TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) - Japoneses foram a um ponto turístico de Tóquio nesta sexta-feira (23) para celebrar a abertura das Olimpíadas de 2020. Deixaram de lado até o estado de emergência e o pedido do governo para evitar aglomerações.

O público se concentrou em um local que também é ponto de concentração de sem-teto da capital. Esses ficaram totalmente indiferentes ao evento.

No feriado do Dia do Esporte, decretado pelo governo do país para esta sexta, milhares compareceram ao Parque Yoyogi, no bairro de Shibuya, para assistir a uma apresentação de aviões da força aérea nacional. Uma tímida e curta exibição, como forma de dar boas vindas às Olimpíadas.

Com o calor de 35º C e cansados das restrições impostas pela pandemia da Covid-19, japoneses se aglomeraram no parque. Vários tinham máquinas fotográficas e alguns carregavam sensores para medir, pelo som, quando as aeronaves se aproximavam.

Em busca de visão mais apurada, os moradores também ocuparam a passarela que interliga o parque ao Ginásio Nacional de Yoyogi, onde ocorrerão as competições de handebol das Olimpíadas.

Nas ruas, no parque ou nas passarelas, algumas famílias, com crianças, sentaram-se no chão e almoçaram à espera da apresentação.

Além da aglomeração, havia uma grande quantidade que ignorava o uso de máscaras. A exibição durou menos de cinco minutos, e os japoneses começaram a deixar o parque em seguida. Quem chama o local de casa, permaneceu.

Naomatsi não diz o sobrenome nem a idade. Também não quer falar sobre como se tornou sem-teto em Tóquio porque "é uma questão pessoal". Deitado em um fino colchonete azul no meio do Parque Yoyogi, ele está a cerca de 300 metros do ginásio que vai receber eventos olímpicos.

"A gente quer que essas Olimpíadas acabem logo", afirma Naomatsi, para em seguida sorrir com uma boca de dentes enegrecidos.

Em caminhada rápida pela região, a reportagem encontrou dez moradores de rua. Todos homens e com aparência de mais de 40 anos. O número é subestimado. Segundo Naomatsi, há muito mais.

"Centenas de pessoas moram aqui neste parque", diz ele, consciente de que a partir deste sábado haverá a presença de atletas internacionais na região.

Pouco antes de ser abordado, Naomatsi dormia, assim como todos os outros vistos pela reportagem. À noite, eles circulariam pelas redondezas. Estavam acostumados a ter mais espaço, mas a segurança olímpica restringiu o acesso a algumas partes do parque.

Em outros locais de Tóquio, os sem-teto se concentram em marquises de estações de metrô ou em viadutos.

Relatos de moradores de rua dizem que nos últimos anos, desde o final da Rio-2016 e o início da preparação para a Tóquio-2020, a prefeitura local tem procurado tirá-los de locais turísticos. Para o Parque Yoyogi, eles sempre voltam.

Não nos mesmos números de antes, segundo Naomatsi, mas retornam para dividir o espaço com corvos que fazem um barulho incessante enquanto voam de uma árvore para a outra.

A reportagem tentou abordar outros sem-teto, mas eles não quiseram falar.

A Sanyukai Homeless Center, uma organização apoiada pela Câmara do Comércio nos Estados Unidos no Japão, passa uma vez por semana pela região e distribui comida enlatada, água e roupas para eles.

As autoridades presentes no local apenas observavam a movimentação, tanto dos espectadores do show aéreo quanto dos moradores de rua. Um contraste à medida que a organização veta a presença de público na cerimônia de abertura, no estádio Olímpico, assim como nas competições, como forma de evitar proliferações de infecção pelo coronavírus.

Há uma estimativa que, no máximo, mil convidados estejam no festival da abertura. O Brasil terá quatro representantes no estádio: o chefe da missão e vice-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Marco La Porta, a judoca Ketleyn Quadros e o jogador de vôlei Bruninho --ambos porta-bandeiras da delegação--, além de um oficial administrativo a ser definido.

Nem mesmo o presidente do comitê, Paulo Wanderley, irá ao estádio.

"A decisão foi tomada levando-se em consideração a segurança dos atletas em cenário de pandemia, minimizando riscos de contaminação e contato próximo, zelando assim pela saúde de todos os integrantes do Time Brasil", afirmou o COB, em nota.