleção inglesa, como publicaram jornalistas do país nas redes sociais. Southgate disse ter ficado confuso com a atitude dos torcedores.

"Em primeiro lugar, isso [de os jogadores se ajoelharem] é o motivo pelo qual fazemos isso, para tentar educar as pessoas ao redor do mundo. Não tenho ideia de por que as pessoas escolheriam vaiar o gesto. As crianças não sabem por que estão fazendo isso, estão sendo influenciadas pelos mais velhos", afirmou o treinador ao Channel 4. Na sequência, ele se recusou a comentar a decisão da Uefa de permitir torcedores num jogo com portões fechados.

Os jogadores da seleção inglesa se ajoelham no gramado desde 2020 antes de todos os jogos que disputam e já foram vaiados em diversos países. Na Inglaterra, há vaias abafadas por aplausos, mas o grupo decidiu manter a mensagem contra a discriminação com apoio de Southgate. Harry Kane, capitão da equipe, usou uma faixa com as cores do arco-íris na partida de hoje.

A Hungria tem como primeiro-ministro Viktor Orbán, representante do segmento da extrema direita.

Dentro de campo, a Hungria venceu por 1 a 0 com gol de Szoboszlai e encerrou uma sequência de invencibilidade da Inglaterra que durava 22 jogos. Foi a primeira vitória sobre os ingleses desde o dia 31 de maio de 1962, na Copa do Mundo.