SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os jogadores do Red Bull Bragantino almoçavam em Bragança Paulista (80 km de São Paulo), na quinta-feira da semana passada (30), quando nove deles ouviram pedido para se apressarem.

A sete horas do início do jogo das quartas de final do Campeonato Paulista, contra o Corinthians, eles teriam de ir à capital imediatamente fazer novos testes de Covid-19 no Hospital Israelita Albert Einstein.

Dois dias antes, 26 exames realizados pela mesma instituição no elenco, comissão técnica e funcionários tiveram resultados positivos (entre eles os dos nove atletas).

A mulher de um jogador titular da equipe, grávida, se isolou do marido e passou a noite seguinte chorando, pelo medo de ter sido contaminada. Um empregado do clube havia feito uma festa familiar de aniversário no domingo anterior para o filho, que é asmático, e ficou apavorado.

A Folha ouviu nos últimos dias atletas e outros funcionários do Red Bull Bragantino, pessoas ligadas à FPF (Federação Paulista de Futebol) e um médico do Einstein sobre o erro do hospital que atrapalhou a preparação da equipe para a fase eliminatória do torneio. Eles não quiseram ser identificados na reportagem.

A cúpula do hospital convocou uma reunião emergencial para tratar do problema e temia a repercussão principalmente pelo fato de o adversário do confronto ser o Corinthians. Também poderia ter prejuízos na parceria firmada com FPF e CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para os testes do Paulista e do Campeonato Brasileiro.

Diante do número de resultados positivos na terça (28), os dirigentes do clube pediram ao Einstein que refizesse os exames. A solicitação foi inicialmente negada, com o argumento de que os procedimentos estavam corretos e não havia razão para repeti-los.

O presidente da federação, Reinaldo Carneiro Bastos, entrou em contato com o hospital e ouviu que ter 26 diagnósticos positivos era algo normal.

Preocupado com os resultados e com o estado emocional dos jogadores, que foram isolados dos demais companheiros e das suas famílias, o Bragantino os levou para novos testes em outras instituições.

Às 7h manhã de quarta (29, véspera da partida), eles estavam no laboratório Cura, em São Paulo. Em seguida, foram ao Fleury Medicina, no Hospital Sírio-Libanês. Refizeram os testes nos dois centros de diagnóstico e todos deram negativo para Covid-19.

Enquanto isso, o técnico Felipe Conceição debatia com seus auxiliares e dirigentes o que fazer com os jogadores diante da dúvida: relacioná-los para enfrentar o Corinthians ou não?

Na quinta pela manhã, o clube informou ao Einstein sobre os resultados negativos. Segundo funcionários do clube ouvidos pela reportagem, a institução resistiu, mas diante da insistência aceitou realizar novos testes.

Os atletas, então, foram retirados do almoço, colocados no ônibus que transportaria a delegação para a partida e levados para o hospital.

A unidade do Morumbi do Einstein fica a cerca de 1,5 km do estádio do São Paulo, onde aconteceu o jogo vencido pelo Corinthians por 2 a 0.

Os nove jogadores do Bragantino chegaram no estádio cerca de 1h30 antes do início da partida. Os resultados do novo teste no Albert Einstein também haviam sido negativos.

O hospital foi notificado pelo Procon na terça-feira (4) e tem até o final desta sexta (7) para responder três questões principais: qual o nome da empresa responsável pela elaboração dos testes, o motivo que levou ao diagnóstico equivocado e qual a probabilidade de ocorrerem novos erros como esses.

Segundo Fernando Capez, secretário de defesa do consumidor de São Paulo, caso o hospital não consiga se explicar poderá receber uma multa de até R$ 10 milhões, calculada com base na gravidade da infração e no faturamento do Albert Einstein.

"É inadmissível que ocorra um erro na testagem de 26 pessoas ao mesmo tempo em um dos maiores hospitais do mundo, e quando se sabe que a prevenção é importantíssima para ajudar no combate à doença", diz Capez.

Procurado pela Folha, o Einstein, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que responderá aos questionamentos do Procon dentro do prazo. Em nota, disse que, após processos internos, identificou dois lotes específicos de reagentes importados com instabilidade de funcionamento, "provavelmente os responsáveis pelos resultados divergentes".

Também confirmou que, após os resultados positivos na terça (28), atendeu ao pedido do Bragantino e realizou novos testes na quinta, dia do jogo. "No novo processamento, essas amostras resultaram negativas."

"A fabricante, uma empresa internacional, foi imediatamente notificada sobre a ocorrência e os lotes com desempenho atípico foram retirados da rotina de exames do laboratório do Hospital Israelita Albert Einstein", informou.