SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Presentes em cada uma das 76 temporadas da NBA, Boston Celtics e Golden State Warriors são dois dos times de história mais rica na liga norte-americana de basquete. Os Celtics acabam de atingir sua 22ª final. Os Warriors vão jogar sua 12ª. E apenas uma vez eles se encontraram na grande decisão.

Parte disso é explicada pelo fato de que os Warriors jogaram em Philadelphia até 1962 e, na mesma conferência dos Celtics, só podiam enfrentá-los em fases anteriores. Mas, desde que se mudou para o Oeste e virou californiana, a equipe raramente fez coincidirem seus melhores momentos com os da formação de Massachusetts.

O único encontro, em 1964, foi parte da histórica rivalidade entre os pivôs Wilt Chamberlain e Bill Russell. Chamberlain, como de costume, apresentou estatísticas impressionantes na série melhor de sete, com 29,2 pontos e 27,6 rebotes por partida, mas, como também de costume, o Boston de Russell levou a melhor: 4 a 1 sobre o San Francisco Warriors.

Os pivôs já não são os donos do jogo, ao menos não os tradicionais, como Wilt e Bill. Hoje são decisivos os arremessos de três pontos, que nem existiam na final de 58 anos atrás. E foi muito graças a eles que o Golden State Warriors (assim nomeado em 1971, na mudança para Oakland, nome mantido na volta a San Francisco, em 2019) se estabeleceu como potência na última década.

Com Stephen Curry e Klay Thompson, possivelmente os dois maiores arremessadores da história, o time chegou a cinco finais consecutivas entre 2015 e 2019, ganhando três delas. Aí, Kevin Durant, presente nos dois títulos mais recentes, saiu, e Thompson sofreu lesões que o afastaram por duas temporadas.

Nessas duas temporadas, o Golden State nem sequer se classificou à fase final, os "playoffs". Em 2019/20, teve a pior campanha de toda a liga. Mas conseguiu se refazer com a chegada de Andrew Wiggins, a ascensão de Jordan Poole e o retorno de Thompson, chegando à sua sexta final em oito anos -algo que só Los Angeles Lakers, Boston Celtics e Chicago Bulls haviam conseguido.

"Começamos o ano com bastante esperança e confiança, algo que não tivemos nos dois anteriores. A gente sentia que tinha a chance de voltar à briga, os jogadores sentiam isso também", disse o técnico Steve Kerr. "Depois de ficar fora dos playoffs por dois anos, todo o mundo chegou com fome. Começamos já com força, com muita conexão no time, muita camaradagem."

Houve problemas de lesão ao longo da campanha, a terceira melhor na Conferência Oeste. Foi só nos mata-matas que a equipe se mostrou mais saudável, o que lhe permitiu um caminho relativamente tranquilo até a decisão, com superioridade clara sobre Denver Nuggets (4 a 1), Memphis Grizzlies (4 a 2) e Dallas Mavericks (4 a 1).

Já a trajetória do Boston Celtics na temporada foi bem acidentada. Dirigida por um técnico estreante, Ime Udoka, começou o campeonato com 25 vitórias e 25 derrotas e estava em oitavo lugar no Leste. Daí em diante, ganhou 26 vezes, perdeu só seis e avançou com a segunda colocação da conferência.

O time é o primeiro em 41 anos a chegar à final depois de ter um aproveitamento de no máximo 50% nos 50 jogos iniciais -o Houston Rockets atingiu dessa maneira a decisão de 1981, na qual foi derrotado pelo próprio Boston. Se forem campeões, os Celtics serão os primeiros a vencer após tal começo.

Pelo direito de enfrentar os Warriors, eles passaram com facilidade pelo Brooklyn Nets, de Kevin Durant, por 4 a 0. Daí em diante, tiveram séries extensas contra o Milwaukee Bucks, que defendia o título, e o Miami Heat. Nos dois confrontos, venceu o jogo 7 para sobreviver e subir ao palco que é bem conhecido da equipe, mas não de seus jogadores.

Dezessete vezes campeão da NBA, o Boston tem a chance de se isolar como o maior vencedor, deixando para trás o arquirrival Los Angeles Lakers. Porém nenhum dos atletas que hoje defendem o time verde e branco tem experiência na decisão. Pode ser um problema diante de um adversário veterano, mas a juventude, claro, também tem suas benesses.

O ala Jayson Tatum, 24, é dez anos mais novo do que o destaque do Golden State, Stephen Curry. Draymond Green, 32, outra figura-chave dos Warriors, companheiro de Tatum no time olímpico dos Estados Unidos no ano passado, disse ao jovem que ele tem chance de ser o melhor jogador do campeonato (MVP) na próxima temporada.

O principal parceiro do ala é o também ala e também jovem Jaylen Brown, 25. O armador Marcus Smart, 28, é o grande responsável pela marcação e foi eleito o melhor jogador de defesa da liga. A rotação tem no pivô Al Horford, 35, seu veterano, que, após 15 anos na NBA e 13 temporadas de "playoffs", vai finalmente disputar uma final.

"Foi difícil chegar até aqui. Tipo, de verdade", disse Tatum. "Tivemos momentos realmente difíceis ao longo da temporada, momentos em que você... não que você duvide de si mesmo, mas você questiona, sabe, você se questiona: 'Podemos fazer isso?'. Você começa a perceber quão difícil é ganhar. Mas você tem que confiar em si e no trabalho, porque não vai chover para sempre."

Choveu em Boston nos últimos anos. Havia claro potencial no grupo construído pouco a pouco, com atletas que iniciaram sua carreira na NBA já com a camisa verde. Mas os resultados decepcionavam, e o técnico Brad Stevens resolveu virar dirigente. Como cartola, jogou as fichas em um treinador novato, Ime Udoka, 44, aposta questionada que vem dando muito certo.

Como em quadra, o duelo dos bancos terá uma grande diferença na experiência. Steve Kerr, 56, é o comandante do Golden State desde a temporada do título de 2015. Tricampeão, ele foi incluído na lista dos 15 maiores técnicos da história da liga. Agora, busca sua quarta taça, que seria a sétima dos Warriors e os deixaram isolados em terceiro na lista dos campeões, à frente do Chicago Bulls.

Dono da melhor campanha entre os finalistas, o time de Kerr faz as duas primeiras partidas em sua casa, em San Francisco. A série vai na sequência a Boston para mais dois jogos. Em seguida, se necessário, haverá um duelo em cada ginásio. O confronto se inicia às 22h desta quinta-feira (2), com transmissão da ESPN e do serviço de "streaming" Star+.