Um estrangeiro na seleção
Um técnico estrangeiro poderia contribuir, de verdade, nesta mudança se viesse para se envolver com todo o futebol brasileiro
PUBLICAÇÃO
domingo, 02 de abril de 2023
Um técnico estrangeiro poderia contribuir, de verdade, nesta mudança se viesse para se envolver com todo o futebol brasileiro
Júlio Oliveira
Parece que chegou a vez do Brasil ter um técnico estrangeiro dirigindo a seleção de futebol masculina. Há quem seja eternamente contra e quem admita que não temos profissionais a altura do que pede o futebol moderno. Discordo de radicalidades. Penso que o projeto precisa ser maior do que simplesmente um nome.
Vejamos a seleção feminina de futebol. Há uma comissão técnica não brasileira há quase quatro anos, que implementou sistemas interessantes para que o futebol feminino pudesse evoluir no país e, consequentemente, abastecer a seleção. Sim, não tem a pressão do futebol pentacampeão, nem movimenta o valor financeiro e nem a mesma paixão controladora de um país.
Se formos olhar técnicos estrangeiros que comandaram seleções de futebol ao redor do mundo, vamos encontrar passagens por pequenos ciclos, de quatro anos ou até menos. Normalmente, técnicos de resultados e pouco interesse em desenvolvimento em toda uma estrutura. E o Brasil, está procurando um estrangeiro para resultado ou para desenvolvimento?
Até 2014 tínhamos na seleção a maioria de jogadores que atuava fora do país, mas sendo protagonistas em seus times. Para as duas últimas Copas, esse cenário continuou o mesmo em atletas atuando fora do Brasil, mas nenhum protagonista. Não há nenhum brasileiro sendo o principal jogador em qualquer que seja o clube na Europa. Neymar, no PSG, até era antes do título da França em 2018 e a ascensão meteórica de Mbappé e a chegada de Messi, mas depois...
Se os brasileiros já não são mais estrelas internacionais, o quanto um técnico estrangeiro vai contribuir para a seleção olhando só o exterior? O quanto precisa ser um estrangeiro só porque os principais estão no exterior? Só o fator técnico-tático pesa para a escolha do novo técnico?
Sim, o futebol mudou, mas a essência será sempre única. O que o brasileiro tem, ninguém nunca terá. Se perdermos essa rara característica, estaremos nos igualando ao resto do mundo sem olhar para o que produzimos: criatividade e talento.
Precisamos evoluir em estudo e disciplina para resultados diferentes, mas que pode ser feito de outras formas. Um técnico estrangeiro poderia contribuir, de verdade, nesta mudança se viesse para se envolver com todo o futebol brasileiro. E não acredito, independente do nome, que isso aconteça.