Textor é peça central do Botafogo na conquista da Libertadores
Empresário norte-americano foi decisivo ao comprar SAF da Estrela Solitária e investir pesado em reforços
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domingo, 01 de dezembro de 2024
Empresário norte-americano foi decisivo ao comprar SAF da Estrela Solitária e investir pesado em reforços
Luís Curro - Folhapress

São Paulo - Futuramente, quando torcedores do Botafogo relatarem a conquista da sua primeira Copa Libertadores, obtida neste sábado (30) diante do Atlético-MG, além de citar e enaltecer jogadores como Luiz Henrique, Almada, Savarino e Igor Jesus, proferirão este nome: John Textor.
O Glorioso conquistou sua primeira taça no continente de forma dramática - teve o volante Gregore expulso aos 30 segundos de jogos - superando o Galo por 3 a 1, gols de Luiz Henrique, Alex Teles e Junior Santos. Vargas descontou para o time mineiro no jogo disputado no Monumental de Núñez, em Buenos Aires, com maioria de torcedores botafoguenses que invadiram e fizeram muita festa na capital Argentina.
Textor não fez gols nem os evitou, não deu passes decisivos, não tocou na bola em nenhum jogo.
Mas é personagem central, desde o começo de 2022, do clube carioca, que no ano anterior disputara a segunda divisão do Campeonato Brasileiro e acumulava dívida superior a R$ 850 milhões.
Textor, 59, é o manda-chuva do Botafogo. Assumiu esse papel quando, depois de a agremiação adotar o modelo de SAF (Sociedade Anônima do Futebol), adquiriu 90% de suas ações. Não é o presidente do clube, cargo ocupado por Durcesio Mello, mas é quem manda no futebol.
Dono de uma fortuna que supera US$ 1 bilhão (perto de R$ 6 bilhões), o empresário norte-americano, que também controla o Lyon (da primeira divisão da França) e o Molenbeek (da segunda divisão da Bélgica), falou neste mês sobre a opção pelo time alvinegro.
Mencionou o passado de glórias - um dos apelidos do clube é Glorioso -, obtidas na maior parte nos anos 1960, na era de ídolos como Garrincha, Nilton Santos, Didi, Manga e Jairzinho.
"Eu olhei para outros clubes, mas aí vi a história deste clube. Pensei: 'É a chance de trazer este clube de volta, de tentar devolver pelo menos uma parte da glória que os torcedores costumavam sentir'."
E colocou até Deus no meio: "Temos que mostrar ao mundo como somos especiais, como clube e torcida. Sinto que fui escolhido para isso, que Deus me colocou neste momento".
A ascensão veio acompanhada por investimento financeiro.
O contrato de compra da SAF do Botafogo estabelecia que Textor, cuja atuação empresarial é centrada nos ramos de tecnologia e entretenimento, precisaria investir no mínimo R$ 350 milhões no período de quatro anos. Até agora, o aporte superou os R$ 300 milhões.
O dinheiro permitiu a contratação neste ano do meia-atacante argentino Thiago Almada e do atacante Luiz Henrique, que estavam, respectivamente, nos Estados Unidos e na Espanha. O custo para trazer a jovem dupla (ambos têm 23 anos) passou de R$ 220 milhões.
Entre outros, chegaram ainda o volante Gregore, o meia-atacante Savarino e o atacante Matheus Martins. E, sem a necessidade de compra dos direitos, desembarcaram no Rio o meia Óscar Romero, o atacante Igor Jesus, o goleiro John, o lateral Alex Telles e o zagueiro Barboza.
Futebol é negócio, e Textor não esconde que pode vender alguns atletas de destaque, comprometendo-se, contudo, a repor as perdas com reforços.
O título do Botafogo na Libertadores faz de Textor a figura mais bem-sucedida quando se olha para o modelo de SAF no Brasil. São mais de 60 os clubes a adotá-lo -a paulistana Portuguesa é o mais recente.
Os avanços ou retrocessos administrativos variam de caso a caso. Percebeu-se progresso nos gramados, em diferentes patamares, de equipes "de camisa" como Bahia, Cruzeiro e Fortaleza. Por outro lado, Atlético Goianiense e Cuiabá estão rebaixados, com antecedência, no Brasileiro.
O Botafogo deixou o Brasileiro escapar em 2023, quando era líder com 13 pontos de vantagem sobre o Palmeiras, que se tornaria o campeão. Ali se iniciou grande rivalidade com o time alviverde, que obteve incrível virada por 4 a 3 sobre a formação alvinegra no caminho para o título.
Ao mesmo tempo que o seu time caía na tabela, Textor passou, de forma contundente, a criticar a arbitragem e a falar em corrupção e em manipulação de resultados.
Fez acusações à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e a jogadores de outros clubes, que teriam atuado de forma a ajudar o Palmeiras a ganhar partidas, o que resultou em processo na Justiça esportiva e em posterior depoimento, neste ano, à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, no Senado.
Textor não teve sucesso, com o tribunal desconsiderando o relatório que apresentou contendo supostas evidências que comprovariam seu discurso. A CPI está em andamento.
Agora, mais de um ano depois de ter chamado o Brasileiro de "piada", o empresário está perto de ver o Botafogo conquistá-lo, quebrando um jejum de 29 anos.
A duas rodadas do fim, o time é líder, com três pontos de vantagem sobre o Palmeiras --o time alvinegro bateu o adversário alviverde na semana da decisão da Libertadores e já o eliminara na própria Libertadores.
Dizem que "há coisas que só acontecem ao Botafogo", em referência a fracassos retumbantes.
O título na Libertadores mostra que a frase pode continuar valendo. Mas em sentido oposto.
Jogadores do Botafogo dedicam título a Gregore, expulso no início da final
Colegas de equipe de Gregore, expulso no primeiro minuto da final contra o Atlético-MG neste sábado (30), dedicaram a conquista do primeiro título do Botafogo na Copa Libertadores ao volante.
"Todo o mundo correu muito hoje. Um jogo muito difícil com um jogador a menos desde os 40 segundos. Uma final com toda a emoção. Incrível o que a equipe conseguiu. Isso é para o Gregore também, um cara muito importante para nós. Uma jogada desafortunada o deixou fora da final, mas é para ele também. Ele merece mais que nós. É um cara top e estamos felizes por ele também. Fizemos história, isso não se apaga mais", disse o zagueiro Alexander Barboza.
Alex Telles, autor do segundo gol do Botafogo, mencionou as dificuldades que a equipe enfrentou em 2023 e disse que os jogadores sabiam da responsabilidade na final em Buenos Aires, após uma série de frustrações.
"A cada vez que a gente avançava no Brasileiro e na Libertadores, carregava esse peso. A gente está em campo respondendo aos torcedores, e o clube merece, os jogadores que estavam aqui hoje, também. Eu falei que a gente ganharia por eles. Ao Gregore, que saiu expulso, eu falei: 'Nós vamos ganhar por você'", afirmou o lateral esquerdo.
"O Botafogo é campeão da Libertadores. Aguentem ou surtem", completou.
Gregore disse que sentiu desespero depois de ter sido expulso e reconheceu o apoio que recebeu de outros jogadores. "Foi um lance rápido. A bola passou e, quando virei, já fui fazer a ação. Estiquei a perna e acabei acertando a cabeça do Fausto. Fui infeliz. No trajeto deixando o campo, os jogadores já falaram que correriam por mim", afirmou.
"Fiquei desesperado. Deixar o time com menos um é complicado. Queria estar dentro de campo, mas estou muito feliz por tudo o que vem acontecendo com o clube."
O técnico português Artur Jorge, que havia dito que a final da Libertadores seria a partida mais importante da sua carreira, chorou depois da vitória e, com uma bandeira de Portugal, dançou sob os gritos da torcida. Depois de levantar o troféu, bebeu uma cerveja no gramado.
Já o zagueiro argentino Rodrigo Battaglia lamentou a derrota do Atlético-MG e pediu desculpas à torcida. "A gente não soube aproveitar um jogador a mais. Quero pedir desculpas e agradecer a todo o público. Vieram para a Argentina para nos apoiar."

